Capítulo II: Cochilo.

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Pareço uma criança que acabou de ganhar um brinquedo que queria muito, minhas íris brilham e minha boca está entreaberta com um sorriso.

— Obrigada! — Uma soldado passa por mim, carregando uma bazuca sobre o ombro, como se a arma de destruição fosse um cotonete. — Porra, eu quero ser assim quando eu crescer.

Ouço a risada de König em minhas costas, rapidamente estou decorando a cadência de sua respiração. Ele respira de forma ofegante e nervosa, porém pesada o suficiente para que eu ouça aqui embaixo.

— Eu te entendo. O treinamento aqui é fantástico e as pessoas também são incríveis!

Nós caminhamos um pouco mais, sem rumo, com König me dizendo quem são as pessoas que estão nas fotografias das paredes, ou de quem é a estátua de um idoso pelado perto de um dos banheiros masculinos; até que sorrio, hesitando por alguns segundos, enquanto escolho as palavras certas.

— König... Já que estamos na base, em nosso horário de almoço, sem nada para fazer, você gostaria de vir comigo para o meu quarto, só um pouquinho? Eu realmente estou sentindo falta de Märkyg, mas acho que sem ajuda não vou conseguir chegar até ele.

O encaro enquanto espero sua resposta, temendo ter ido longe demais numa relação superficial de menos de meia hora, ou que esteja parecendo pouco profissional. São tantas opções que me levariam a nunca mais vê-lo, que até me assusto.

Os olhos de meu acompanhante sorriem, aparentemente ele não está nem mesmo perturbado, pela natureza repentina do convite. Ele fecha uma mão, deixando apenas o dedo indicador e o médio em riste, toca a testa com a lateral dos dedos, como se me desse adeus com um aceno de cabeça.

— Claro, seria um prazer conhecer Märkyg! Talvez até pudesse preparar uma refeição para você. O que acha?

A empolgação e o alívio estão em um estado quase palpável ao meu redor. Ele cruza os braços outra vez, tento não reparar em como o tecido de sua camisa de mangas longas quase rasga com o movimento.

— Seria uma honra! — Olho os arredores. — Acho que fica para o Leste... na verdade, não faço ideia da direção, só me lembro que o meu é o quarto 135.

Sinto vergonha por estar confusa, coço meu queixo por sob a bandana, transpassando a bandoleira de minha M4 por meu peito, para que a arma repouse em minhas costas e minhas mãos fiquem livres.

— 135? Que coincidência! Meu quarto é o 136! Somos vizinhos de porta! — Ele ri e o encaro incrédula, um pequeno sorriso brincando em meus lábios.

— Sério? Caraca, que legal.

Sinto uma pequena e inexplicável empolgação com a ideia de poder vê-lo a qualquer hora. Tão inexplicável que me sinto até estranhamente incomodada com essa empolgação.

König me guia pelos corredores longos, salas cheias de armas e computadores, áreas abertas, quadras para prática de esportes recreativos, dormitórios abarrotados de soldados, e jardins de inverno solitários, com flores murchas, secas ou quase mortas; até o corredor onde meu quarto se encontra.

Por ser mãe, tenho direito a uma acomodação maior e que não precisa ser compartilhada. Meu "quarto" tem três cômodos: sala de estar, quarto com banheiro, e uma cozinha. O que me leva a pensar se König também é pai, pois o quarto em frente ao meu também é uma das acomodações "especiais".

Há apenas quatro quartos em cada lado do corredor, todas as acomodações dessa ala são consideravelmente maiores então não sobra tanto espaço para fazer seis quartos de cada lado, como nos dormitórios "comuns".

Destranco a porta, mas quando vou abri-la, König coloca a mão sobre a maçaneta e, com um braço dobrado atrás das costas, a abre, indicando com um sorriso nos olhos que devo entrar antes dele. Eu o faço, agradecendo silenciosamente com um aceno de cabeça.

𝟺𝟾 𝙷𝙾𝚁𝙰𝚂 𝙴𝙽𝚃𝚁𝙴 𝙰𝚂 𝙰𝚁𝙴𝙸𝙰𝚂 𝙳𝙴 𝚃𝙰𝚁𝙰𝚀.Onde histórias criam vida. Descubra agora