Não estamos sozinhos.

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Já fazia dias que o sol não saía detrás das nuvens cinzentas e tristes de Busan. O inverno sempre foi uma época do ano difícil pra mim. Antes já era horrivel pois sempre fui um ser do sol e todo o calor e alegria que um dia ensolarado proporciona, e agora nos dias de inverno, minhas memórias sempre me levavam a época mais triste de minha vida.

Nevava quando ele saiu de casa.

As autoridades haviam dito que o melhor era permanecer em residência e esperar a nevasca passar. Mas Hoseok nunca dava ouvidos quando o assunto era trabalho.

"Estão me chamando no escritório, é urgente, amor. " Ele havia dito antes de abrir a porta e sair para nunca mais voltar.

Horas depois policiais me ligaram. O carro de Hoseok havia sido encontrado no final de uma colina. Havia perdido o controle e saído da pista. Meu marido morreu na hora, me deixando sozinho com nosso filho de cinco anos. Desde então era apenas eu, Park Jimin, e Jung Kyun, meu pequeno.

Nos primeiros meses após a partida de Hoseok, a pensão que recebia ajudou a quitar as dividas da casa, mas depois de um tempo, o dinheiro da pensão do meu marido já não era mais suficiente, e eu precisava arranjar um emprego.

Juntei mais alguns Wons e comprei um Gol cinza 2012. Era um carro usado e um tanto velho, mas nada que um pouco de tinta não resolvesse. Passei a procurar emprego e algumas semanas depois uma editora de livros me ligou, eu havia conseguido uma vaga com corretor chefe, graças à minha graduação em Letras e especialização em linguística em dois idiomas. Hoseok sempre me encorajava a estudar, pois dizia que nunca se sabia quando iria precisar de um diploma.

Quanta ironia.

Estava tudo indo conforme planejado, contudo havia um problema. A editora ficava em Busan e morávamos em Seoul. Convencer Kyun foi um sacrifício enorme, visto que ele era apenas uma criança, tudo que ele mais amava estava em Seoul.

Porém, depois de muita conversa e promessas que eu nem sabia que consegueria cumprir, nos mudamos.

A casa que consegui comprar ficava ao leste de Busan, poucos minutos longe da editora aonde trabalhava e tinha uma escolinha perfeita para o meu pequeno, logo na esquina. Fiquei impressionado quando o vendedor me informou o preço do imóvel. Estava barato devido o tamanho e localização. Isso me causou uma pulga atrás da orelha mas resolvi não reclamar da sorte.

Um mês depois me mudei, e demorou uma semana até montar todos os móveis e desmontar a última caixa. Coloquei todas as fotos de Hoseok em nosso quarto. Na sala deixei exposto apenas uma foto nossa em família, o restante eram fotos minhas e de Kyun. Simplesmente não aguentava mais os olhares de piedade que recebia. Contudo não demorou muito para o primeiro benfeitor aparecer em minha porta.
Era minha vizinha a senhora Choi, uma velhinha educada, porém curiosa.

-Bem vindo à vizinhança, senhor Park. Soube que veio de Seoul. Espero que goste da cidade. - disse ela sorridente, segurando um bolo de chocolate.

-Muito obrigado, senhora Choi. - sorri gentil.

- Trouxe esse bolo para você e seu filhinho. Ele não se parece muito com você, deve se parecer com a mãe.

Senti meu rosto corar um pouco por receber aquele comentário repentino. Cocei a garganta tentando me recompor.

-Eu tinha... Um marido. Mas ele sempre será o pequenino que pegamos na maternidade.

-Oh eu sinto muito. - disse ela, esbanjando um arrependimento exagerado.

-Tudo bem. - sorri pegando o bolo. - Muito obrigado pelo bolo mais uma vez, senhora Choi. Tenha um bom dia.

Sorrio mais uma vez antes de fechar a porta com um suspiro pesado.

Ghost - YoonminOnde histórias criam vida. Descubra agora