Capítulo 5

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AMY WILSSON


No meu peito havia uma dor se esvaindo e para mim, tudo estava parecendo ficar mais claro agora. O sufoco de receber todo esse ódio e nunca conseguir conversar com ninguém, já estavam me consumindo a cada ano.

— Amy, você alguma vez, você cogitou que... — Começou a doutora hesitante em suas palavras. — Talvez, o seu irmão não exista de fato?

— ELE EXISTE! — Exclamei batendo com a mão na mesa. A doutora ficou imóvel me observando com seu medo extremamente visível. Ela não sabia o que fazer e foi então que percebi, eu estava arruinando a minha chance de ser ouvida. — Me desculpe. — Tentei me recostar na cadeira e tentar manter distancia para que ela pudesse relaxar a sua expressão facial.

— Não se preocupe. É normal agir dessa maneira depois de tudo o que passou com o seu irmão. — Concluiu pegando a caneta e o bloquinho que haviam caído de suas mãos quando a assustei.

— Eu só queria que ele pudesse ter vindo nessa consulta hoje. — Confessei passando as mãos pelo cabelo. — Mas a última vez que eu o vi, foi há três dias. — Uma lagrima escapou pelos meus olhos. É doloroso demais lembrar do Jay na última vez que eu o vi.

— O que aconteceu? Por quê vocês só se viram há três dias? — Perguntou a doutora curiosa com a notícia. Eu não sabia se deveria contar ou não, mas essa é a minha chance e eu só vou ter forças para falar só mais uma vez.

— Fazem três dias que que fugi do cativeiro dos meus pais. — Senti a minha garganta se contorcer e formar um nó. Toda a angustia de três dias atrás, estava de volta no meu peito. — Eles me mantiveram presa. Dentro de uma gaiola no porão e só me alimentavam com pão velho e água da piscina. — Um soluço escapou dos meus lábios e o rosto chocado da doutora me levava direto a lembrança dos olhos de Jay.

Jay me observava dia e noite pela pequena janela do porão que dava acesso a parte de trás da casa. Eu suplicava pedindo ajuda e ele só conseguia me olhar chocado e assustado.

Passei quatro dias inteiros nesse cativeiro, e consegui fugir dele há três dias.

A minha mãe tentava me dar pão com manteiga, porque ainda tinha pena de mim, mas o meu pai bateu nela quando descobriu. Ele se mostrou ser um monstro para mim, como jamais o vi antes.

Toda hora ele aparecia no porão para me torturar e me perguntar se eu ainda via o Jay. E todas as vezes, eu só chorava e pedia por misericórdia. Meu pai descia até o porão e me torturava comendo bolo de chocolate e várias coisas que eu gosto na minha frente.

Eu ficava com a boca salivando de tanto desejo de comer algo além de pão velho e duro. E quando eu achava que ele iria me dar um pedaço, ele falava que se eu continuasse vendo o meu irmão, eu nunca mais iria comer nada na vida.

Até que eu já não aguentava mais no quarto dia. A minha barriga roncava demais e muito alto, mas apesar de tudo, eu só pensava em sair daquele lugar e fugir. Fugir para bem longe deles e me esconder para sempre.

No quarto dia, o meu pai não desceu no porão o dia inteiro. Achei que não me alimentariam mais com pão velho, até eu pedir perdão e dizer que não via mais o Jay. Mas daí eu o ouvi descer as escadas, fazendo mais barulho do que o normal.

Quando ele ascendeu todas as luzes, eu o vi totalmente bêbado. Ele segurava uma garrafa na mão que estava quase vazia e sua camisa de botões estava rasgada. Eu não conseguia reconhecê-lo mais.

Ele pegou uma cadeira e colocou a frente da cela. Bebeu o resto do álcool na garrafa me encarando nos olhos.

Eu temia pela minha vida, mas não estava disposta a dizer que o meu irmão era invisível e que eu estava ficando louca. Papai sabia que eu ainda tinha o meu orgulho intacto e por isso ele resolveu quebrar o que me impedia de ceder.

Papai quebrou a garrafa na parede e se levantou cambaleando. Ele abriu seu cinto com muita dificuldade e abriu a porta da cela. Nos seus olhos só havia ódio. E eu já sabia o que ele faria comigo.

Tentei gritar por ajuda, mas ninguém me ouvia há dias e não seria agora que me escutariam. Gritei pela minha mãe, mas acho que ela não estava em casa para tirar papai de perto de mim.

Então resolvi fechar os olhos e pedir por um milagre.

Só me lembro de ouvir um barulho alto e quando abri meus olhos, papai estava no chão e Jay corria pela escada para sair do porão.

Tentei correr atrás dele, mas quando cheguei na parte de cima da casa, só encontrei a porta da frente aberta. Então corri o mais rápido que pude, até me sentir totalmente exaurida.

Achei uma casa abandonada em uma rua perto daqui e venho me mantendo lá há três dias. Roubei algumas frutas do mercado e algumas garrafas de água. Peguei lençóis do varal de casas próximas e me mantive escondida até que tomei coragem para procurar ajuda.

A doutora estava totalmente sem reação e chorando a minha frente. E eu, assim como ela estava a chorar.

— Eu preciso ligar para uma pessoa. — Disse se levantando de repente e saindo da sala sem dar mais explicações.

Eu estava com medo antes, mas agora, eu tinha uma certeza de que tudo poderia ficaria bem. 

O meu irmão existe!Onde histórias criam vida. Descubra agora