The bad seeds planting

Holístico

The bad seeds planting

– Capítulo 1 –

Holístico

Ela era uma criança no mínimo curiosa.

Talvez, caso sua mãe soubesse um pouco mais ou tivesse um pingo de superstição, não teria feito o infame trocadilho com seus nomes.

Olhando para a grande estrutura que era o Hospital Estadual de Baltimore para Criminosos Insanos, Clarice Starling procurava entender o porquê de ter sido levada até aquela circunstância adversa.

Começava a crer que sua ambição não cabia mais sob a pele e passava a escorrer.

Uma jovem ainda não formada em seu treinamento para o FBI. Uma mera estagiária. Era isso que ela era. Fato. Porém, aqui estava, em suas melhores roupas e sapatos, maquiagem no rosto e cabelo escovado. Tudo para entrevistar o infame serial killer Hannibal Lecter.

— Muitos outros já vieram em busca de alguma migalha que Lecter pudesse lhes oferecer. Escritores, jornalistas e médicos. De tudo um pouco já apareceu aqui.

O Dr. Frederick Chilton era uma figura que não se via todo dia. Olhar para ele era desconcertante. Sobreviveu a três tentativas de assassinato; foi estripado, baleado e teve um dos seus lábios arrancados. Seu rosto foi desfigurado ao ponto de não ser possível distinguir o que era realmente original em meio a tantas cicatrizes e exortações de pele. Quanto mais atenção se prestava, mais parecia que havia algo faltando ou fora do lugar.

— Mas, se permite dizer, nenhum outro visitante era tão atraente quanto a senhorita. — o homem continuou, agora com um sorriso. Ou pelo menos o mais próximo que conseguia disso. — Passará a noite aqui? A cidade pode ser bem interessante com o guia certo.

Era um sobrevivente, com certeza. E um idiota também.

— Precisarei relatar o que acontecer assim que sair daqui. Voltarei ainda essa tarde. — deu o seu melhor para não soar seca demais. Não queria arranjar confusão ali.

— Que pena.

Clarice voltou a observar seus arredores. Já era a terceira escada que desciam, não era mais possível ver janelas para o lado de fora. Por outro lado, a segurança parecia estar se tornando mais reforçada a cada metro percorrido. Podia sentir a vigilância constante de cada movimento seu, das câmeras e dos guardas. Até mesmo os enfermeiros pareciam ter saído de um campo de treinamento militar, sempre em alerta.

Aquele hospital parecia mais uma prisão de segurança máxima do que qualquer outra coisa.

De certa forma era uma prisão.

— Não passe nada para ele que não seja papel macio. Nada de clipes, grampos e alfinetes. Nada de canetas ou lápis. Não toque ou se aproxime do vidro. Caso ele tente lhe dar algo, não aceite. Tudo que lhe for entregue, deve ser feito pelo dispenser de alimentos e nenhum outro lugar. — Frederick instruía enquanto abria um dos portões de metal. — Entendeu?

— Sim.

— Ótimo. — ele afirmou, os olhos ainda focados em seu rosto. Clarice já estava a desgostar de Chilton. — Alan vai te acompanhar a partir daqui.

Sem dar tempo de resposta, já havia dado as costas e se afastado.

Por um breve momento, ela se criticou por não ter pedido mais informações sobre Lecter. Entretanto, logo notou que não queria a opinião daquele homem.

— Senhorita Starling? — o enfermeiro chamou. — Já ouviu as instruções?

— Ouvi.

— Certo. Ande sempre a direita e não se aproxime das demais celas. A dele é a última do corredor. Não tem porque se preocupar, estaremos acompanhando tudo pelas câmeras. Há uma cadeira lá para você.