cinco dias.

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Shouto estava quieto observando o lápis que girava entre os seus dedos enquanto tentava ignorar completamente o mundo ao seu redor. Para ele, ver aquele objeto girar e distorcer o espaço era a coisa mais fascinante que ele poderia prestar atenção no momento.

Era uma segunda feira tão entediante que mais parecia um dia preguiçoso e interminável, mas esse parecia ser um sentimento unicamente seu, levando em consideração que a sala estava animada, rindo e brincando como se fosse o final de uma sexta feira. Ele sentia dó da professora de Filosofia que tentava explicar sobre alguma coisa que ele não fazia questão de prestar atenção — observar o seu lápis perpassando por entre os seus dedos finos era mais divertido que escutar alguém falando sobre Platão ou o Mito da caverna. E honestamente, tudo o que remetia a Filosofia e conhecer o seu "eu interior" o deixava com preguiça. Seu lápis pareceu ser contra aquele pensamento e saltou de seus dedos, caindo no chão e rolando para a cadeira do lado. Ele olhou tudo aquilo com um semblante de puro tédio e nem sequer se moveu para pegá-lo de volta, afinal, era só um lápis e eles tinham vários de sobra.

­Um suspiro pesado escapou de seus lábios, e preguiçosamente ele olhou as horas em seu celular. Faltavam dois minutos para que ele pudesse ir pra casa, se trancar em seu quarto e mexer em seu celular enquanto ignorava que precisava ter uma vida social e consequentemente que precisava de um emprego. Ele havia brincado de não existir por 18 anos, e a ideia de precisar agir como um adulto após o término do ensino médio o deixava estranhamente ansioso.

Ele sentiu dois tapinhas em seu ombro, e então olhou para trás. Uraraka lhe sorriu, e enquanto digitava sem olhar para a tela do seu celular disse:

— Shouto! Olha esse vídeo que te mandei! É tipo, a sua cara todinha!

sem net. Quando eu chegar em casa eu vejo — disse.

Uraraka deu um aceno e então voltou a fazer o que quer que estivesse fazendo, e Shouto se apressou em guardar os seus materiais e pegar o seu celular. Antes do sinal tocar, ele deu uma olhada para onde o seu lápis estava, por fim de pegá-lo de volta, mas se surpreendeu quando não o viu mais.

— Puta merda, roubaram o meu lápis!

O sinal tocou, e todos os alunos riram e saíram da sala. Indignado com aquilo, ele também levantou-se e saiu da sala, colocando o seu fone enquanto bufava por conta do roubo de seu lápis. Era impossível estudar em uma sala onde roubavam-lhe tudo, desde o Wi-Fi até ao seu lápis! O que essas pessoas achavam que seriam no futuro com aquela mania de roubar os outros? Shouto não sabia, mas tentou acalmar os seus sentimentos e focar apenas na música "Do I wanna Know?", que tocava em seus fones. Era uma ótima canção para caminhar de acordo com a batida do som e para pensar em sua vida ridícula.

Com uma certa dificuldade ele conseguiu atravessar o portão tumultuado da escola e respirou satisfeito por estar livre daquele lugar por hora. Aos poucos ele fechou os seus olhos e descansou sua mente, deixando com que os acordes da música fluíssem por sua mente e o livrassem de todos os pensamentos tolos e depressivos. Sua casa era próxima a escola, então ele não precisou se preocupar em ter que prestar atenção no caminho, uma vez que ele funcionava no automático. Sua mente voava como um pássaro livre no céu, mas também ele sentia a sua ansiedade chegando todas as vezes que se aproximava de sua casa.

Shouto nunca fora um daqueles garotos pragmáticos, que vivem postando coisas tristes ou simplesmente fingindo estarem tristes para chamar atenção, mas ele não podia mentir ao dizer que se sentia triste a maior parte de seu tempo, e aquela tristeza sempre aparecia quando ele tinha que voltar pra casa e ter que interagir com a sua família, que só conversava através de xingamentos e discordância. Era uma situação delicada que o envergonhava, pois todos pareciam terem nascido em uma família completamente saudável e divertida, mas lá estava ele, tendo que sobreviver em uma casa onde ninguém se falava ou se importava o suficiente.

Star boy; tododekuOnde histórias criam vida. Descubra agora