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Vinhedo
Penha/Vila Cruzeiro

Passo a mão no cabelo da Fernanda como ela pede, analiso o tom loiro e como está mais loiro do que da última vez que nos vimos há dois dias atrás. Ela vira de costas na cadeira do meu lado, jogando o cabelo e passando as duas mãos, os esmaltes na cor vermelho destacam quando ela desliza. Sério volto a mão pra minha coxa, desviando o olhar pra frente onde algumas pessoas bebiam e conversam em uma resenha tranquila.

Fernada: Gostou como ficou? - vira um pouco pro meu lado, apenas confirmo sem olhar pra ela - Tá macio não tá? - sinto ela ajeitando a postura na cadeira - fiz hoje de manhã - escuto ela falando, mas minha mão concentra no meu bolso.

Pego um baseado já pronto e caço por meu isqueiro, assim que acho, trago na minha frente, olho a cor do fogo ao deslizar meu polegar, ativando o fogo e acendo o baseado, dou uma tragada, soprando a fumaça pro outro lado e guardo o Isqueiro novamente.

O som entra na minha audição, ouço também os barulhos das conversas das pessoas presentes no local onde estávamos, é uma área mais privada, onde tinha mais bandidos do que da última vez que fui em algo ao lado do Italiano. Mulheres garantindo ao lado deles por luxo.

Fernanda: E vou fazer minhas unhas de novo na segunda-feira, mesmo hoje sendo quarta-feira e ter feito ontem, não consigo ficar por muito tempo sem fazer - dou mais uma tragada no baseado, solto a fumaça pro outro lado, passando minha língua por meu meus lábios com o gosto da maconha pregado entre eles - Mas você gostou mesmo? - aperto meu baseado entre meus dedos, tirando meu olhar do pessoal e levo na sua direção.

Coloco meu ponto fixo no seu olho direito e balanço a cabeça, confirmando pra ela, novamente desvio minha atenção pra outro lado, ela entende que não tô afim de papo sobre os assuntos dela e fica calada sentada ao meu lado.

Eu e a Fernanda não temos nada sério, na realidade mulher pra mim é uma das minhas últimas alternativas pra levar pra minha vida nos últimos anos, papo reto, o amor não existe, não no crime, onde tua mente entende que ver sangue no dia a dia é normal e a traição é algo comum entre os seres humanos.

Seguro meu baseado com uma mão e com a outra giro meu anel de ouro, girando devagar entre meus dedos.

Levanto meu olhar ao fitar a presença do FZ, gerente do comando do Italiano na outra comunidade, sua camiseta branca destaca na sua pele negra, bermuda clara e alguns ouros no pescoço, o sorriso no rosto cresce ao cumprimentar geral do local. Seus olhos batem na minha direção, de longe faz bico em sentido de mandar beijo, do um sorriso de cantinho bem pequeno e amargo pra ele, negando.

Vagabundo.

Levanto, seguro o baseado com a mão esquerda e passo a mão direita devagar na minha bermuda em forma de limpar quando ele vem aproximando com seus passos, assim que ele para na minha frente levanta a mão, levo a minha até a sua, apertando firme.

Fz: Tá sumido, Campeão - olho dentro do seus olhos escuros.

- Quem sumiu foi tú - o grave a minha voz sai entre meus lábios.

Fz: O trabalho rende - desvia o olhar pra Fernanda do meu lado, apenas balançando a cabeça dessa vez sério.

Passo meu baseado pra ele, que pede com a mão, seus dedos leva até sua boca, dando uma tragada, quando pensa em voltar pra mim, nego, olhando no seus olhos.

Fz: Caralho, nos últimos dias parecem ter passado em peso em cima da minha cabeça - viro meu rosto pro lado, dou uma olhada pra Fernanda, seus olhos bate no meu rosto e ela confirma ao perceber que eu iria caminhar com o Fz pra um canto e trocar minhas ideias.

- Italiano vai viajar - caminho do seu lado, referindo ao chefe do complexo do Alemão.

Fz: Vai, então a parada pesou no meu ombro.

- Tô ligado - levo minha mão no whisky, o bar improvisado vazia parte no local, bancada por todos nós as bebidas. Pego meu canivete no bolso da minha bermuda, apertando pra abrir, rasgo o gelo de maracujá.

Fz: Então vai piorar - guardo o canivete e jogo o gelo de maracujá no copo de whisky, que cai levemente no meu copo.

Com a mão firme trago o copo até minha boca, dando um gole, o gosto esparrama por todo meu paladar, passando por minha garganta, dou mais um gole.

- Eu tô com uma viagem também marcada no dia dois de fevereiro, mês que vem - falo sério, encostando ao seu lado em meio ao marinho baixo - Negócios, vou entrar no papo com o meu gerente.

Fz: O Galvão tá por onde? - referente ao meu gerente.

- No mermo de sempre, por hoje ele iria estar em um baile - passo meu olhar pelo pessoal, alguns eu pego me olhando, mas desviam imediatamente - Tá gerenciando.

Fz: O cara é bom naquilo que faz, o nome dele ta ecoado ate em fofoca de Twitter, páginas de fofocas da comunidade por ele ter batido na mulher Que gravou vídeo da festa dele e postou. Malucona também - da uma risada baixa.

- Maioria dessas mulheres entram sem saber onde pisam - passo o olhar por todas elas presentes, alguns siliconadas, outras naturais, roupas curtas. Paro meu olhar na Fernanda, siliconada, corpo bem moldado, ela é bonita, não nego.

Fz: Eu curto pegar minha mulher apenas, maluca aquela - da uma risada baixa.

Alguns bancando tudo, já eu penso além disso, mulher pra mim é consequência. Não garanto dinheiro sem algo em troca, ou seja, algo que me dê prazer, sexo.

O amor pra mim não existe.

Porém, não sou emocionado, poucas vezes saio procurando por mulheres diferentes. Sou quietão, isso desde quando me entendo como O Vitor, como sou e sempre fui.

Meu olhar fica apenas mais alguns segundos na direção da Fernanda, que continua me olhando, tiro meu cordão de dentro da minha camiseta com minha mão livre, deixando cair sobre minha camiseta na cor verde escuro.

Fz: Todas elas são bancadas por bandidos.

- O caminho mais fácil pra elas - murmuro - deixa elas alimentando isso, sendo amante.

Fz: E tú? Pretende ficar ao lado da Fernanda mermo, assumir diante de todos? - passo minha mão livre no meu cabelo penteado pra trás e desço pro meu bigode, passo meus dois dedos alinhando, em seguida dou um gole no meu copo.

- Não - respondo sua pergunta - Não sou afim de assumir ninguém.

Fz: Tá precisando, nunca te vi ao lado de ninguém - serro minha mandíbula, molhando meus lábios.

- E não vai ver - dou mais um gole no meu whisky, ficando calado dessa vez.

Meu Erro- Degustação Onde histórias criam vida. Descubra agora