Temple Of The Love

Sentimentos à flor da pele.

Fariam duas semanas desde o incidente na lavanderia. Todo o ocorrido tendo sido ocultado pela dupla vivente, Meg não querendo trazer mais preocupações aos amigos. Então, para Dave e o resto do grupo, fora um feliz avanço em ralação a morena, o que não deixava de ser verdade, visto em certa perspectiva. O dia em si fora agradável e divertido, mas também um divisor de águas na eminente amizade da jovem com Chris. Um clima estranho rondava os dois. Era como se uma tensão estalasse aqui e ali toda vez que ficavam próximos ou sentiam o aroma um do outro... Até mesmo nos toques inconscientes, que antes não significavam muita coisa. Os olhares passaram a ser mais conectivos, sustentado por longos períodos em meio ao silêncio que tanto gostavam. Azul e castanho. Céu e abismo. Quem cairia e quem voaria?

  - Sábado à noite. – Dave comentou, sentando-se ao lado de Megan no sofá. – O que uma moça bonita como você, faz aqui? – Brincou, arrancando uma risada da amiga.

  - Aproveitando a solidão, minha velha amiga. – A jovem respondeu divertida, referenciando The Sound of Silence.

  - Estamos melancólicos, hoje? – Grohl levantou uma sobrancelha, indagador.

  - Minha alma é melancolia. Só as trevas conseguem habitá-la. – Meg continuou em um tom neutro, fazendo o baterista rir alto.

  - Tenho uma prima que falava essas coisas. – O rapaz começou, nostálgico. – Me levava pro cemitério com ela. Fumávamos baseados e tomávamos vinho barato. - Lembrou de como era estranho e tranquilizador a quietude dos mortos. – Uma amiga dela tentou me beijar, certa vez. Fomos para atrás de uma lápide e...

  - E o que? – A voz de Claire fez-se presente. – O que aconteceu depois, hein? – Questionou, falsamente enciumada.

  - Eu a empurrei, dizendo que estava me guardando... esperando o amor da minha vida. – Dave gracejou, puxando a companheira até seu colo. 

  - Esperto. – A mulher franziu o cenho, analítica. – Até porque, quando nos conhecemos, essa castidade toda durou umas duas horas. – Zombou de como eles cederam ao desejo tão rapidamente.

  - É como eu disse antes, estava me guardando. – O moreno tinha uma expressão serena. – Você que se aproveitou da minha inocência. – Piscou os olhos algumas vezes, dramático.

  - Essa culpa posso carregar. – Claire enlaçou o pescoço do músico, depositando um beijo nos lábios dele. – É melhor irmos, o pessoal já deve estar nos esperando. – Encerrou toda a gozação, levantando-se e ajeitando a roupa. – Tem certeza que não quer ir? – Dirigiu a pergunta para Megan.

  - Sim. – A morena sorriu, tranquila. – Divirtam-se. – Desejou, os vendo lhe lançar olhares resignados.

  - Ok... – Dave suspirou audivelmente. – Temos que marcar de ir a venda da esquina, então. Tomar raspadinha. – Provocou, sabendo que era a zona de conforto da amiga. Quase todos os dias ela e Chris caminhavam até a loja de conveniências, no intuito de comprar a bebida. Voltavam com os dentes, os lábios e a língua azuis, coisa que os deixava rindo pelo resto da tarde. Era notável para todos de fora o quanto a dupla tornou-se próxima. Viviam por aí trocando olhares e cochichos, risos e gestos que só eles pareciam entender. Talvez, fosse uma grata surpresa do destino esse elo. Obviamente, a melhora da mulher se devia à insistência do rapaz. A Meg que conhecera semanas antes deixava de existir aos poucos, permanecendo somente a sombra soturna que sabia, seria uma cicatriz permanente. – Fique bem. – Despediu-se, acenando junto a namorada. – Ah! – Parou de fechar a porta, revirando os olhos. – Esqueci de avisar. Não voltaremos hoje, tudo bem? A casa da Claire é perto do pub.

  - Tranquilo. – Megan mantinha seu sorriso. – Até mais, então. – Completou, assistindo o casal desparecer. Estava sozinha. Realmente sozinha. Até Chris, que quase não saia, fora beber com os amigos de banda.