Esse daqui foi sem dúvidas o que eu mais enrolei para escrever e sempre pela a mesma causa: primeiro pensei em escrever sobre a Cattedrale di Palermo e depois sobre o fim do arco da fazenda dos Verger, mas coincidentemente não consegui desenvolver nenhum dos dois, então optei por essa noite, mais simples e igualmente dramática. Só espero que tenha conseguido passar tudo direito.
Eu só queria que você fosse um homem melhor, Hannibal.
Eram quase meia-noite quando Will Graham retornou ao hotel em que estava hospedado, com o cansaço e o estresse de mais um dia de trabalho pesando sobre seus ombros. Apenas duas coisas se passavam pela a sua cabeça: um banho demorado e ouvir a voz de Abigail. Will não se sentira seguro em deixá-la para trás junto dos cachorros, não com o Fada dos Dentes solto por ai e entre inúmeros outros motivos, mas Jack fora insistente, e cá estava ele. Uma vez dentro do quarto, ele fez as duas coisas.
- Olá, Abigail.
- Alô, Will - ela respondeu, fazendo-o sorrir. Notou o sorriso na voz dela e alguma música ao fundo, soando em uníssono com o latido dos cães. Um pouco mais atento, ele percebeu certa agitação vinda da parte dela, também.
- Você está sorrindo - ele afirmou. - Tem mais alguém aí com você?
- Ah, não. - Ela respondeu. Will sentiu-se aliviado e preocupado ao mesmo tempo. Ele esperava que Abigail fosse capaz de superar Garet Jacob Hobbs, as garotas que ele assassinara, Hannibal Lecter e todo o resto e se tornar uma garota feliz, mesmo que isso significasse perdê-la para amigos e um possível namorado. A mera possibilidade era uma das causas dos conflitos internos de Will. - Foi só o Tesão, só isso.
Aquilo pegou Will de surpresa, que se engasgou com o susto e largou o telefone, deixando uma Abigail confusa do outro lado da linha: - Will? - Após se recuperar da sequência de tossidas tomou de volta em mãos o aparelho, o rosto ligeiramente avermelhado.
- Abbie, sabe que eu aprecio a nossa intimidade e tudo mais, mas é que..
Ela riu gostosamente: - Eu 'tô falando do cachorro, pai!
Will não sabia se isso era humanamente possível, mas sentiu-se ainda mais vermelho com a resposta dela. Idiota. No entanto, ele já não mais sentia a cabeça incapaz e pesada, e seu coração aqueceu dentro do peito com aquele som tão doce. Ela me chamou de pai, ele sorriu.
- Oh - Will riu junto à adolescente, envergonhado e contente ao mesmo tempo, usando os dígitos para massagear a testa. - Eu esqueci dele por um instante. São cachorros demais.
- Eu ainda não entendi porquê diabos você chamou ele assim.
- Acho que por causa das bolas dele. - Will riu. - Ele tem bolas enormes.
Mais risadas vindas dela: - Acho melhor pararmos de falarmos do tamanho das bolas dele.
- Certo - ele assentiu, coçando o queixo. - Sinto a sua falta, principalmente de ouvir Taylor Swift com você. Essa música - de qual ex dela ela está falando mal?
- Eu não sei - Abigail respondeu. - Acho que é sobre o Jake Gyllenhall, não tenho certeza.
- É uma pena, eu gosto dele.
- O que você está fazendo? Além de pensar muito, eu espero?
- Lendo relatórios, comendo porcarias - ele respondeu, aconchegando-se junto aos travesseiros.
- Descobriram mais alguma coisa? Os jornais não dizem muita coisa, e eu segui o seu conselho e estou longe das coisas que a Freddie Lounds escreve. Posso ajudar?
Era exatamente sobre aquilo que ele não gostaria de falar.
- Ainda não tenho certeza de muita coisa, querida - ele disse, hesitantemente. Se ele não estivesse tão tenso, Will poderia perceber que Abigail sorria devido ao apelido. - Não há muita informação. Quero dizer, há muitas, mas não consigo pensar em nada. Falei sobre com Jack, e ele..
Não havia mais nada à dizer; o silêncio da parte dele já havia sido o suficiente. Mas o silêncio dela que tornou as coisas ainda mais piores.
- Desculpe, Abbie.
