_ Bom, o que você tem a dizer? - Angeline estava parada na frente do espelho segurado dois vestidos. - Sério, Ash! Preciso de ajuda!
A doce Angie ia sair escondido da mãe pela primeira vez.
_ Por que está tão preocupada? - Questionava a amiga que estava jogada na cama, comendo salgadinhos. - Não há porquê ter medo.
_ Tenho medo de ficar ridícula na frete de todo mundo!
Aysha se levantou e foi em direção da amiga, segurando-lhe os ombros. Angie era mais alta, encorpada, com cabelos longos e castanho claro com olhos verdes. Uma pintura.
_ Eu vou sair escondida dos meus pais! Se minha mãe souber...
_ Ela não vai saber, porque você vai estar aqui em casa comigo, pois tenho medo de ficar sozinha enquanto minha mãe passa o fim de semana fora com sei lá quem. - Rebateu, piscando um olho para a amiga.
_ Certo. - Riu, nervosa. - Então larga essas porcarias e vem me ajudar!
Ambas riram e continuaram o longo e exaustivo processo de coloca e tira roupas.Ash chegou em casa, banhou-se e começou a se arrumar. Por volta das sete horas da noite, Angie e Cléo chegaram em sua casa, batendo à porta.
Elas se arrumaram juntas.
_ Isso é tão legal! - Angie agitava o corpo, alterada pela bebida. - Eu devia ter vindo a mais tempo, Aysha!
Cléo era quem as convidara, conhecia a maioria dos corpos que se movimentam na pista de dança ou pelos cantos escuros - ou não - da casa. Ash já havia participado de algumas festas, mas nada que não passasse de sociais na casa de amigos ou algumas baladas.
Um cara loiro aproximou-se de Cléo e começou a falar em seu ouvido. Eles estavam absortos. Angeline curtia com alguns conhecidos da escola. Aysha pegou um pouco de bebida e se distanciou da confusão da festa. Entrou e foi para a varanda principal, na frente da casa. Sentou-se no banco e bebeu um pouco.
_ Criança?
_ Olá... - Suspirou.
_ Por que está sozinha? - uma sombra projetou-se no canto da varanda, próximo a ela. As luzes pisaram e apagaram, única iluminação provinha das luzinhas coloridas que passavam pelas cortinas entre abertas da casa e a luz amarelada dos postes da rua - Não está se divertindo com suas amigas?
Outro suspiro, mais profundo que o anterior. Sua alma estava tão pesada quanto seu corpo. Aysha sentia as vibrações que Ele emanava, a curiosidade pelos sentimentos humanos e a dúvida.
_ Você não devia estar aqui se preocupando comigo. - Levantou-se, esticou os braços e bateu levemente os pés no assoalho de madeira com os saltos. - Acho que estou ficando velha para noitadas.- conferiu a hora no celular. - Vou para casa.
Virou-se e foi avisar as amigas que estava de partida. Elas tentaram convencê-la a ficar, alegando que era longe de mais. Gentilmente ela negou e saiu da festa pelo portão lateral do jardim.A noite estava fria. A primavera chegava ao fim e dava lugar à noites mais longas e preguiçosas do outono. Os saltos estalavam no concreto como madeira em brasa, crepitante. O vestido que insistia em subir ao longo das ruas abandonadas e o cabelo que caia em seus olhos.
Uma sombra cruza seu caminho.
Aysha joga-se contra a parede mais próxima, tira o saltos sem fazer movimentos bruscos
Para e ouve.
Gatos brigando por território, uma sirene ao longe, mas nenhum passo.
_ Estou aqui.
Tudo estava irregular: pulso, mente e respiração. Ela não se encontrava.
_ Estou aqui!
Ela estava na sala quando eles chegaram pela quarta ou quinta vez. Estava com o corpo exaurido, mas a mãe já havia recebido o dinheiro e eles queriam a prestação do serviço.
Seguraram-na.
_ AYSHA!
Ela gritava.
Ele gritava mais alto em sua mente.
Passos. Passos próximos.
Voltava a si quando uma rajada de vento frio varreu os primeiros sinais do outono do chão.
Ela correu. Com músculos contraídos olhava para trás a tempo de ver uma sombra no início do beco que começava a se mover.
O beco era longo. Longo de mais.
Vamos, garota. Corra. Corra! Sua me te estava absorta em caos, seu corpo dolorido e letárgico pelo álcool.
_ Não. Não! NÃO! - Repetia ao perceber que não havia saída.
Ela não podia deixar aquilo acontecer; repetida e repetidamente. Seu corpo invadido e violado.
A única solução era retornar alguns poucos metros e alcançar as escadas.
Ao virar-se percebeu que não havia mais tempo.
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DIVISION - O Tempo não Para
Fantasi"Ela estava quebrada de mais para se preocupar com as consequências que viriam a seguir. Ela só queria que aquela dor acabasse e que alguém, em todo o universo, a ouvisse chorar e cuidasse de suas feridas." Aysha era nova de mais quando tudo começ...