_ Deite-se, está tarde e você já devia estar dormindo.
Vivian era uma mulher jovem, passara da sua segunda década de vida, tinha os cabelos acobreados presos por um lápis de cor um pouco gasto e olhos verdes adornados por olheiras devido ao trabalho exaustivo, mas que ainda assim olhavam para sua pequena Aysha, com pouco mais de cinco anos, e olhos grandes e brilhantes, igualmente os seus eram.
_ Mihi parva ruinam...
Essa jovem mulher fora mãe solteira aos seus dezessete anos. Abandonada pelo pai da criança, foi a desgraça da família que era símbolo por manter os bons costumes. Tendo o apoio apenas do irmão mais velho que saíra de casa ainda com dezesseis anos. Ele alegava que a família o deixava louco com todas as regras de etiqueta e festas para pessoas que eles sequer gostavam, apenas como forma de jogar na cara da sociedade "Ei! Somos melhores que vocês imbecis!".
Pelo menos era o que ele dizia.
Algo pelo que Vivian não poderia ser culpada era por não cumprir suas tarefas, desde muito nova fora a melhor da turma, comparecia as aulas de grego, latim e francês, sempre com notas boas, um sorriso no rosto e um asilo ou instituição de caridade para ajudar. Sempre controlada pelas linhas invisíveis que os pais mantinham sobre ela.
Assim que teve a primeira oportunidade de sair de sua situação medíocre de marionete, fica bêbada em uma festa perto do lago, perde sua virgindade no chão úmido de chuva do bosque onde não havia nada além de algumas estrelas salpicadas pelo céu noturno e ainda engravida de seu namorado que recusa-se a perder a bolsa na faculdade para cuidar de uma criança.
_ Mamãe? - a jovem é tirada de seus pensamentos amargos por uma vozinha que está enrolada em alguns lençóis e agarrada a um urso de pelúcia antigo e empoeirado que recusa-se a largar. - Pode me contar aquela história?
_ Está tarde, Aysha.
_ Por favor mamãe!
_ Chega! - Grita e se levanta da cama. - Já chega. Conversa encerrada.
Ela sai e bate a porta, um choro suave ainda é audível enquanto se arrasta pelo pequeno apartamento de 50m² o qual sua mãe havia lhe emprestado até que se firmasse financeiramente. Sendo garçonete de um café em decadência, isso seria um tanto difícil.
Ela chegou em seu quarto, tomou um banho quente e demorado, lavando de sua pele a gordura e o cheiro impregnante de café de suas narinas e acomodou-se em sua cama com um copo de vodka barata enquanto zapiava os canais até achar um filme que considerasse assistível.
Contudo sua mente vagava para a menina que estava no quarto ao lado, dormindo embalada pelas lembranças de um antigo canto que sua própria avó contava-lhe quando ainda era criança e passava suas férias de verão na casa do lago no interior do país com seus avós. A mãe colocou o copo, já vazio, sobre a mesa de cabeceira e deitou-se em posição fetal, recitando antigas palavras por muito esquecidas.
_ Era uma vez, há mais tempo que pode-se contar nos dedos, a Vida e a Morte se apaixonaram...
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DIVISION - O Tempo não Para
Fantasy"Ela estava quebrada de mais para se preocupar com as consequências que viriam a seguir. Ela só queria que aquela dor acabasse e que alguém, em todo o universo, a ouvisse chorar e cuidasse de suas feridas." Aysha era nova de mais quando tudo começ...