Capítulo 1

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AMY WILSSON


— Eu preciso de ajuda. — Falei entrando no consultório e assustando a todos ali presentes. Pouco me importava a minha aparência ou o meu jeito de desesperada, eu precisava de ajuda psicológica para os meus pais.

— O que aconteceu com você? — A moça do balcão se aproximou assustada. Mas eu não queria falar com ela, eu precisava de um psicólogo.

A ignorei e entrei consultório adentro, procurando a pessoa que pode me ajudar. Eu precisava de uma terceira pessoa para me ajudar a entender os meus pais e as loucuras que eles me falam.

Era agonizante saber que eles tratavam o meu irmão tão mal e chegaram a me tratar pior agora. Eles são loucos e eu quero provar isso para alguém que possa me ajudar a alegar que não tenho problemas mentais.

Corri pelos corredores quando ouvi a recepcionista gritar pelos seguranças e entrei na primeira porta que dizia "Dr. Liem Chaves" no vidro.

Ao abrir a porta bruscamente a mulher que mexia no computador se sobressaltou com medo e me encarou. Seu rosto assustado me fez tentar me acalmar para explicar a ela que preciso ser ouvida.

— Preciso de ajuda. — Me aproximei a fazendo se levantar da cadeira e continuar a me encarar assustada. — Eu não queria entrar dessa maneira, mas eu preciso ser ouvida por você. — Sentei na cadeira a frente da sua mesa e esperei que ela respondesse algo.

— Bom, querida eu não posso te ajudar agora. — Começou a se desculpar olhando freneticamente para a porta, como se esperasse alguém. — Primeiro você precisa marcar... — A interrompi com um soco na mesa e a mesma se sentou com o susto.

— Você não entende! Eu não tenho tempo. Preciso que me escute e nos salve dos meus pais. — Supliquei quase chorando e ela concordou com a cabeça. Ela parecia muito assustada comigo e seus olhos diziam claramente isso.

Seus cabelos castanhos já haviam tons grisalhos e sua face preenchida por rugas do tempo, indicando que ela devia ter uns quarenta e oito anos ou mais. Se eu quisesse ser ouvida de verdade, precisaria me acalmar e tentar fazer ela entender que não sou louca. Pelo menos não a aparência louca que ela está vendo na frente dela.

— Eu não sei como posso te ajudar menina, mas vou te dar uma chance de me explicar o que está acontecendo. — Falou tentando se recompor em sua cadeira. Eu sei que ela só está ganhando tempo para me acalmar até os seguranças chegarem, mas vou contar tudo que sei enquanto ainda tenho tempo.

— Os meus pais estão loucos. Eles me dizem coisas que não fazem sentido e nesses últimos anos a coisa vem piorando. Eles fazem um joguinho besta de ignorarem o meu irmão há 20 anos e ele já não se sente mais da família por isso. — Eu não sei se é coisa da minha cabeça, mas algo chamou a atenção da mulher em minha frente e ela começou a ouvir cada palavra que eu dizia. — Eles não gostam do meu irmão e não querem nem que eu diga mais o nome dele em casa. Eles não o alimentam, não compram roupas e nem conversam mais com ele.

— Espera, está me dizendo que os seus pais ignoram seu irmão desse jeito a 20 anos? — Perguntou com a face horrorizada.

— Sim. E eles brigam comigo sempre porque converso com o meu irmão e até coloco comida em um prato pra ele no jantar. — Explico passando as mãos pelo cabelo. Estava exausta de tentar compartilhar essa crueldade com os outros e eles sempre me chamarem de louca.

Nesse momento ouço a porta abrir bruscamente e me viro assustada. Eram os seguranças, junto com a recepcionista que ignorei e corri. Eles me levariam e eu não poderia contar a minha história para a doutora.

Eu precisava fazer alguma coisa antes que me tirassem daqui e eu acabasse nas mãos dos meus pais de novo. Mas como um milagre, a doutora Liem fez sinal para que eles fossem embora e os mesmo hesitaram.

— Me deixem a sós com ela. — Afirmou firme e voltou a me encarar com seus olhos que já não estavam mais assustados, mas sim, curiosos. — Antes de continuarmos, me diga ao menos o seu nome.

Um alivio me invadiu e uma súbita vontade de abraçá-la quase tomou conta do meu corpo. Pela primeira vez alguém estava me ouvindo de verdade e queria que eu falasse.

— É Amy. — Respondi deixando todo o ar que eu nem sabia que segurava, sair de meus pulmões.

— Bom, Amy você teve muita coragem de invadir a minha sala. Por isso vou te dar uma chance de me contar o que aconteceu para te deixar assim, tão desesperada. — Explicou pegando uma caneta em sua mesa e um pequeno bloco de notas. — Podemos começar? 

O meu irmão existe!Onde histórias criam vida. Descubra agora