AMY WILSSON
Nossa vida em Boston era curiosamente normal para mim. Eu tinha ao meu lado os meus pais e o meu irmão gêmeo, como sempre me lembrei. Embora mamãe e papai ignorassem a existência do Jay, eu não achava que era por ódio.
Com o tempo, eu fui crescendo e as coisas foram se agravando. Mamãe reclamava quando eu tocava no nome do meu irmão e meu pai as vezes queria me bater por isso. Era comum à minha dedicação em tentar fazê-los pararem de ignorar o Jay.
Acho que a situação piorou mesmo quando eu fiz 13 anos. Meus pais já me odiavam por ser como eu era, uma criança insistente e rebelde. Eu não aceitava o fato que eles odiavam o meu irmão e a mim, assim sem motivos.
Então eu resolvi tentar procurar o motivo de todo o rancor que eles sentiam. Quando eles estavam trabalhando, eu faltei a escola e fiquei em casa procurando por qualquer sinal no quarto deles. Eu queria pelo menos um papel que me dissesse o que estava acontecendo, mas não encontrei nada além de papeis médicos que diziam que eram da minha mãe.
Ela tomava remédios para tudo, dor de cabeça forte, enjoos e até para o coração. Ninguém tinha descoberto a doença que ela tinha, mas os médicos sabiam que os remédios aliviavam os sintomas cada vez mais.
Frustrada e inquieta, resolvi sentar na cama deles e analisar o quarto inteiro. Procurei cada milímetro do quarto com os olhos. Eu só precisava de uma resposta, só uma que me ajudasse a entender os meus pais. Mas Jay apareceu na porta e me impediu de procurar mais.
— Não irrite mais eles, se não eles podem te bater. — Suplicou meu irmão sentado na cama enquanto eu arrumava tudo o que mexi.
— Eu estou fazendo isso pelo nosso bem. — Tentei me justificar, mas Jay negou com a cabeça.
— Você está fazendo isso, porque acha que eles nunca vão me aceitar e quer impedir isso. — Sussurrou abaixando a cabeça. Me partia o coração vê-lo assim, tão triste.
Mas antes que eu pudesse consolar o meu irmão, ouvi a porta da frente abrir e corri com o meu irmão para o meu quarto no fim do corredor. Como já era quase almoço, mamãe devia ter chegado para preparar a comida.
Fingi sair do meu quarto com sono e dei de cara com ela na escada. A mesma tomou um susto é claro, porque ela achava que eu ainda não havia chegado da escola.
— Não foi a escola? — Perguntou brava. — Já falei para não faltar as aulas.
— Relaxa, eu cheguei mais cedo porque uma professora faltou. — Menti revirando os olhos. Não sei se mamãe engoliu a mentira, mas para mim foi a mentira perfeita. — Acabei cochilando por uns minutos e acordei com a barriga roncando. — Desci as escadas passando por ela e entrei na cozinha.
Suspirei aliviada ao entrar na cozinha e perceber que a minha mãe engoliu a história. Se ela não tivesse acreditado com certeza eu já saberia, porque ela viria atrás de mim e me encheria de perguntas sobre tudo.
Peguei um pouco de cereal e misturei com leite em uma tigela. Não era exatamente o que eu queria agora, mas eu tinha que manter para a minha mãe o personagem que acordou com fome.
Sentei na frente da televisão e comecei a procurar qualquer desenho que estivesse passando para me distrair.
Meu irmão apareceu e se sentou ao meu lado para ver desenhos comigo.
Jay é um irmão legal. Apesar das atitudes dos meus pais com ele, ele ainda se mantem aqui para mim e eu para ele. Literalmente um laço sanguíneo bem forte.
— Não acha que já estamos grandes para ver desenhos? — Perguntou comendo uma colher do meu cereal sem permissão.
