Temple Of The Love

Não está mais sozinha.

 Megan tomou um gole de sua cerveja, sentindo os pelos dos braços eriçarem. Sorriu, forçando os lábios a subirem em uma linha leve. A mão que espalmava suas costas era a mesma que lhe desferia tapas e socos. Tremeu, um arrepio passando por todo o corpo. Resolveu focar nas pessoas ao redor, reconhecendo um rosto familiar. Desviou a atenção, voltando a conversa da mesa em que estava, concordando com alguma coisa sem importância. Deu outro gole na bebida, que desceu amarga. Teria que pedir mais algumas garrafas até relaxar minimamente.

  - Pra onde olha tanto? – A voz masculina soprou-lhe o ouvido. – Aproveitando a vista? – O tom usado, uma mistura de deboche e advertência. As palavras arrastadas denunciavam a embriaguez.

  - Só estava vendo se a banda tinha chego. – A morena se justificou, temerosa. – Estão atrasados.

  - Deveria estar acostumada. – Seu algoz ironizou. – Agora, cuidado por onde seus lindos olhos passeiam. Não queremos outro roxo neles.

  - Não. Sinto muito. – Megan engoliu as lágrimas de pavor, brincando com a ranhura da madeira.

  - Muito bem. – O homem sorri, satisfeito. – Me beije. – Ordenou, levantando o rosto daquela que reconhecia com namorada. Sentiu os lábios dela preencherem os seus, submissa. – Perfeito... – Aprovou, antes de continuar a papear com o casal de amigos.

  - Vou ao banheiro. – Lauren, uma das companhias da noite, avisou. – Pode ir comigo, Meg? Segurar a porta do box?

  - Posso, claro. – Ela assentiu, após um imperceptível aceno do companheiro. Quem visse de longe não imaginaria seu tormento. Mesmo as ameaças eram feitas com uma expressão gentil. Levantou-se, rumando aos sanitários do lugar, uma pequena fila na porta.

  - Adorei seu vestido. – A mulher comentou, sincera.

  - Obrigada. – A morena sorriu fracamente. – Foi Peter quem me deu. Disse que cairia bem na minha silhueta.

  - Mas não está com calor? – Lauren questionou, apontando as mangas longas que cobriam os braços de Megan e a meia-calça grossa.

  - Um pouco. – A jovem deu de ombros. – Acho que nossa vez chegou. – Mudou o assunto, cansada demais em inventar desculpas.

  - Ah, ótimo! – Lauren adentrou rapidamente o local, deixando a bolsa com a colega. Suspirou aliviada quando a urina saiu livre, cuidando em não tocar a privada uma única vez. A descarga era alta e fraca e se alguém cagasse ali, entupiria na hora. Com esse pensamento desgostoso desceu a saia, ajeitando o zíper no ponto certo e saindo totalmente pronta para outra rodada. – Quer fazer xixi também? – Indagou, vendo a morena negar com um aceno. 

  Após lavar, secar as mãos e checar a maquiagem, a dupla resolveu voltar aos respectivos pares, uma delas despreocupada, a outra com um peso no estômago, receio de errar e ser punida. Como fora acabar assim? Era o que Megan se perguntava a cada minuto. Como se deixou levar por frases bonitas e atitudes dúbias? Armadilhas de um predador... Presa fácil, iludida... Se não estivesse tão encantada, cega... Teria visto os sinais. Os detalhes mínimos, as pequenas censuras disfarçadas de zelo. As discussões bobas por demostrar gentileza a terceiros, principalmente se fossem homens. A primeira agressão. Um empurrão contra a parede, seguido de um choro arrependido. Culpa, remorso. Dentro de si, não dele. Era a responsável pelos ataques de fúria, pelos tapas e puxões de cabelo. Beliscões, chutes, queimaduras de cigarro e até um copo arremessado, deliberadamente encaminhado em direção ao seu rosto.  Protegeu-se, pelo instinto de sobrevivência, ao levantar o braço e deixá-lo absorver o impacto. Sete pontos. Esse foi o resultado. Ainda doía em dias frios a fina linha da cicatriz.

  - Demoraram. – Peter disse descontraído, mas, a morena reparou no olhar impassível. Nem no seu aniversário conseguiria livrar-se de uma surra. Iria sentar novamente, quando alguém lhe chamou.