A foto.

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Aquele simples "você" dito tão próximo a mim, mais precisamente do meu lado na cama, me fez sentar no colchão rapidamente e correr para o lado oposto, próximo às longas cortinas na janela.
Observei quase paralisado o homem sentar na cama; olhando em minha direção.

- Jimin...

- O que v-você quer? - consigo finalmente falar algo, mas ainda assim ouvindo minha voz sair trêmula - Porque não vai embora?

O homem suspirou e levantou do colchão, ainda mantendo a distância entre nós. Havia algo muito estranho nele. Algo que eu não sabia identificar. Sempre que imaginei fantasmas sempre pensei nas piores aparências possíveis. Mas o homem a minha frente era muito... Normal.

Bonito também. Sua pele era incrivelmente branca, pude notar graças a luz ainda acessa do abajur. As roupas pretas antigas pareciam vir de outra época, outro século. Era um pouco mais alto que eu e um porte físico atlético, nada de músculos sobressalientes, porém atlético.

Só fui perceber que estava o encarando demais, assim como ele também me olhava, quando o rapaz deu um passo em minha direção, me fazendo encolher onde estava.

- Não se aproxime. - falei rapidamente.

- Tudo bem. - parecia um tanto frustrado - Não quero machucar você, nem sua família, Jimin. Aliás, seu filho é incrível, é um bom menino.

O homem dizia tudo aquilo com uma naturalidade absurda, e o que mais me chocava era a constatação que sim, era tudo real, e não uma invenção de minha cabeça.

- Não pode ser... Você não é real. - falei, fechando meus olhos com força .

- Eu sou real, Jimin. Estou bem aqui, fechar os olhos não vai me fazer ir embora.

Abri meus olhos minimamente e ele continuava lá, parado me observando com uma expressão curiosa. Tinha algo em seu olhar que me fazia perder e fôlego e me sentir extremamente exposto ao mesmo tempo que sua voz, por mais estranho que pareça, me soava familiar. Era quase um déjà vi.

- E o que vai te fazer ir embora? - pergunto.

- Preciso de sua ajuda, eu posso te ajudar. Algo está diferente eu posso sentir.

Franzo o cenho ouvindo suas palavras confusas.

- Porque eu precisaria da sua ajuda? Do que está falando?

- Jimin, preciso que me escute. - ele fala, caminhando até mim dando a volta na cama que nos separava.

Em desespero e por puro reflexo, pego a primeira coisa que vejo próximo a mim para me defender. Um copo de vidro que repousava sobre a cômoda ao meu lado esquerdo é arremessado com tudo contra o fantasma.

- Eu disse para ficar longe! - grito.

Obviamente o copo atravessa o corpo imaterial e se estilhaça no chão, fazendo um barulho enorme. Em segundos o homem some, me deixando no canto, encolhido e assustado.

Do que ele estava falando? Porque eu precisaria da ajuda dele?

Quase no mesmo instante minha amiga e meu filho aparecem no quarto, aflitos, procurando o que havia acontecido.

- Jimin o que aconteceu?

- Papai!

Kyun tenta vir até mim, mas é impedido por Jennie ao notar os cacos de vidro espalhados pelo chão do quarto.

- Kyun, querido, volta pro quarto. O papai Jimin não tá muito bem. Logo eu vou lá te dar um beijo de boa noite ok?

- Tudo bem...

Mesmo a contra gosto meu filho volta pro seu quarto e Jennie se aproxima, me abraçando e percebendo que eu estava tremendo muito.

- Ele esteve aqui? Jimin? - chamou, vendo meu transe.

- Sim. - digo baixinho, sem olhar para minha amiga.

Ela suspira e me guia até a cama. Nos sentamos e ela segura minhas mãos, me passando confiança.

- Sabe que temos que resolver isso, né? Olha pra você. Está tremendo feito um bichinho indefeso.

- Eu...Eu acho que você tem razão. - digo, olhando para ela - Ele precisa da nossa ajuda.

Jennie balança a cabeça concordando em silêncio, enquanto me analisa.

- Mas ele disse que eu também preciso da ajuda dele.

∆∆∆


Jennie foi embora na tarde do dia seguinte após muita insistência por minha parte. Ela precisava descansar adequadamente e voltar para Lalisa, então decidimos marcar uma próxima visita assim que possível.

O restante do dia se passou calmamente. Kyun quis ver um pouco de televisão enquanto jantava e o acompanhei. Não queria deixar meu filho sozinho por nem um minuto.

Após lhe ajudar a escovar os dentes e ler uma história para fazê-lo dormir, decido descer até a sala novamente. Ligo a televisão para tentar me distrair um pouco e acabo achando uma série muito boa. Enquanto assisto, meus olhos reparam numa estante de livros no canto.

Consigo me recordar que alguns móveis antigos ainda estavam presentes na casa, sendo vendidos junto com o imóvel e por alguma razão decido olhar com mais atenção aquela centenária estante feita de madeira maciça.

Parecia apenas uma estante velha e bonita, cheia dos meus livros. Abro gaveta por gaveta a procura de algo, alguma anotação antiga, carta, qualquer coisa que fosse. Pois eu não conseguia tirar as palavras daquele homem da minha cabeça.

"Preciso de sua ajuda, eu posso te ajudar. Algo está diferente, eu posso sentir."

Era algo tão confuso e que, eu de repente gostaria de entender melhor. Olho tudo, até que chego na última gaveta que não abria por nada, parecia emperrada.
Vou até a cozinha e pego um pé de cabra da minha caixa de ferramentas, voltando até a estante em segundos. A posiciono no espaço entre as madeiras e com um pouco de força, consigo abrir.

Lá dentro havia quadros antigos, fotos, calendários e coisas que eu nem sabia exatamente o que significava. Até que entre aquelas fotos de jardins, paisagens e catedrais antigas, algumas chamam minha atenção. Eram fotos do Yoon, fotos dele naquela casa tocando piano.

Sinto meu coração acelerar um pouco e minha boca se tornar seca.

- Cacete...

Eram fotos amareladas e até um pouco desbotadas em alguns cantos mas ainda eram dele. Uma ele parecia despreocupado, sorrindo enquanto segura um pequeno cachorro peludo em seus braços. Aquela foto de alguma forma me fez sorrir também, o sorriso dele era tão... reconfortante.
Enquanto olhava mais coisas que haviam ali, mais uma foto chama a minha atenção. Mas dessa vez, me sinto tremer dos pés a cabeça enquanto o choque me domina.

Era mais uma foto do rapaz moreno e pálido, estava vestido formalmente, talvez fosse em alguma festa da época. Mas ao lado dele estava outro jovem. Rosto pálido e lábios carnudos. Possuía um olhar enigmático, olhava diretamente para a câmera. Também se vestia com classe, suas roupas não pareciam nada baratas.
Virei a foto para ver se era realmente real, se havia alguma anotação. E tudo que achei foi "Seoul, 1865".

- Não pode ser ...

Continuei encarando a foto em minha mão, sem entender completamente nada. Pois era como encarar a mim mesmo, uma cópia minha. Ou talvez eu fosse a cópia dele.

Passei algum tempo em silêncio apenas admirando algo que para mim, até alguns minutos atrás parecia impossível, enquanto meu cérebro tentava absorver milhares de perguntas ao mesmo tempo.
Porém sem resposta alguma.

Era simplesmente inexplicável. Mas ainda assim real.

Era uma foto minha de dois séculos atrás.

Ghost - YoonminOnde histórias criam vida. Descubra agora