— Ei! Se quer cereal vá pegar. — O avisei enfurecida. Odeio quando comem a minha comida sem me pedir antes. — E eu gosto de ver desenhos, se não gosta saia daqui. — Fiz um gesto com a mão para que saísse de perto de mim, mas ele continuou sorrindo e balançando a cabeça em sinal negativo.
— Amy você entrou no meu quarto? — Perguntou mamãe entrando na sala com os braços cruzados. Me ferrei.
— Não, por quê? — Menti comendo mais uma colher de cereal para esperar ela falar. Eu precisava de uma boa desculpa caso ela tenha provas de que estava no quarto dela.
— Por nada, só achei estranho o modo como as minhas roupas estavam mexidas. — Explicou me encarando seria. Merda! — Mas talvez seja só coisa da minha cabeça, porque eu não lembro de ter mexido nas roupas de inverno esses dias. — Falou saindo da sala e me deixando suspirar com tamanho alivio.
Essa foi por pouco. Eu não sei o que ela faria se soubesse que estava vasculhando as coisas dela e do papai. Talvez ela me colocasse de castigo, mas o papai me bateria com certeza.
— Amy, a mamãe está tão calma hoje. Você percebeu? — Perguntou Jay com uma cara pensativa.
— É notei. Quando o papai está fora ela fica mais calma. — Dei de ombros e levei a minha tigela vazia para a pia. — Eu não vou parar agora. Eu vou achar a verdade Jay. — Bebi um copo de água e me virei para poder ver melhor o meu irmão.
Apesar de muito magro, ele ainda estava bonito. Seus cabelos castanhos estavam mais secos e suas olheiras estavam visíveis demais. Quem olhasse para ele perceberia que ele sofre algum tipo de abuso ou violência em casa.
— Jay, eu vou sair um pouco. Preciso ver outro cenário que não seja a nossa casa só pra variar. — Falei indo para o meu quarto. Escutei passos atrás de mim e presumi que eram de Jay me seguindo. Ele quase não me deixa sair sozinha e nos sempre conversamos enquanto caminhamos.
No parque perto de casa. Comecei a inspirar e expirar ar novo, ar puro e sem ordens. As vezes ficar em casa para mim é uma tortura, mas consigo me virar e sair quase sempre.
Embora o meu pai não goste que eu saia, a minha mãe não dá a mínima. Acho que papai não gosta que eu saia por causa das pessoas que ficam olhando para mim. Sempre que estou falando com Jay em público as pessoas me olham torto.
Acho que nunca viram uma irmã e um irmão se darem tão bem antes.
— Já começou outra vez. — Suspirou Jay ao meu lado.
— O quê? — Me fiz de desentendida.
— Os olhares. As pessoas parecem que não gostam de ver você falando comigo publicamente. — Passou a mão pelos cabelos. Dava para perceber de longe que estava chateado.
— Ignore. Faça como eu. — Eu tentava me manter firme em dizer para sempre ignorarmos as pessoas, mas acontece que nem sempre conseguimos manter a postura e geralmente acabamos discutindo com alguém.
— Não se use como exemplo. Você é a mais cabeça quente entre nós dois. — Sorriu de lado.
— Isso é claramente mentira. — Retruquei lhe olhando de lado.
Garanto que não sou tão esquentada como Jay diz que sou. Ele vive me dizendo que preciso controlar as minhas emoções e blá blá blá. Eu até tento não levar nada para o lado pessoal, mas acho que essa situação com o Jay e as pessoas o ignorando me deixam assim.
— Eu queria entender porque as pessoas fingem que não existo. — Suspirou Jay frustrado.
— Eu também. — Concordei olhando ao nosso redor. Várias pessoas me encaravam com uma expressão facial duvidosa. Não consegui identificar ao certo se era medo ou raiva.
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O meu irmão existe!
Mystery / ThrillerContrariada em toda a sua vida. Amy se recusa a virar as costas para o seu irmão, assim como os seus pais e todo o mundo fez. Ela acredita que se conseguir se manter firme em sua luta diária contra as pessoas que falam que o seu irmão não existe, e...