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— Você não fez isso. – Ayuno ria baixo.

Ayuno era meu melhor amigo desde que chegamos no recife. Ele me ensinou tudo o que sabia da tribo, desde os costumes até as pessoas. Ele quem tem acompanhado todos os meus surtos com Ao'nung que estavam cada vez mais recorrentes.

— É claro que eu fiz, você me conhece. – resmungo de volta.

Estávamos eu e ele sentados perto de onde Ao'nung costumava ficar conversando com os amigos. O sol iria embora em breve e ele não tinha aparecido ainda, vai ver estava com outra pessoa ao invés de estar ali pra me ver. Humpf, ridículo.

— E como você tá com isso? – meu amigo me perguntou enquanto os olhos seguiam Lo'ak pela areia. Reviro os olhos ao perceber.

— Para de secar meu irmão! Ele tem namorada. – Ayuno bufou e empurrou meu braço.

— Não pode olhar? Ele é bonito. – resmungou de volta.

— Você acha justo que o Ao'nung me coma durante a noite, e de dia fique de graça com outras meninas? – pergunto incrédulo – Aliás, tem mais essa. Onde já se viu? Ele diz que eu sou uma "excessão". Vê se pode!?

— Vocês têm alguma coisa? – Ayuno perguntou.

— Bem... Não. Mas...

— Eu sempre concordo com você, Nete. Mas dessa vez, não tem como. Vocês não têm nada, então você não tem que cobrar ele por isso. – deu de ombros e eu suspirei, lhe encarando por alguns segundos.

— Quando eu olho pra você, eu me pergunto: realmente vale a pena dar local de fala pra gay? – Murmuro e ele começa a rir.

Vejo uma movimentação conhecida se aproximando e cruzo os braços, observando Ao'nung caminhando até a nossa frente com os amigos. Ao chegarem ali, ele me encara e sorri, me fazendo apenas fingir indiferença e olhar para o lado oposto. Ao'nung se sentou em uma rocha, ficando largado.

Por que você tem que ser tão lindo, filho da puta?

— E aí, Sully. – fez sinal com o dedo – Vem cá.

— Dispenso, estou bem aqui. – respondo com um sorriso falso.

— Tem medo do Ao'nung, Neteyam? – Rotxo pergunta de forma brincalhona.

— Mas é claro! Me tremo de medo dele. – ironizei, encarando Ao'nung que tinha a expressão séria.

— Eu sei, sou intimidador. Mas não se preocupe, vou ser gentil com você. – escutei suas palavras e pude perceber nitidamente o duplo sentido em sua frase.

— Novamente, eu dispenso. – Murmuro, olhando para Rotxo – Sabe como é, não vai pegar bem eu andar com vocês.

Repeti as palavras que Ao'nung me dizia quando estávamos sozinhos e o vi fechar as mãos em punhos. O maior se levantou do chão e andou até mim, ficando em minha frente.

— O que você tá querendo com isso? – murmurou quase inaudível.

— Eu é que te pergunto. – Murmuro de volta – Era pra fingir que não te conheço em público, esqueceu?

— Eu já te pedi desculpas por isso, Neteyam. – ele disse meu nome de forma firme, me fazendo arrepiar. Amava quando ele era marrento daquele jeito.

— É, mas eu não esqueci. – o empurro levemente – E outra, você já deixou claro que não quer nada comigo. Me deixa em paz. Esqueceu do que me disse ontem?

— Mas eu não vim atrás de você! Eu só... Tava dando uma volta e te encontrei aqui por acaso. – tentou disfarçar, coçando a nuca.

— Que bom que não veio atrás de mim porque perderia seu tempo. – sorrio para ele e passo os dedos em seu peito exposto – Porque, a partir de agora, você vai se contentar com punhetas.

Rio baixo e dou dois tapinhas em seu peito, indo embora junto com Ayuno, soltando uma gargalhada ao ouvir Ao'nung dizendo "eu vou te pegar e você vai se arrepender".

Veremos, meu amor. Veremos.

Can't Stop Loving You (Neteyam/Aonung + aonunete + netenung )Onde histórias criam vida. Descubra agora