𝙲𝚊𝚙. 𝙸𝙸

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Victoria Marinho

    Senti o meu peito se apertar e uma ardência nos olhos, não podia aceitar todos os meus anos de esforço irem em vão por água abaixo por conta de um motivo fútil desses. Apenas respirei fundo e passei as mãos nos rosto, limpando algumas lágrimas que escorriam por minhas bochechas.

    Abri o instagram e coloquei na câmera dos stories, agarrei a carne do lábio inferior com os dentes pensando se realmente deveria fazer isso... mas já tinha dado tudo errado, o que mais tinha a perder? Que se foda. Apertei no botão para começar a gravar e com um sorriso forçado no rosto, o rímel levemente borrado e o cabelo em um coque bagunçado enquanto caminhava pelo parque Ibirapuera comecei a falar.

    Vão me achar louca mas acho que já estou.

– E aí gente? Vim aqui falar umas coisinhas com vocês. -  Suspirei. – Já estão sabendo do meu relacionamento. - Pensei por alguns segundos antes de continuar. – Ou ex, ainda não me decidi sobre isso. – Dei de ombros.

– Que o Piquerez foi irresponsável por ter feito isso sem a minha autorização é óbvio, mas acabei de receber uma notícia ainda melhor... na verdade, bem pior para mim, mas tenho alguns comentários construtivos a fazer, querida diretoria do flamengo. - Forcei um tom de voz doce.

    A bolinha dos stories ia se preenchendo e gravando várias telinhas à medida que falava, mas o meu peito ia se relaxando, como se toda a pressão fosse se dissipando a cada palavra proferida.

– Primeiramente qual é o profissionalismo que vocês dizem ter, já que acabaram de recusar a minha inscrição no estágio por conta de um depoimento sobre a minha vida pessoal?! As minhas notas são excelentes, recebi uma carta de indicação diretamente do coordenador de curso e vocês me recusaram por não terem moral.

– Falando em moral, vamos ao segundo ponto. O que vocês têm a oferecer, para terem tanto medo da namorada de um dos jogadores do palmeiras, trabalhando no setor JORNALÍSTICO de vocês? O segundo lugar da supercopa? Não vou roubar aquele troféu, esqueceram quem ganhou aquele jogo?

    Arqueei as sobrancelhas com deboche com um sorriso enorme no rosto

– Terceiramente, estão sentindo? Que cheirinho bom... - Ironizei passando o indicador no nariz, forçando uma fungada.

– Quartamente o problema de vocês é a soberba. Puta que pariu, que time e diretoria de boçais, vocês estão só se fodendo com esse "técnico" - Fiz aspas ao falar. – Isso se podemos chamar aquilo de técnico, mas não ouvem os torcedores, as críticas dos jornalistas ou qualquer um que vá contra o que vocês acham correto.

A cada motivo que ia falando ia abaixando um dedo da mão, até ficar apenas o do meio, que fiz questão de mostrar na câmera.

– Quinto e último motivo, sinto o gosto do Flamengo de 2011 de volta, porque vocês precisam de alguém aí dentro falando a verdade sobre a situação do clube. Perder pro Vasco e para o Fluminense? Namoral? Vai se foder Marcos Braz e Vitor Pereira.

Suspirei me sentindo aliviada, foi como se tivesse tirado um peso enorme das costas.

– Até mais seguimores, infelizmente tenho que ralar, já que não tenho as mordomias daqueles que recusaram a minha procura.

    Esperei todos os storys serem enviados e bloqueei o celular, o guardando na bolsa enquanto saía correndo até a estação de metrô. Depois do meu humilde depoimento, as visualizações em meus stories triplicaram assim como os seguidores, se ía chegar ou não na diretoria do Flamengo, não me importava mais, até torcia para que chegasse.

AQUELES OLHOSOnde histórias criam vida. Descubra agora