- Não acho que tenha culpa - ela disse, suspirando longamente. - Você está contra a parede, vocês todos estão. E se essa for a melhor maneira de resolverem isso.. Bem, eu realmente não tenho nada contra.
- Não pense que eu vou gostar disso - Will quis estapear à sí próprio por não ser completamente transparente com ela da forma que prometera, no entanto, precisava ser sincero consigo mesmo. Ele não gostaria de ver Hannibal Lecter depois de todos esses anos, mas também não era como se pudesse jogar o seu coração e os seus sentimentos no lixo - ele bem que gostaria, mas isso era impossível. Foi o seu turno de suspirar. - Mas isso vai acelerar as coisas, e então eu poderei voltar para casa mais cedo.
À quem ele mais queria convencer, à ela ou à ele próprio? Sentia saudades de tudo, até das pequenas coisas: de suas conversas no consultório, de sair em campo com ele, de seus momentos passados junto de Abigail; da diferença de altura entre eles, e da forma como Hannibal fazia-o sentir-se pequeno e protegido em seu abraço, e do calor convidativo que os seus braços emanavam; dos seus olhos, seus olhares gentis, direcionados apenas à ele.. da maneira que ele o fazia se sentir.. Observá-lo cozinhar era um espetáculo à parte.
Eu só queria que você fosse um homem melhor, Hannibal, ele pensou.
- Quando que você vai? - Abigal questionou, retirando-o delicadamente dos seus próprios devaneios.
- Estou pensando em ir vê-lo amanhã - ele respondeu, fitando o próprio colo. - O tempo está correndo. Quero voltar pra casa, para os cachorros e para você. Estou com saudades.
- Will?
- Sim, Abbie? - ele se atentou ao tom de voz dela.
- Se por acaso você pudesse voltar no tempo.. - Ela iniciou, hesitante. - .. Você fugiria com a gente?
Will mordiscou o canto dos lábios, incerto do que responder. Ele havia se preparado para aquela pergunta desde o dia em que acordara na cama daquele hospital com uma cicatriz no abdômen e uma ainda maior no coração, mas nem todo o tempo possível seria capaz de prepará-lo para aquele momento. Era hora de aceitar os fatos.
- Eu me arrependo de muitas coisas, Abbie - Will Graham respondeu para o silêncio do outro lado da linha, para o fantasma do que um dia foi Abigail Hobbs. - Não fugir com vocês com certeza foi uma das piores decisões que tomei na vida, principalmente pelo o que se seguiu.. Eu teria dado a minha vida de bom grado se isso significasse que você continuasse viva.
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- Está pensando demais, Will - Hannibal Lecter disse do outro lado do vidro chamando-lhe a atenção e tocou a estrutura, pois essa era a maior proximidade de que seria permitido a chegar perto de Will. - Fique comigo.
- Eu não vou à lugar algum - Will repetiu, desviando o olhar para os próprios sapatos. Ele tinha razão: não havia como ficar longe dele, não com a tamanha força do vínculo que os unia pelo o coração. Da mesma forma que Will precisava aceitar a morte de Abigail pelas as mãos de Hannibal, ele também precisava aceitar que não conseguiria ficar longe dele, apesar de todos os atos terríveis que ele cometera.
- Então responda-me - Hannibal pediu, suavemente. Will fixou o olhar na mão que tocava o vidro, terrivelmente tentado a sentir o toque do ex-doutor na sua própria, sentindo-se horrível por tal anseio. - Foi bom me ver?
- Ver você? - Will questionou de volta, tolamente. Hannibal mirou-o com expectativa, mas a única resposta que recebeu foi mãos apanhando documentos e o homem que ele amava dando-lhe as costas - mais uma vez. Seus olhos endureceram ao fazê-lo, tal qual a sua voz. - Não.
E Will deu-lhe as costas e caminhou para a entrada da sala lutando contra o ímpeto de correr para longe de Hannibal, daquele lugar e do restante do mundo, mas ele sabia muito bem que aquele estava bem longe de ser o último encontro dos dois.
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Folie à Deux.
AcakQuatro das noites mais importantes que Will e Hannibal passaram juntos através do meu ponto de vista. - Postada também no Spirit Fanfics: monghertaustars. 🎨: traystreeter no tumblr. | hannigram • short-fic • drabbles • 4/4 |