— Calabouço? — Murmurei tentando não entrar em pânico.
— Será seu castigo Maria.
— Mãe, eu imploro, tudo menos o calabouço.—Tentei manter a calma, mas o tremor em minha voz me traiu.
— Pode levar a garota. — Disse ela ao guarda mais próximo.
Johnny, o guarda real que costumo conversar quando estou solitária, bom podemos dizer que nossa relação é muito mais que apenas conversas. Ele é meu melhor amigo, me conta praticamente tudo e eu também lhe conto sobre tudo.
Segurou meu braço e me levou pelos corredores do castelo contra minha vontade. Pânico corria em minhas veias, o suor gélido descia sobre a minha testa, não pude acreditar que ela usou o meu maior pavor como castigo.
A escuridão.
— Johnny, imploro não me largue lá. — Murmurei em meio às lágrimas enquanto me debatia contra a força desproporcional de seus braços.
— Catherine, você sabe que não posso desobedecer ordens da realeza. — Sua voz era como pedido de desculpas.
— Te imploro por favor, Johnny. — Aqueles olhos cheios de pena encontraram os meus.
— Irei deixar uma vela para você lá, mas se for pega, diga que roubou ou algo semelhante. Sei que tem pavor do escuro Mary.Me tranquilizei ao ver falar a verdade e a preocupação em seu rosto . Pegamos intimidade quando ele foi colocado como meu guarda pessoal, somos um par perfeito, eu falo desproporcionalmente e ele me ouve com atenção e admiração. Sorrir de minhas piadas e trocadilhos, lhe falo sobre sonhos, anseios e medos.
Ele é meu melhor amigo e um ótimo ouvinte.Meu corpo tremeu é meu estômago de embrulhou ao ouvir o barulho da cela se abrir, e piorou quando senti seu odor. Exalava dor, suor, choro e sofrimento. Senti os pelos de meu
corpo se arrepiarem ao entrar na sala gélida e escura.— Mary, prometa-me que se for pega com esta vela não irá me entregar? — Pude ver suas mãos tremerem.
— Johnny, você acha mesmo que te entregaria? — abracei meu próprio corpo.
— Porra ela poderia me deixar longe de você, se perceber que lhe ajudo. — Seus olhos se estreitam e sua voz ficou áspera.
— Desculpe-me John.
— Droga Mary, que porra você estava pensando? Foi para a cachoeira com as gêmeas e achou mesmo que Isabel não perceberia? Não sabe ela só quer um pequeno motivo para lhe castigar? — Sua voz suavizou-se e seu olhar era de preocupação, medo.
— Sabes que dia é hoje? Provavelmente se esqueceu.- Minha voz tremeu.
— Mary acha mesmo que iria esquecer seu aniversário? — Ele apoiou os braços nas grades e abaixou a cabeça — Estava planejando te visitar em seu aposento após todos estivessem adormecidos e apenas os guardas estivessem acordados. Fiz um pequeno bolo e iria te parabenizar, não sei se já esqueceu, mas a Isabel proibiu os guardas de lhe referir palavras de conforto ou parabeniza-lá.
— Não me esqueci, John. — Pigarreei — Mas poderia escrever um bilhete ou algo do tipo.
— Esperarei todos dormirem, e apenas os guardas reais estiverem de pé. Visitarei você no meio da noite, trarei cobertores e algo para comer. — Ergueu seu olhar, e os olhos castanhos claros encontraram os meus.
— Cuidado John, não se arrisque muito por mim.
— Você sabe, Mary. Arriscaria minha vida por você, quem dirá um cargo no trabalho.
Johnny segurou meu rosto em suas mãos quentes, beijou minha testa e saiu. Trancou a cela e o vi desaparecer na escuridão do calabouço.FIQUEI PARALISADA POR MAIS ALGUNS
minutos, até que liguei a vela que ele me dera e sentei-me em um colchão velho e úmido. Sem muito o que fazer, fiquei parada ali sentada olhando para o nada, pensando se meu pai me salvaria daquilo, ou se seria tio James. Será se Aiko já estará dormindo? Esther estará escrevendo suas histórias de amor? O que Isabel está fazendo nesse momento?
Minha cabeça rodopiava em um lupem de perguntas e respostas tolas.
Até agora que algo chamou minha atenção, um brilho vindo no final da cela.
Logo me pus em pé, e como uma boa enxerida que eu sou fui ao encontro do pequeno brilho, pouco menos que um vaga-lume, me surpreendi ao ver o que era.
Um diário.
Um pequeno diário de bolso, com a capa vermelho sangue e um símbolo esculpido em bronze na capa em formato de uma libélula.
Minhas mãos trêmulas e gélidas alcançaram o pequeno caderno, mas quando as pontas de meus dedos tocaram nele, eu vi.Uma mulher de cabelos ruivos, grande e esvoaçantes, e junto a moça havia um rapaz.
James, eu mal pude acreditar.
Jovem e menos forte do que é hoje, conseguia caminhar e sentir a grama em meus pés e a brisa suave que soprava sobre meu rosto.
Cheguei mais perto para vê-los, e vi seus olhos, os olhos de James verde-claro brilhava como as estrelas.
— Fiz algo para você querida. — James segurou as mãos longas e pálidas da moça, e colocou o diário sobre elas.
— James! Onde conseguiu isso? — Os olhos do castanho escuro da moça se arregalaram e um sorriso tomou conta de seus lábios.
— Eu mesmo fiz. — Ele se aproximou e a beijou na testa. — Fiz para você guardar seus pensamentos mais belos e os mais obscuros.
— É uma libélula. — sussurrou ela
— No Japão ela é associada a felicidade, coragem, força e prosperidade. Elas me fazem lembrar você, sua força, sua coragem destemida, e a felicidade que nunca acaba, por mais que as coisas andam difíceis, você sempre está sorrindo e feliz. E a prosperidade que você traz em suas mãos, toque em qualquer árvore que está perto de seu fim, e ela voltará a vida.
— James... — disse a jovem em lágrimas.
— Eu te amo, mais do que já amei qualquer mulher. E sei que onde eu estiver existindo uma libélula, você estará comigo.
James segurou a jovem em seus braços e a beijou.
Voltei a realidade com a voz de Johnny me chamando do lado de fora da cela.
— Mary?Não me mexi até entender o que estava acontecendo.
Como isso aconteceu? A pergunta certa é o que aconteceu aqui? Eu só poderia, está ficando loca.
Alucinações, é isso apenas alucinações pelo medo e o escuro.
Melhor ficar calada sobre isso, até mesmo de John.
Podem achar que enlouqueci de vez.
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A Princesa de Fúria e Fogo
FantasyPrincesa de Kingdom of Ares, Maria Catherine ao completar 17 anos encontrou um diário e começou a ter visões que alternavam entre passado, presente e futuro. A cada página lida ela chega cada vez mais perto da verdade que seus pais tentam esconder.