Sinto saudades de cada pedacinho dele, cada contacto visual, cada mensagem a dizer "Amo-te", mesmo que não fosse realmente sentida, cada elogio e cada conforto, cada plano para o futuro que tanto aguardávamos, os nossos planos de casa e as viagens em família, as idas ao baile de finalistas e cada minuto futuro. Mas acabou. Tudo acabou, sem nem ter começado.
Continuo a passar por ele nos intervalos, no almoço, no meio da rua (culpa minha, eu passo bastante perto da casa dele, ele mora num sítio com passagem útil), mas o que dói mais é o facto de nunca ter estado próxima dele, nunca lhe ter dito o quanto o amava, nunca lhe ter abraçado quando ele precisava, nunca lhe ter sorrido e gritado o nome dele, simplesmente porque sim. Isso dói.
Peguei num papel e escrevi, cem vezes: "Eu amava-te". Sim, está no passado. Peguei na folha e num isqueiro e queimei o papel, e aqueci uma das cicatrizes enquanto via o papel a arder lentamente. Quando o papel acabou de queimar, parei de aquecer a cicatriz e notei que ficou a notar-se mais, ligeiramente avermelhada, mas ninguém a iria ver, porque ela encontra-se nas minhas costas e eu não sou o tipo de pessoa que utiliza biquíni, nem tops que mostrem as costas, mas mais cedo ou mais tarde alguém vai descobrir.
O meu telemóvel vibrou, em sinal de notificação e ao ligá-lo verifiquei também as horas, sete da tarde. Numa sexta-feira normal, teria que estar já a ter treino, mas nesta ia a um jantar de aniversário que, para que fique esclarecido, não sou convidada para muitos, então sim, vale a pena faltar ao treino para ir a um. A notificação era de Bratt.
Bratt: Boa tardeee
Eu: Aloo
Bratt: que fazes?
Eu: Vou agr arranjar-me para o jantar de aniversário da Anne Luise.
Bratt: Pena que não fui convidado.
Eu: haha vocês quase nem se falam (acho eu).
Bratt: Nop, falo com ela uma vez por outra.
Eu: Não te preocupes, tu és convidado para outras coisas.
Bratt: Mas tu não estás nas outras coisas.
Eu: Oh.
Bratt: É verdade. Vai ser onde?
Eu: Num restaurante
Bratt: Qual?
Eu: No "Clinston's Brunch", junto á praia.
Bratt: Já sei qual é, eu ia almoçar lá muitas vezes no verão.
Eu: Pronto, é aí.
Bratt: Vais vestir o quê?
Eu: Não sei, mas era uma boa ideia escolher rapidamente.
Bratt: Quais são as opções?
Eu: Não há opções.
Bratt: Assim complica-se.
Eu: Eu sei.
Bratt: Uma dica: nada muito curto porque está um frio de rachar os dentes.
Eu: Pois, eu sei. Mas acgho que vou levar um vestido
Bratt: Justo e curto?
Eu: Isso mesmo.
Bratt: Não aprovo.
Eu: Não te pedi aprovação, e é tipo a única coisa que me vem á cabeça.
Bratt: Eu dou-te outra ideia.
Eu: Como se tivesses uma melhor.
Bratt: Umas calças de ganga e um top? Não te esqueças do casaco.
Eu: haha muito engraçado.
Bratt: Não era uma piada.
Eu: Agora vou tomar banho e depois vou para a festa, tchauuu.
Bratt: Não leves o vestido menina melissa.
Eu: Se não fazes-me o quê?
Bratt: Vou aí e troco-te a roupa.
Eu: Eu visto o que eu quero.
Bratt: Se eu deixar.
Eu: Não me chateies se não eu atraso-me.
Bratt: Oh Melissa, assim vais ficar doente e eu não te vou ver na escola.
Eu: Prometo que não fico doente.
Bratt: Como queiras.
Eu: É sempre como eu quero haha
Bratt: Vai te lá despachar se não atrasas-te. E depois manda-me foto de como estás.
Eu: Já te disse tipo um milhão de vezes que não mando fotos minhas.
Bratt: E eu já te disse um milhão de vezes que tu és linda.
Eu: Para, não vamos começar a falar de aparênias.
Bratt: Falta meia hora para teres que estar pronta.
Eu: Tchauu.
Bratt: Tchauuu.
Ele tinha razão, eu ia me atrasar se continuasse a conversar, mas ele é tipo uma droga, vicia e sacia-me, faz-me esquecer dos meus problemas e põe-me sempre um sorriso do rosto.
Tomei um banho extremamente rápido e fui secar o cabelo. Depois de ter secado por, no máximo, cinco minutos, fui colocar os collants e o vestido, é realmente muito curto e justo, desconfortável. Faltavam agora quinze minutos para ter que estar no restaurante e então eu corro para o meu quarto e pego numas calças de ganga e numa camisola, mais parecida a uma sweat, visto-me e retomo ao andar de baixo para me calçar e pentear muito rapidamente. Assim que terminei de me arranjar chamei o meu pai, que demoro alguns minutos a descer o lance de escadas e a calçar-se. Cheguei então á festa, uns minutos atrasada, mas isso não importa até porque duvido que tenham chegado já todos os convidados, que ainda eram bastantes. Fui ter diretamente com a Anne Luise e entreguei-lhe o meu presente, desejosa que ela gostasse.
Esperei um bocado para que chegasse alguém que eu conhecesse, do lado de fora do restaurante com vista para o mar, e subitamente oiço o meu nome e viro a cabeça bruscamente.
Era Bratt, estava ali, á minha frente.
-Boa menina.- disse.
-Porquê?
-O vestido era muito curto? Ou seguiste o meu conselho?
-Muito engraçado que tu és.- ironizei.
Sentou-se ao meu lado, no banco e reparei que Anne Luise e mais algumas pessoas nos observavam do lado de dentro do restaurante, através do vidro grande, fiquei embaraçada e retomei o meu olhar para Bratt, que estava com os olhos fixados nos meus.
-Fecha os olhos.- ordenou.
-Não.
Os nossos olhares estavam fixados ainda e eu fiquei determinada, ele já devia saber que eu não sigo regras.
-Oh Melissa, por uma vez na tua vida faz o que eu te peço.
-Ninguém manda em mim.- refilei, como se fosse uma criança a fazer birra.
A mão dele sobrepôs-se sobre a minha. Afastei a minha mão e coloquei-a no meu colo.
-O que se passa?- perguntou.
-Hoestamente? Dói-me a cabeça.
-É por isso que estás rabugenta?
-BRATT!
-Desculpa.
Vejo uma sombra a aproximar-se e noto a presença de Anne Luise, que logo se dirige a mim e diz:
-A minha mãe disse para irmos entrando.
-Okay.- e levantei-me.
-Tchau Melissa, e as melhoras.
Olhei para Bratt, que se levantou e então fechei os olhos.
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My Oxygen
RomanceNada na vida de um adolescente é fácil, a qualquer momento, o nosso mundo pode cair. Ás vezes, basta uma frase, uma mensagem, um vídeo, uma foto, ou um falso amor...