O padre

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Não sei que horas são mas acordei com barulhos de pisadas e vozes - continua escuro aqui - se aproximando, quando a porta abriu senti meus olhos fecharem com força, senti minha nuca me fazendo chiar pela dor - a luz não era boa, ela doía.

_ Esta ai padre, ele fez coisas estranhas, demoníacas e faz barulhos estranhos, e um dos órfãos viu ele fazendo rituais satânicos, por favor padre nos livre do demônio - a voz da matrona carregava angústia mas ela não é assim, normalmente ela só gritava, eu sei que ela me chamou de demônio mas eu não entendi o que o padre iria fazer, eu frequentava a igreja todos os domingos com todos os outros, eu conheço o padre assim como os outros e se ele veio aqui me ver então todos já sabem.

_ Devemos amarrar suas mãos juntas como se ele fosse orar - eu vi o padre acender uma lâmpada a óleo e duas velas, eu vi seu rosto que parecia gentil mas carregava uma cruz de madeira em seu pescoço e uma uma maior de prata estava em sua mão.

Estava fraco, não comia desde que fui colocado aqui por das cuidadoras que murmurava algo sobre purificação.

Me colocaram de joelhos, eu estou com medo, o que o padre está murmurando parece a oração em latim mas na verdade só reconheço algumas palavras.

Algo em mim se contorceu,senti novamente um puxão, as duas velas se apagaram e no susto eu me mexe, foi uma péssima decisão, o padre também se assustou parecendo pensar que fui eu, quer dizer fui eu...mas ele não precisava saber!

A próxima coisa que notei foi minha bochecha começar a arder, meu grito e a frase que mais ouvi durante toda a minha infância:

_ Seu demônio - seguida da frase que mais ouviria na minha vida
_ Eu vou tirar o demônio de você!

Minhas bochechas estão molhadas e eu não sei se é sangue ou lagrimas, estou com medo e eu não gosto disso, o padre está pedindo que eu reze e entre soluços eu o faço. A cada gota que ele atirava contra mim eu me assustava, acho que a cadeira se debatendo é minha culpa mas não estou fazendo nada.

Quando o baque da cadeira caindo chamou atenção do padre, acho que ele teve o mesmo pensamento que o meu - isso não vai ser bom - na mesma hora se aproximou e disse pra mim rezar mais rápido, eu não queria, minha garganta dói, mas o fiz.

_ Pai....- a cruz era pesada me perguntei mentalmente por que ele me bateu mas só o que eu fiz foi gritar parando de orar, péssima ideia.
_ Continue!!- bradou e bateu mais forte.
_ Nosso, que essss- outra pancada e de minha boca saiu sibilos em vez de palavras, a lâmpada piscou,pra logo voltar ao normal _Estás nos céus -outra e eu tive que parar pra respirar pra logo gritar de dor, ele bateu mais forte.
_ Não pare demônio - acho que finalmente entendi.
_ Santif-ficado s-seja - mais uma.
_ O teu nom-me - e logo depois outra, pude escutar as cuidadoras pedindo ou exigindo que as crianças curiosas saíssem de perto do porão, eu queria pedir ajuda.
_ Vem a nós o vossss - outra e outra mais forte assim que a luz tremeu.
_ Seja fei-ita a vossa vontade - doía doía muito mas eu não chorava mais parecia que ele ficava descontente toda vez que a lâmpada tremia e isso só acontecia por que eu gritava ou entrava em agonia, entendi, preciso me controlar.
_ Assim na t-terra como no céu - outra pancada, minha voz não saiu firme estava tremida mas eu não pudia errar.
_ O p-pão nosso ...- minha voz já estava rouca, e meus olhos secos.
_ Chega, por hoje é só - não preciso de mais nada, eu caí pra frente e senti meu corpo pesado mas não consegue descansar a luz do lado de fora machucou meu olhos entre abertos, fez minha cabeça latejar mais, a luz é ruim, ela machuca, o padre ....ele veio da luz, ela não traz nada bom.

Eu entendo, estou sozinho, no escuro novamente mas aqui não é mais seguro, não há lugar seguro. Uma rajada de ar passou me provando que o que quer seja que o padre tentou tirar de mim, continua aqui e parecia com raiva.

Sorrio, pelo menos parece que não estou sozinho mas agora....nem seguro.

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⏰ Última atualização: Jul 11, 2023 ⏰

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