Vazio

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Caro vazio,
Hoje te escrevo esta epístola,
Repleta de dúvidas existenciais,
Envolvidas em cada letra.

És o responsável das minhas ambições e da inveja que me inquieta.

Estou sozinho, sem ninguém.
Toda gente tem alguém.
Sou amigo de algumas pessoas,
mas para nenhum sou aquela pessoa.

Que futuro aguarda-me?
Até hoje não vejo diferenças, entre futuro e presente.
Uma reunião familiar,
o futuro encontra-se ausente.

O passar do tempo degrada-me,
passo o tempo sem passar.
Sem algo ou alguém para me completar.
Vivo por isso ao meio,
ardendo, coexistindo com o meu vazio.

Quando estarei completo?
Responda-me, ó vazio.
Sempre que tento preencher-te,
o buraco torna-se mais fundo e pungente.
Quanto mais tento me aquietar, mais fico sofrendo.

Observo a felicidade dos outros,
e com inveja tento puxá-los para o meu buraco,
pois estou cansado dessa solidão,
dessa tristeza, dessa dor.

Indago a mim mesmo,
qual o sentido de viver,
mas tantas perguntas me assombram,
as tuas, as minhas, em que devo crer?

Sou o pi,
querendo ser o um,
vivendo dízimas infinitas,
sem significado algum.

Sem sentido na vida,
apenas um grande e curioso vazio.

Mate-me a curiosidade
que em mim implantas,
tornando-me melancólico,
enquanto outros dançam.

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