Capítulo 4

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  Sinto saudades de cada pedacinho dele, cada contacto visual, cada mensagem a dizer "Amo-te", mesmo que não fosse realmente sentida, cada elogio e cada conforto, cada plano para o futuro que tanto aguardávamos, os nossos planos de casa e as viagens em família, as idas ao baile de finalistas e cada minuto futuro. Mas acabou. Tudo acabou, sem nem ter começado.

  Continuo a passar por ele nos intervalos, no almoço, no meio da rua (culpa minha, eu passo bastante perto da casa dele, ele mora num sítio com passagem útil), mas o que dói mais é o facto de nunca ter estado próxima dele, nunca lhe ter dito o quanto o amava, nunca lhe ter abraçado quando ele precisava, nunca lhe ter sorrido e gritado o nome dele, simplesmente porque sim. Isso dói.

  Peguei num papel e escrevi, cem vezes: "Eu amava-te". Sim, está no passado. Peguei na folha e num isqueiro e queimei o papel, e aqueci uma das cicatrizes enquanto via o papel a arder lentamente. Quando o papel acabou de queimar, parei de aquecer a cicatriz e notei que ficou a notar-se mais, ligeiramente avermelhada, mas ninguém a iria ver, porque ela encontra-se nas minhas costas e eu não sou o tipo de pessoa que utiliza biquíni, nem tops que mostrem as costas, mas mais cedo ou mais tarde alguém vai descobrir. 

  O meu telemóvel vibrou, em sinal de notificação e ao ligá-lo verifiquei também as horas, sete da tarde. Numa sexta-feira normal, teria que estar já a ter treino, mas nesta ia a um jantar de aniversário que, para que fique esclarecido, não sou convidada para muitos, então sim, vale a pena faltar ao treino para ir a um. A notificação era de Bratt.

Bratt: Boa tardeee

Eu: Aloo

Bratt: que fazes?

Eu: Vou agr arranjar-me para o jantar de aniversário da Anne Luise.

Bratt: Pena que não fui convidado.

Eu: haha vocês quase nem se falam (acho eu).

Bratt: Nop, falo com ela uma vez por outra.

Eu: Não te preocupes, tu és convidado para outras coisas.

Bratt: Mas tu não estás nas outras coisas.

Eu: Oh.

Bratt: É verdade. Vai ser onde?

Eu: Num restaurante 

Bratt: Qual?

Eu: No "Clinston's Brunch", junto á praia.

Bratt: Já sei qual é, eu ia almoçar lá muitas vezes no verão.

Eu: Pronto, é aí.

Bratt: Vais vestir o quê?

Eu: Não sei, mas era uma boa ideia escolher rapidamente.

Bratt: Quais são as opções?

Eu: Não há opções.

Bratt: Assim complica-se.

Eu: Eu sei.

Bratt: Uma dica: nada muito curto porque está um frio de rachar os dentes.

Eu: Pois, eu sei. Mas acgho que vou levar um vestido

Bratt: Justo e curto?

Eu: Isso mesmo.

Bratt: Não aprovo.

Eu: Não te pedi aprovação, e é tipo a única coisa que me vem á cabeça.

Bratt: Eu dou-te outra ideia.

Eu: Como se tivesses uma melhor.

Bratt: Umas calças de ganga e um top? Não te esqueças do casaco.

Eu: haha muito engraçado. 

Bratt: Não era uma piada.

Eu: Agora vou tomar banho e depois vou para a festa, tchauuu.

Bratt: Não leves o vestido menina melissa.

Eu: Se não fazes-me o quê? 

Bratt: Vou aí e troco-te a roupa.

Eu: Eu visto o que eu quero.

Bratt: Se eu deixar.

Eu: Não me chateies se não eu atraso-me.

Bratt: Oh Melissa, assim vais ficar doente e eu não te vou ver na escola.

Eu: Prometo que não fico doente.

Bratt: Como queiras.

Eu: É sempre como eu quero haha

Bratt: Vai te lá despachar se não atrasas-te. E depois manda-me foto de como estás.

Eu: Já te disse tipo um milhão de vezes que não mando fotos minhas.

Bratt: E eu já te disse um milhão de vezes que tu és linda.

Eu: Para, não vamos começar a falar de aparênias.

Bratt: Falta meia hora para teres que estar pronta.

Eu: Tchauu.

Bratt: Tchauuu.

  Ele tinha razão, eu ia me atrasar se continuasse a conversar, mas ele é tipo uma droga, vicia e sacia-me, faz-me esquecer dos meus problemas e põe-me sempre um sorriso do rosto.  

  Tomei um banho extremamente rápido e fui secar o cabelo. Depois de ter secado por, no máximo, cinco minutos, fui colocar os collants e o vestido, é realmente muito curto e justo, desconfortável. Faltavam agora quinze minutos para ter que estar no restaurante e então eu corro para o meu quarto e pego numas calças de ganga e numa camisola, mais parecida a uma sweat, visto-me e retomo ao andar de baixo para me calçar e pentear muito rapidamente. Assim que terminei de me arranjar chamei o meu pai, que demoro alguns minutos a descer o lance de escadas e a calçar-se. Cheguei então á festa, uns minutos atrasada, mas isso não importa até porque duvido que tenham chegado já todos os convidados, que ainda eram bastantes. Fui ter diretamente com a Anne Luise e entreguei-lhe o meu presente, desejosa que ela gostasse. 

  Esperei um bocado para que chegasse alguém que eu conhecesse, do lado de fora do restaurante com vista para o mar, e subitamente oiço o meu nome e viro a cabeça bruscamente.

  Era Bratt, estava ali, á minha frente.

  -Boa menina.- disse.

  -Porquê?

  -O vestido era muito curto? Ou seguiste o meu conselho?

  -Muito engraçado que tu és.- ironizei.

  Sentou-se ao meu lado, no banco e reparei que Anne Luise e mais algumas pessoas nos observavam do lado de dentro do restaurante, através do vidro grande, fiquei embaraçada e retomei o meu olhar para Bratt, que estava com os olhos fixados nos meus.

  -Fecha os olhos.- ordenou.

  -Não.

  Os nossos olhares estavam fixados ainda e eu fiquei determinada, ele já devia saber que eu não sigo regras. 

  -Oh Melissa, por uma vez na tua vida faz o que eu te peço.

  -Ninguém manda em mim.- refilei, como se fosse uma criança a fazer birra.

  A mão dele sobrepôs-se sobre a minha. Afastei a minha mão e coloquei-a no meu colo.

  -O que se passa?- perguntou.

  -Hoestamente? Dói-me a cabeça.

  -É por isso que estás rabugenta?

  -BRATT!

  -Desculpa.

  Vejo uma sombra a aproximar-se e noto a presença de Anne Luise, que logo se dirige a mim e diz:

  -A minha mãe disse para irmos entrando.

  -Okay.- e levantei-me.

  -Tchau Melissa, e as melhoras.

  Olhei para Bratt, que se levantou e então fechei os olhos.

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⏰ Última atualização: May 14, 2023 ⏰

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