Capítulo I - A luz que finda

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— E o que acha que vai conseguir? Reconhecimento? Aprovação? — uma voz jovem e séria se espalha pelo quarto, fazendo com que o alvo dos questionamentos pense sobre o que deveria dizer.

E depois, um suspiro. Um suspiro longo e extenso que pausa o raciocínio da garota, que delibera virar-se de costas apenas para encontrar um olhar complexo. Deu uma boa olhada no ambiente ao redor, afinal, poderia ser a última vez. Seu irmão estava próximo a uma porta chique e ornada com ouro e gravuras que complementam as paredes feitas de mármore reluzente, cuidado e mantido ao ponto de parecer ter sido renovado apenas alguns minutos atrás. As extremidades eram decoradas com outro tipo de material: madeira. Amarronzada e com pequenas frestas internas.

Todos esses elementos traziam à garota uma sensação única de sufoco. Como poderia um mero quarto ser feito de forma tão desnecessariamente excessiva? Não conseguia conceber a resposta que sempre a davam, "Um quarto digno de uma princesa!". Apenas de pensar naquilo ela sentia uma raiva dentro de si. Portanto, apenas entrava em seus aposentos para dormir, trocar de roupa ou — em caso de não ter outro ambiente para tal — fugir de sua rotina.

— Sabes que não, Orfeu. — a jovem expressa enquanto cruza os braços para tentar manter uma pose mais digna, ao mesmo tempo em que balança a sua cabeça para afastar os pensamentos que estava tendo. — Estou há tempos avisando de meus objetivos.

— E eu estou há tempos tentando convencer você de não tomar uma péssima decisão! — a voz do rapaz se eleva momentaneamente e ele dá passos alguns passos rápidos para frente, trazendo a tona a personalidade verdadeira do mesmo, aquela que a sua irmã conhecia desde sempre. — Não posso crer que realmente vê seus hologramas como algo além de entretenimento, então só poderia ter outra razão.

— Não é entretenimento, como pode saber. — adotando uma leve expressão de beicinho e seu braço ainda mais cruzado, a princesa inadvertidamente havia piorado a situação para com o seu irmão, que mais uma vez se lembrava da falta de experiência dela com a vida real.

— Calíope. — ele se aproxima e coloca as mãos nos ombros da mesma, que agora tinha que olhar para cima se quisesse encontrar os olhos do garoto. — Eu, mais que todos os nossos irmãos e irmãs, compreendo sua aflição. Sair do palácio, das mãos do nosso pai e da nossa mãe! É tentador, mas certamente não... assim!

— O que quer dizer com assim? — ela questiona tentando se afastar lentamente, falhando em manter contato visual por tempo prolongado.

— Indo para Xey? Esta é sua ideia de primeira missão fora do perímetro?

Se acanhado e virando o rosto para o lado, Calíope balbucia o início de algumas palavras e falha em completar todas elas, eventualmente perdendo as chances de uma linha de raciocínio viável. Ela tinha certeza de que deveria seguir a pista dos hologramas históricos que viu, independente de onde fosse.

As ruínas da primeira civilização? O berço da humanidade? Tal descoberta poderia trazer à tona muitas respostas necessárias sobre a cultura de tanto tempo atrás. Apenas de pensar sobre isso seus olhos brilhavam, o suficiente para acalmar seu coração e escolher outra aproximação para a conversa.

— Orfeu, escute. — Calíope coloca uma mão em cada lado do rosto de seu irmão, encarando o mesmo com firmeza. — Não gosto que trate isso como mero capricho de minha parte, gostaria que tratasse como um projeto. Creio que saiba o tipo de coisa que a Astraea fazia em minha idade, tudo em nome de suas pesquisas.

— Mas... — ele hesita antes de prosseguir. — A Astraea é a Astraea, Cali. Ela não ousou desbravar os planetas mais perigosos do perímetro, quanto mais um dos mais perigosos fora dele!

Eu era o SolOnde histórias criam vida. Descubra agora