Capítulo 1

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  -Não estou apaixonada por ele, porra!- começava a tornar-se esgotante ter que repetir estas palavras tantas vezes em tão pouco tempo.

  Para contextualizar, estávamos no meio do corredor, no intervalo grande da manhã e a minha colega de turma, a Alana, estava a atacar-me por meio das palavras. Ela acusava-me, constantemente, de estar apaixonada por Bratt. Porquê? Porque eu cumprimentei-o no meio do corredor e isso é uma prova de amor. Torna-se irritante. Sim, é verdade que tenho falado todos os dias com ele e que ele é, definitivamente, um vicio, mas isso não significa que o ame. Não amo ninguém. Parei de amar á muito tempo. Ok, não foi assim á tanto tempo, apenas ao tempo suficiente para a cicatriz não ter cicatrizado, mas isso é outra história. 

  Continuámos a nossa volta em redor da escola, e quando passámos novamente por Bratt baixei os olhos, como se estivesse a mexer no meu telemóvel, ou algo assim. Pude á mesma reparar que ele me olhou pelo canto do olho, como se quisesse que eu reagisse. Não reagi. Aprendi a minha lição da última vez, afinal, eu posso reagir, mas ele também. Quando estávamos mais á frente, votei a guardar o telemóvel e reparei num sorriso esboçado de Alana, ela claramente reparou que eu havia evitado Bratt, mas eu não sabia o que lhe dizer, ou o que fazer, ou sequer se devia dizer ou fazer algo.

  TRIM!

  Era o toque que indicava o retomar das aulas, infelizmente. Dirigi-me á sala 4, onde ia ter dois tempos de português, com uma professora extremamente desagradável e que definitivamente não gosta de mim, e não é a única, a professora de geografia também não tem muito gosto em ter-me como aluna... e fez questão de deixar isso bem claro quando eu tive uma dúvida e a senhora professora me ignorou totalmente. Que incrível afinal, mas não há nada que eu possa fazer quanto a isso. 

  Quando cheguei á sala a professora ainda não tinha chegado (ainda bem), e eu limitei-me a esperar no meu canto, com o meu telemóvel quase colado á minha cara e pensei para mim só, rapidamente, enquanto a minha professora não chegava:

  "Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. Não aguento. "

  E depois respirei fundo, e aguentei. Cada dia que passa, cada segundo, vou desistindo cada vez mais, eu não aguento, mas tento aguentar, ou melhor, finjo aguentar.

  Avistei a minha professora a chegar á sala e então dirigi-me para a porta, foi então que senti algo no meu rosto, a rastejar devagar, uma lágrima, supus. Mas depois lembrei-me que sou forte, e que não choro, nunca. Mesmo que o mundo esteja a acabar, mesmo que leve um tiro no peito, mesmo que as estrelas caiam do céu e que o sol deixe de brilhar, mesmo que cada palavra deixe de ter significado e que a minha voz desaparece para sempre, não choro, porque afinal, não é o choro que me vai ajudar ou resolver os problemas. Eu sigo em frente e esqueço. 

  Ninguém pareceu ter notado no inconveniente que surgiu no meu rosto e eu sinto-me agradecida por isso. Entrei rasteiramente e sentei-me no meu lugar, diretamente em frente ao da professora. Como deu para ver, eu sou uma pessoa muito (pouco) sortuda.

  Sentei-me e comecei a retirar o meu material, e dei por mim a pensar novamente:

  "E se eu pudesse simplesmente recomeçar, não como Melissa, mas como outra pessoa qualquer, alguém melhor, menos problemática, mais bonita, alguém útil, inteligente, alguém melhor, alguém minimamente decente, alguém que não seja só alguém, que seja especial e incrível e única e não seja uma cópia de muitas outras cópias. Estou em círculos na minha própria mente, enrolada nos fios dos meus pensamentos, escondida no nevoeiro da minha mente, presa na prisão da minha imaginação e escrava dos pensamentos, perdida nos sonhos e pesadelos, repetindo o dia de chuva e nevoeiro todos os segundos de todos os minutos a todas as horas, diariamente, semanalmente e anualmente, sempre. "

  Senti a necessidade de choro a retomar, mas não podia chorar ali, estava determinada a conter-me para sempre. Uma vez ouvi que a única maneira de matar a dor interior é reviver a dor exterior. Mas isso deixa marcas, e essas marcas podem ser facilmente dadas como acidentes, quedas, erros mesmo que no fundo, para mim, seja um pedido de ajuda, uma necessidade de ajuda.

  Ao longo da aula os pensamentos repetiam-se sempre e sempre, uma e outra vez. Até que dei por mim com sono, talvez pela falta de alimento, que também ninguém entende ser um pedido de ajuda, ou pelo facto da minha mente estar cansada, ou mais propriamente, esgotada. Aposto numa mistura das duas e não faço o mínimo de esforço para me manter acordada, sou eu contra a vida. O que pode acontecer se eu adormecer, ou se o esgotamento chegar ao limite? A verdade é que ninguém fica para contar a história.

  Já a aula está a acabar quando a professora finalmente acorda para a vida e repara na minha postura.

  -Não é Melissa? -sinto todos os olhares sobre mim.

  -Sim. -a minha voz está fraca.

  -Sim o quê?- estou feita.

  -É.. o... o... compl..

  -Pois, não sabes. Agora vais ter de estudar em casa! -interrompeu-me e humilhou-me, dois em um.

  Finjo um aceno e volto a baixar a cabeça sobre os meus braços. Estou extremamente frustrada. Os meus olhos pesam muito e sinto-me cada vez mais fraca. Só consigo pensar em quanto tempo pode faltar para o intervalo, esforço-me por alcançar o telemóvel mas os meus braços não obedecem ao meu cérbero e repentinamente oiço o toque que indica o intervalo, finalmente.

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