VI

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Depois de tantas horas a pensar decidi 'ser homem' e assumir a paternidade, a sensação de ter um filho não é das melhores. Sinto como se o mundo tivesse desabado sob os meus pés e que eu não tenho onde me segurar. A cada dia que passa descubro que não nasci para ter os meus sonhos realizados, mas sim destruídos como quem destrói um castelo de areia de uma criança em frente dos seus olhos.



Finalmente chegou a altura do confronto com o meu pequeno eu. Uma criança está virada de costas para mim e quando se vira, os seus olhos penetram a minha alma até às profundezas do meu ser, até que uma voz doce ressoa na minha cabeça.


'Este senhor é meu pai?'


Caí em mim e apercebi-me finalmente o que estava aqui a fazer, conhecer o meu filho, aquele que um dia irá seguir os meus passos e relembrar-me nos seus pensamentos como o homem que não consegue enfrentar as suas próprias ações, por não o ter abraçado e o chamado de filho.

Ajoelhei-me em frente de tal personagem e desculpei-me por não sei o quê, olhando-o nos olhos à espera que me dissesse algo agressivo, mas não, simplesmente envolveu as suas mãos na minha cara e beijou a minha testa dizendo:


-Não faz mal pai, eu sei que não fizeste por mal e daqui a diante nós vamos ser felizes, mesmo que tu não me queiras reconhecer.


Ás vezes penso que sou pior que uma criança, porque desato a chorar nas situações mais críticas. Esta foi a primeira vez que alguém me disse algo tão destrutivo, mas ao mesmo tempo reconfortante na minha vida. Aquela criança é uma fotocópia minha, compreensiva, batalhadora e inteligente, assim como eu naquela idade, que ainda tinha esperança de que um dia os meus pais viriam me buscar.

Não sei o que me deu, agarrei naquele rapaz e corri para o cimo do edifício da empresa, levantei-o no ar e gritei ' Um dia isto tudo irá ser teu, e tu irás ser feliz na nossa família, porque apesar de não te conhecer totalmente EU TE AMO MEU FILHO!'



:D


O Sr. ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora