quatro dias.

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Shouto acordou com uma sensação esquisita na terça-feira. Uma sensação de pura ansiedade que se entrelaçava com o sentimento do ontem ter sido um sonho. Ele já havia se sentido assim várias vezes, e essas vezes sempre aconteciam quando ele passava a noite tentando sobreviver as suas crises de ansiedade que só surgiam em momentos inapropriados — mas naquela noite em específico ele não teve crise alguma, não sofreu ou muito menos se torturou pensando em como sua vida seria diferente se ele não fosse um completo inútil, ou se seus pais não fossem idiotas. Quando amanheceu, ele teve uma certeza: Izuku não existia de verdade, e se existisse, o ignoraria caso o visse. As pessoas tinham esse costume de ignorar alguém que não tinham interesse em conhecer, e claramente aquele seria o caso. Quando Shouto chegou na escola, ficou atento a qualquer pessoa que se parecesse minimamente com Izuku, mas o menino realmente parecia não existir. Todos os cabelos cacheados não se comparavam aos cachos de Izuku, como aquilo poderia ser possível?

O seu primeiro baque em relação a Izuku fora descobrir que ele realmente era difícil de se notar, mesmo sendo diferente, ele ainda não chama atenção. Das três vezes que Shouto entrou na sala de aula, inquieto e claramente curioso, ele só veio se dar conta da presença de Midoriya Izuku quando a aula começou, pois o garoto se inclinou sob a sua banca e pôs uma florzinha branca dentro do estojo. O sorrisinho, os cachos, Shouto estava ficando louco.

Por diversos minutos ele tentou puxar assunto com o outro, mas tudo o que recebeu fora sorrisos vagos e olhares pacientes. E droga, tudo o que ele queria era conversar com aquele menino, mas ele tinha a sua cara enfiada em livros e só esboçava reações diferentes quando escutava as piadas sem graça de Sero. Ter Midoriya Izuku ali evocava uma sensação estranha em Todoroki. Era como se a presença do esverdeado fosse estranha, errada. Midoriya Izuku era como um personagem que não fazia parte da obra, uma mancha rosa em uma pintura preta. Uma peça do quebra-cabeça que estava no lugar errado. Aquilo o deixava tão desconcertado e tão curioso. Ele queria saber o porquê daquilo tudo. Como alguém não podia fazer parte?

— Izuku — chamou. — A gente pode conversar depois?

Como resposta, Izuku apenas lhe sorriu. E Shouto quis morrer. Ele suspirou e esperou dolorosamente pelo intervalo, checando seu celular de minuto em minuto como se isso fosse fazer com que as horas andassem mais rápido. Quando o sinal tocou, ele vazou da sala para comprar comida e então voltou para procurar Izuku, mas ele não estava sentado em sua carteira, e antes que ele pudesse ir atrás daquele garoto, fez questão de estreitar os seus olhos e se aproximar da banca para constatar que ele realmente não estava ali. Seus amigos o chamaram para jogar Damas ou Fubica, mas ele rejeitou sem nem ponderar e começou a procurar o garoto por todos os cantos daquela maldita escola, e para sua surpresa ele não estava em lugar algum.

As suas esperanças começaram a sumir, e então ele se agarrou ao último lugar no qual ainda não havia procurado: a biblioteca. O único lugar que ele não entrava com frequência porque sabia que não havia nada ali para ele. Qual era a graça de ler livros? Todos sabiam que a biblioteca era o ponto de encontro de todos os casais, e ele não tinha um parceiro. Então era um motivo duplo para não frequentar o local. A contragosto ele entrou na sala e observou as pessoas que iam e vinham, sussurrando e observando livros. Seus olhos perpassaram pelo local e então esbarraram na figura de Izuku.

Ele o viu sentado em uma mesa pequena no fundo daquela sala gelada que cheirava a livro velho. Com passos lentos ele se aproximou e viu os olhos de Izuku se encontrarem com os seus, a expressão de surpresa se suavizou e ele meneou com a sua cabeça como se estivesse o convidando a juntar-se na mesa.

— Te encontrei. O que você está fazendo aqui? — perguntou. O esverdeado fechou o seu livro cuidadosamente e se inclinou para frente.

Shouto observou aqueles olhos verdes o fitarem e então desviou a sua atenção para qualquer outro lugar daquela sala. Em uma tentativa de parecer legal e confiante, ele se despojou na cadeira e então voltou o seu olhar ao esverdeado.

Star boy; tododekuOnde histórias criam vida. Descubra agora