Spit of you

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Eu sempre fui muito parecida com você. Tanto fisicamente quanto no temperamento. Costumavam dizer que eu era inteligente como a minha mãe mas o seu genes equilibrava me tornando menos sabichona e mais arteira. Esses comentários vinham dos professores, familiares e recém conhecidos em festas desde que eu me entendo por gente.

Talvez por ser tão parecida com você seja tão difícil não poder contar para você o quanto meu estômago parece ter vida própria enquanto o táxi me leva para o aeroporto. Ou te contar que estou indo para o aeroporto por uma atitude ridiculamente apaixonante de Scorpious, o qual decidiu voltar para casa de avião e não por um portal, para que pudesse viver uma cena como nos filmes que Hermione nos fazia assistir quando crianças.

Eu queria também te falar sobre ela, mas eu nunca soube se você queria ouvir. Na verdade eu só tenho sentido vontade de te falar sobre coisas que você não quer ouvir, não é mesmo? Por isso eu sigo falando comigo mesma nesses monólogos que parecem intermináveis.

Eu não queria ter que escolher entre ele ou você. Eu não queria que o seu afastamento me aproximasse tanto dela. Eu não queria sentir como se traísse você, mas eu simplesmente não soube como lidar com as sensações que me assolavam e bem, você preferiu se manter distante. Não que eu te culpe, declarar meu amor por quem eu declarei não é algo que eu esperava que te agradasse, por mais que todo o meu ser pedisse ao universo que você não se importasse.

Mas eu preferia que você tivesse falado, mesmo que decidisse por esbravejar contra mim sua raiva. Eu preferia do fundo do meu coração que você tivesse ao menos falado comigo. Naquela noite, no dia seguinte e em todos os dias que sucederam a minha recuperação até o gesso por fim se tornar apenas uma faixa e meus movimentos voltarem.

Eu queria que você tivesse estado na sala naquele dia quando eu levantei, e não que Hugo tivesse te contado pela porta, fazendo com que eu ouvisse apenas a sua frase morna de conforto, declarando que sempre acreditou que eu conseguiria.

Você dizia que eu conseguiria tudo o que eu quisesse, mas o que eu faço se tudo que eu quero é que você coexista harmoniosamente entre meu namorado e minha mãe?

Desci do táxi tentando compreender a confusão sem igual que era aquele aeroporto. Completamente diferente do que os filmes mostravam, eu me peguei rindo pensando o quão desastroso seria ter que correr até o portão de embarque de Scorpious se eu estivesse tentando fazer com que ele não fosse embora.

Mas o riso logo se foi. Eu não queria cogitar a possibilidade dele partir novamente, não depois dos últimos dois meses sentido dia após dia meu pai partir da minha vida sem uma palavra sequer.

Encontrei o portão de embarque de Scorpious e retirei a placa de identificação com o desenho de uma doninha, esperando que isso o fizesse rir e não esquecer que eu sempre seria eu.

Aquela eu que tinha um tanto de Rony Weasley que apertava em meu peito a saudade.

Porém o aperto se dissipou por um par de segundos enquanto o loiro que eu esperava apareceu com os olhos atentos tentando me encontrar em meio a pequena aglomeração. Meu sorriso quase fez meu rosto doer, mas na mesma intensidade em que ele tomou conta de mim ele se dissipou ao ver quem estava atrás de Scorpious.
— Mas... — fui interrompida pelo meu namorado que apressou os passos e passou a segurar meus ombros projetando seu corpo a minha frente.
— Tente não ficar brava comigo — ele pediu com aquele sorriso de canto de lábios que eu havia sonhado pelos últimos meses — Ele aceitou falar comigo depois de alguns longos dias de incessantes ligações e me encontrou em Berlim — enquanto falava meus olhos vacilavam entre seu rosto e a curva de seu pescoço que quase me permitia ver a figura do ruivo que parecia um pouco mais arrumado do que eu estava habituada a ver — Ele me ouviu, mas acho que agora ele precisa te ouvir — Scorpious completou e colou seus lábios em minha testa — E depois disso essa será a última vez que eu não te beijo na frente de todo mundo — essa frase me fez rir e desejar que ele mudasse de ideia e passasse agora mesmo a me beijar na frente de todo mundo, já que apenas isso parecia vir a ser capaz de me dar forças para enfrentar o que estava a minha frente.

Why Can't We Be Friends?Onde histórias criam vida. Descubra agora