O orfanato Wool

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Eu sou Tom Marvolo Riddle...

Tudo é escuro, me sinto seguro mas não é surpresa já que quando tem luz os meninos mais velhos gostam de me perseguir, aqui tenho certeza que estou seguro, no porão, mesmo que o frio do inverno me faça tremer é só mais um lembrete que estou vivo e...e seguro.

Tenho 5 anos, moro no orfanato Wool, não tenho amigos, os outros pararam de brincar comigo depois que Luca disse a todos que eu sou um demônio –eu não entendi o porque ainda– por isso minha mãe tinha morrido –eu não lembro– por isso sou mais inteligente e que todos iriam se machucar se chegassem perto demais.

Eu chorei e fiquei com raiva mas eu esperava que alguém viesse e dissesse que era mentira mas a matrona olhou pra mim e não disse nada, poxa eu não queria estar só mas todos pareciam ter ido embora.

Eu cresci um pouco e me acostumei ao silêncio, a ficar no jardim na sombra de alguma árvore - a mais afastada se possível- pra manter distância dos outros pra que não rissem ou pra que não me jogassem pedras, as outras crianças não são como eu, até elas notaram.

Como vim parar aqui? Justo no porão? É uma história curta e dolorosa pra mim e para aquele verme - não sou mais capaz de chamar aquilo de humano- denominado Luca. A uma semana atrás eu estava no jardim de trás e ouvi sussurros, demorei 10 minutos pra entender que não era realmente humano mas uma cobra e quase entrei em pânico - EU ESTAVA OUVINDO UMA COBRA FALAR.

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~friosss essssta friosss- não parecia inglês, fechei os olhos desejando que não fosse real.
~ quem sss esssssta aí sss?- perguntei, esperando não estar louco por ouvir chiados misturados com inglês.
~ un falantesss nunnca vii um- falante? Fui tirado dos meus pensamentos por uma cobra saindo do arbusto do meu lado, regulei as batidas do meu coração acelerado.
~ o que és un falantesss?- conhecimento é poder, foi o que o bibliotecário disse pra mim quando viu o roxo que umas das pedras jogadas em mim fez.
~ vocêsss falan a nosssa lingua ss- quem? Ok respira isso não te faz ser mal, só diferente. Deixei que ela continuasse mesmo que fosse estranho.
~ não exissstem muitosss massss ssão poderososs,o messstre quer sssaber de algumma coisssa?- mestre? Deus isso é novo, não sei se gosto.
~ messstre? Porque ssme chamadas asssim?- digo impaciente.
~todossss osss falantesss ssão messstress messtre- isso me pegou de surpresa, tento raciocinar de forma correta.
~sse eu sssou ssseu messstre não haverásss outrosss- falei da forma mais firme que eu consegui.
~ comoss meu ss messstre dessssejar-
~ esssteja comigoss sssempre- era uma cobrinha de jardim, pequena e sem veneno, eu gostei dela, agora é minha.
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Cinco dias depois convivendo com minha pequena cobrinha sem nome, me apeguei a ela - eu sou uma criança, me condene - e embora eu não quisesse que ela estivesse longe de mim, ela ainda teria que caçar já que aqui a comida é escassa. Foi em uma dessas que Luca a viu enrolada em meu pescoço, ele se assustou e saiu correndo até achei engraçado o jeito que ele quase caiu no meio da corrida e eu sorri, coisa que não acontecia muito, os outros até acharam estranho minha pessoa estar sorridente mas preferiram me ignorar, como sempre.

No dia seguinte ao acordar eu encontrei minha pequena cobrinha jogada no chão perto da porta do meu quarto...estava com o corpo esmagado, com a cabeça decepado. Eu me assustei, ela estava morta, minha mente nublou, eu senti raiva, tristeza e ódio. Peguei uma caixa qualquer e recolhi com cuidado os restos, coloquei o uniforme e fui pro jardim, enquanto passava pelo corredor os outros olhavam pra mim e sussurravam sobre cobras e filhos do mal que eu era o demônio, isso me enfureceu, as luzes começaram a piscar a cada passo que eu dava; os gritos me tiraram do meu torpor, andei mais rápido, enterrei a caixa atrás dos arbustos onde a encontrei, ela veio dali e para ali ela retornará.

Os dias que seguiram foram estranhos, eu estava anestesiado, não sentia nada e se sentia era raiva e um outro sentimento que eu nunca entendi, era como se fosse um puxão, uma energia que me fez sentir vivo, não era claro, era um cinza tão bonito - eu tinha visto- estava no quarto quando, deitado em minha cama muito entediado, pensei em ler algo quando novamente o puxão apareceu e o livro que estava no armário flutuou até minha mão. Eu estava assustado, então joguei o livro na parede, minutos respirando e lembrei de que sou diferente, resolvi aprender a controlar a diferença. Ergue as mãos e desejei que desse certo, fiz de tudo até imaginei que o livro estava mas minhas mãos, não deu certo, algo estava errado, eu estava com raiva e meu coração acelerado, me repreende e me acalmei e depois de muito cansaço mental e físico o livro realmente estava nas mãos mãos.

A parte ruim? Luca viu e contou para a matrona que eu estava fazendo coisas estranhas do demônio, a consequência? Bem, eu estou trancado no porão a 4 horas e acho que já é noite.

Pelo menos eu sei que aqui é seguro... longe dos que perseguiam, longe dos que me jogavam pedras, longe do Luca, longe da matrona.

Aqui é seguro...escuro e frio mas seguro...seguro.

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Obrigada por lerem, espero tenham gostado pelo menos um pouquinho.

Eu sou - T.M.R.Onde histórias criam vida. Descubra agora