Não havia tempo suficiente. Seu corpo não estava preparado para isso e suas pernas doíam com a exaustão.
_ Continue...
Ela respirava fundo e pesadamente. Todas as garotas já haviam ido embora, Meg fora comprar comida para elas e a mãe devia estar em algum lugar qualquer, talvez na boate onde trabalhava algumas vezes na semana.
Ash parou na frente do espelho e se sentou. Todos os músculos de seu corpo repuxavam. Ela estava exausta. Deitou-se no piso amadeirado frio e úmido de suor do estúdio.
_ Criança?
Ele a chamava. Abriu os olhos somente o suficiente para ver a sombra que se projetava sobre o teto branco e bem iluminado da grande sala. Esta era mais densa que qualquer outra sombra. Seus tentáculos desciam do teto e se aproximavam do rosto da jovem bailarina.
_ Não sou mais criança faz alguns anos. - Respondeu ao chamado rindo para o teto e suas projeções.
_ Sempre criança. - Insistiu
Ela o reconheceria em qualquer lugar. Era uma voz densa, profunda. Muitos em um só.
_ Estou cansada. - Sussurrou ao momento em que as sombras estavam tão perto que ela podia sentir o cheiro acre de chuva com cinzas. - Não posso dormir, não agora...
_ Descanse. Durma.
Aysha abriu os olhos novamente. Estava se sentindo leve.
Ouviu as trancas da porta serem abertas. Marguerite havia voltado.
Ele se recolheu, levando consigo suas vozes e sombras que permaneceram no canto superior a direita do salão. Ela se sentou, observando sua imagem nos grandes espelhos que ocupavam três, das quatro paredes da sala.
Ele não a abandona nunca.
_ Desculpe a demora, querida! A fila estava interminável! - Disse Meg, exasperada, tirando seu cachecol e casaco. - Vamos comer.
Aysha continuava a encarar sua imagem, perdida em si mesma.
_ Aysha?
Chamou a professora novamente, colocando a mão no ombro da menina, tirando-a do transe. Olhou-a com aqueles olhos grandes e brilhantes, piscando repetidamente como se tivesse acabado de acordar de um longo sono.
_ Sim? Desculpa, eu estava longe...
_ Não tem problema. Vamos comer?
_ Vamos.
Elas se levantaram, antes de sair e apagar as luzes, Aysha viu tentáculos de sombra descendo da parede, descritos como infiltrações.
_ Nunca.
A voz ressoou em sua cabeça enquanto caminhava pelo corredor em direção da pequena cozinha do estúdio de Marguerite, que lhe perguntava algo incompreensível aquela distância.
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DIVISION - O Tempo não Para
Fantasy"Ela estava quebrada de mais para se preocupar com as consequências que viriam a seguir. Ela só queria que aquela dor acabasse e que alguém, em todo o universo, a ouvisse chorar e cuidasse de suas feridas." Aysha era nova de mais quando tudo começ...