Capítulo III - Aos pesares da alma

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— Já tamo quase lá.

A voz de Sol corta o vento, que estava uivando sozinho por horas. A garota demora para processar, soltando um "hã?" quase inaudível antes de responder. Ela volta a pensar e olha para os arredores, buscando algo diferente, mas é o mesmo de sempre.

Neve, gelo e a sensação de estar sendo observada.

Calíope não estava contando, mas se surpreenderia se soubesse quantas vezes fez isso nas últimas horas. E todas as vezes sentia dor de cabeça pelas memórias que ameaçavam inundar sua mente.

— Falta pouquinho.

— Para...?

A princesa questiona genuinamente, sem lembrar do que estava fazendo. Sol abaixa a cabeça e murmura algumas frases, mas decide ir direto ao ponto com seu tom de sempre, mesmo estando preocupada.

— Pra nóis chegar, uai.

— Ah. — o tom desinteressado da princesa causava desconforto na mulher, que estava acostumada com seu lado tagarela. — Entendo.

Sol era uma mulher alegre. Ela se via desse jeito e muitos outros concordariam. Ainda assim ela não falava muito. Não era por uma questão de timidez, ela só preferia se manter em silêncio caso não tivesse nada para falar. E isso nunca foi um problema, na verdade Sol preferia ser assim, ela odiava preencher silêncio desnecessariamente.

E, por alguma razão, aquele momento estava deixando ela desconfortável. A mesma mulher que viveu toda a sua vida com essa atitude de falar pouco estava com vontade de falar muito. Ela queria ouvir a princesa falando pelos ombros e soltando perguntas estranhas em momentos igualmente estranhos. Era divertido de uma forma única, e até ela estava se sentindo induzida a fazer mais brincadeiras.

Afinal, não era sempre que Sol estava acompanhada.

— Inclusive, desculpe viu.

Sol fala a primeira coisa que vem a sua mente, com uma esperança grande de que dê certo.

— Por que?

— Destruir a cidade, derrubar as coisas, sei lá. — ela justifica seu pedido de desculpas e dá de ombros, sendo recebida com silêncio. — Eu sei que tu ia querer ver mais depois da gente dar cabo daqueles diabos.

Enquanto termina a sua frase, Sol sente a garota tremendo e balançando a cabeça por um instante. Assim que se vira para trás, ela vê a princesa encolhida e com as duas mãos no rosto, gemendo de dor. Ver ela dessa forma era terrível, pois ela sabia exatamente o que estava passando na cabeça dela.

Nesse momento, Sol — que estava se sentindo uma idiota — lembrou do estado de Calíope quando as duas se encontraram no fim da batalha.


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O punho de Sol encontrava mais uma vez o rosto da comandante, dessa vez com impacto o suficiente para arremessá-la para longe. A luta havia acabado, tinha sido fácil demais. A mulher se aproxima da soldado lentamente, vendo as tentativas desesperadas de sobreviver.

— Sua m-maluca... desgraçada...

— Cês tão tratando a menina como se fosse um pedaço de carne e eu que sou maluca?

A comandante estende seu braço o máximo possível para alcançar a sua arma, mas tem a sua mão pisada por Sol, que estala a língua e aponta as extremidades do seu dedo do meio e indicador para a mulher no chão.

Eu era o SolOnde histórias criam vida. Descubra agora