Meu Erro- Degustação

dois

Vinhedo

Os minutos passam, mais as pessoas bebem e outras chegam, algumas chegam abrindo sorriso pra geral, outras tentando intimidade, mas recebem apenas meu cumprimento com a cabeça, sou assim, sem encher meu saco. Eu não me interesso pela vida de ninguém e ninguém tenta interesse na minha.
Eu sou assim, sempre vivendo dessa forma.

Iniciei minha vida desde moleque, minha história de vida não foi muito diferente, sem oportunidades, o que restava era o caminho mais fácil, quando entrei de cabeça no crime foi apenas uma vez, pra nunca mais sair. O passado te condenada e o futuro oprime tua mente, irmão, não é atoa que a nossa mente é o nosso pior inimigo.

O medo de morrer na fome e na miséria não saia da minha mente de moleque.

Hoje comando várias comunidades, principalmente na Penha, onde marquei meu vulgo. São mais de vinte anos nessa vida, passando por altos e baixos, a parada não é fácil, não é apenas entrar, é dormir com um olho aberto e outro fechado, é conviver com a injúria e o sangue derramado.

E essa vida me trouxe pessoas pra perto, conheço FZ há anos, assim como o Galvão, Italiano conheço recentemente, mas sempre ouvia boatos sobre as gerências dele.
Parceiros tenho poucos, alguns considero, mermo assim não confio, águia que é águia sempre voa só, a confiança é ingrata pra caralho. Porém, não desmereço, tento tratar da melhor forma possível qualquer um que cuida das minhas paradas. Olho diretamente nos olhos e converso, trato tranquilamente, só não vacila comigo, porque ninguém quer ver meu outro lado, falo uma vez, até duas, na terceira é apenas um xeque-mate.

Fz: Depois que o Italiano entrou no comando do morro Paz, a gerência ficou diferenciada — ajeito minha postura, ainda encostado no murinho ao seu lado escuto sua voz perto do meu corpo.

Seguro meu copo na minha mão direita e trago até minha boca, dando um gole no meu copo de whisky, que já está pela metade no líquido.

— Ele é bom no que faz, é esperto — falo.

Fz: Mais do que tú?

— Eu tenho mais experiência, enquanto ele pensar em trazer o fermento, eu já tô com o bolo pronto — respondo — Italiano ainda vai passar por muitas paradas nessa vida, principalmente pelo crime.

Italiano comanda morro da Paz e o complexo do Alemão, um dos mais pertencidos à hierarquia superior. Tem poder, tem luxo e tem inteligência.
O cara é inteligente e age sempre na cautela, como sempre tem que agir, no silencioso e cauteloso. Alguns dias atrás houve o caso de um x9, Cleiton foi morto pelas mãos do Italiano, até hoje dado como desaparecido, Italiano joga sujo, que maioria do pessoal não percebeu que esse sumiço foi uma morte.

Fz: Eu tô ligado.

— Começando pela mulher dele — fixo meu olhar em algumas pessoas — dei conselhos pra ele, passei uma visão, mas ele tá determinado a batalhar pela mulher dele.

Fz: E eu tenho certeza que ele vai, pô, o cara age de cabeça quente quando trata dela.

— É errado — viro meu rosto, olhando no seus olhos, que estão na minha direção — Tem que agir de cabeça fria quando trata de mulher assim, os caras querem o ponto fraco de bandido.

Fz: E se fosse alguma mulher tua, a Fernanda por exemplo? — pergunta, olhando no meus olhos.

— Ela não é minha mulher — murmuro — se ela envolver em câo por escolhas delas, problema todo dela, pô.

Meu interesse pela Fernanda é apenas o sexo. Fernanda não é uma mulher onde quero ter algo sério, na realidade nenhuma dessas mulheres penso em assumir diante de ninguém, minha única preocupação ultimamente está sendo minha gerência e vai ser assim até o fim.