O mundo como conhecemos chegou ao fim. Não foi como nos filmes, grandes forças da natureza agindo para retomar o que era deles, mas sim, por nossa própria ganância. Após uma série de guerras e o uso de armas nucleares, pouco se restou sobre a face da Terra. Continentes inteiros foram dizimados, mares evaporaram e inúmeras espécies foram extintas. Apesar disso, a humanidade não desapareceu. Sempre fomos uma espécie persistente, e pequenos grupos sobreviveram. Eles viram-se obrigados a viver como homens pré-históricos, sem acesso a qualquer tipo de tecnologia ou desenvolvimento que tinham alcançado. Com o passar do tempo, as grandes civilizações do passado (ou seriam do nosso presente?) foram gradualmente esquecidas.
Foi quase como... Quase como se o mundo tivesse sido reiniciado. Dizem que a história sempre se repete, no entanto, seu curso parecia estar preso em um ciclo. As pessoas continuavam a agir como no passado, recriando eras pré-históricas, antigas, medievais e modernas. Embora as figuras importantes, as religiões, as guerras e seus motivos fossem diferentes, a humanidade evoluiu de maneira similar. Ela passou pelos mesmos estágios de desenvolvimento social e tecnológico, equivalentes eras históricas, ainda que as circunstâncias específicas fossem diferentes.
O presente (ou talvez o futuro-passado?) onde nossa história se passa se equivale à Belle Époque. Grandes vestidos, os primeiros carros e telefones estavam sendo redescobertos pelos humanos, porém, pareciam ter estagnado ali: aquela era vitoriana já estava em seu segundo século. A tecnologia não avançava, a moda não mudava, e assim o mundo seguia. O tempo parecia desacelerado e as inovações demoravam a aparecer. Não que o povo soubesse, afinal, eles não faziam ideia do ciclo em que se encontravam presos.
Neste mundo, onde o futuro se confunde com o passado, haviam vários reinos governados por reis e rainhas de pulso firme, que viviam em seus castelos, cuidando de suas cidades e vilas. Em um desses belos reinados, havia um jovem monarca que acabara de assumir o trono e já tinha que lidar com um grande problema: uma nova praga, uma pandemia que finalmente alcançou seu reino.
Os infectados pelo vírus do lamiofagismo, nome dado à doença que assolava o reino, enlouqueciam. A exposição ao sol causava graves queimaduras, pois suas peles se tornavam extremamente sensíveis. Seus estômagos, fracos pelo vírus, tornava-os incapazes de ingerir alimentos, principalmente aqueles com sabor pungente, como alho ou pimenta. Aqueles que não morriam de fome ou queimados acabavam se tornando loucos, sobrevivendo por meio do canibalismo, a única coisa que parecia os saciar. Com o passar do tempo, longe da luz solar, suas peles se tornavam cada vez mais pálidas, e seus olhos tendiam a mudar de cor, resultado de sua alimentação exótica, como se o sangue ingerido misturasse-se aos tons de castanho, azul e verde.
Sem cura para a doença e sem uma solução para o crescente número de infectados, o jovem rei tomou uma decisão severa: todos os infectados e aqueles que serviram de alimento para eles, caso ainda estivessem vivos, deveriam ser assassinados e seus corpos, queimados em uma grande vala.
Não houve clemência: todos aqueles que haviam entrado em contato com o vírus foram mortos em menos de um mês. Os casos da doença foram diminuindo gradualmente, até que não houve mais nenhum registro. Se houvesse algum sobrevivente, certamente não ousaria sair de seu esconderijo, pois seria linchado pela população enfurecida.
Por fim, a doença foi declarada erradicada. Ninguém se importava em lembrar da praga que havia assustado a população, como se ela nunca tivesse existido. Mas será que estavam verdadeiramente salvos?
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Éons de Sangue
Vampire"Éons de Sangue" é uma história breve e eletrizante sobre uma caçadora de vampiros que, ao investigar um misterioso vampiro em sua cidade que ameaça atacar a realeza, descobre que seu principal pretendente pode estar envolvido com as criaturas das t...