Capítulo V - A canção do Sol

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— Por quanto tempo pretende me encarar?

Calíope questiona ríspida, já incomodada com a situação atual. Pelos últimos trinta minutos — ou mais do que isso, a diferença era quase imperceptível por conta do desconforto que sentia — ela estava sentada frente a frente com Allegra. A sua irmã, por sua vez, parecia estar confortável e serena, mantendo um sorriso gentil a todo momento.

Mesmo quando encontrava a mais velha apenas casualmente nos corredores do palácio, Calíope sempre saia sentindo-se incomodada pela forma a qual Allegra a olhava e aquele sorriso apenas amplificava as sensações ruins.

— Só quero ficar aqui para a despedida temporária de minha irmã, Cali.

Ela responde suavemente, sem mudar a expressão.

— Tens algo em mente? — Calíope questiona ficando cada vez mais irritada, certa de que havia algo errado nessa situação inteira. — Além de esperar que eu me prove nesta missão, claro.

— Não creio que essa conversa dará-lhe o que busca. Eu não sou a pessoa que acha que sou.

— Então quem és, Allegra?

Alargando o sorriso, a mais velha se aproxima sutilmente de sua irmã, mas antes que pudesse abrir a boca para respondê-la, ambas ouvem batidas na porta. Isso frustra Calíope, que apenas olha com suspeita para Allegra, que dá de ombros e volta para como estava em sua cadeira.

— Entre.

Com isso, um homem de meia idade bem vestido entra na sala, curvando a cabeça para cada princesa em reverência. Com brevidade, ele repassa as informações que trouxe.

— Princesa Calíope, o seu veículo está pronto para partir.

— Certo, já estou indo.

As duas princesas se levantam ao mesmo tempo, caminhando até a porta aberta. Porém, antes que Calíope pudesse sair, Allegra segura a sua mão e a puxa até si, abraçando-a carinhosamente e se aproximando de seu ouvido, sussurrando.

Vejo-te depois, exploradora.

Sentindo um arrepio subindo pelo seu corpo, a mais nova pensa em se afastar do abraço bruscamente, mas não o faz. Evitando contato visual, ela espera Allegra se afastar por conta própria, e ela faz isso pouco depois do sussurro. Virando-se novamente para a porta, Calíope sai com passos rápidos, evitando olhar para trás.

Seguindo os corredores, ela demora bem pouco para alcançar a plataforma de decolagem, tanto por sua familiaridade com o local quanto por sua pressa. Vendo a estrela da capital se pondo mais uma vez, ela toma um tempo para se banhar naquela luz do lado de fora. A vista da cidade era bela como sempre: um símbolo de avanço e de cultura, dispondo da maior diversidade de costumes e tecnologia de toda a extensão do Império. Monumentos e pontos de importância se encontravam em praticamente toda rua, e todo mês havia um festival, visto que a população ainda comemorava a revolução, que parecia se manter recente na consciência coletiva mesmo após trinta anos.

Os privilégios dos festivais e das zonas mais seguras não se mantinham só com os ricos. Por conta do passado público do atual imperador, investimentos pesados foram feitos nas áreas com maior necessidade, e "segurança" era quase o lema da gerência de Atlas, o irmão mais velho da família Caelum.

Calíope gostaria de vivenciar tudo que seu planeta tinha a oferecer, porém não tinha as chances de fazê-lo. As festas que a obrigavam a ir não eram remotamente tão interessantes quanto as que ela observava do topo do palácio desde sua infância. A pior parte para ela foi ter sentido o gosto daquela celebração, lembrando-se constantemente da sensação do único dia que conseguiu fugir, mesmo que tenha sido por poucas horas e resultando no dia de muita gente piorando pelo caos gerado.

Eu era o SolOnde histórias criam vida. Descubra agora