Capítulo 1

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Jonas

Dinastia decapitada
você pode ver um fantasma esta noite
E se você não sabe agora você sabe
Eu estou pegando de volta a coroa
Emperor's New Clothes - Panic! At The Disco

               Incrédulo, olhei para o alto, milhares de gotas me encharcando em poucos segundos, uma tempestade chegando com tudo e sem aviso prévio no segundo exato que atravessei o arco na entrada de Coldlake. Era o universo esfregando na minha cara um mau presságio de tudo que viria a acontecer. Algumas pessoas diriam que o mais sensato seria esquecer toda aquela loucura e dar meia volta, mas eu sempre preferi o caos à calmaria, por isso, eu acelerei minha Ducati o máximo que pude com toda aquela chuva dificultando a visão e deixando o asfalto escorregadio, em direção a casa dos Higgins, a mesma casa que eu passará tantos verões, o último deles há mais de 20 anos.

               — Meu Deus! Você está encharcado meu filho. - tia Louisa disse ao abrir a porta menos de trinta segundos depois da campainha soar, pelo que a conheço, estava com certeza sentada em frente à janela esperando ver o farol da moto iluminar o jardim, anunciando minha chegada.
               — Oi tia.
               — Venha filho, venha, entre. Suba até seu quarto e tire essa roupa molhada antes que pegue um resfriado. - eu sorri por dentro, acho que ela ainda não havia se dado conta que já não éramos mais crianças a um bom tempo, mesmo assim, fiz o que ela pedirá.
                Com a única mala que eu levará jogada de qualquer jeito sobre os ombros, subi as escadas indo até o quarto que me pertencia durante as férias, deixando um rastro de pegadas molhadas pelo caminho. Já com roupas secas, olhei-me no espelho do banheiro, os curtos fios de cabelo escuro ainda pingavam um pouco d'água e apontavam em todas as direções, gotas caíram ao meu redor quando passei os dedos entre eles.
               Após uma breve conversa com os meus tios, voltei para o quarto e me deitei na cama de casal que substituirá a antiga e pequena que dormi tantas noites. Todo o resto continuava como deixei, os pôsteres de super-heróis nas paredes, os livros na estante, revistas em quadrinhos na gaveta da mesa de cabeceira... suspeitei, que se olhasse em baixo da escrivaninha iria encontrar uma goma de mascar velha que eu, de forma clandestina, havia grudado ali quando criança.

Pela manhã, encontrei uma mesa farta de comida e três rostos familiares. Tio John, sua esposa Louisa e sua filha Greta conversavam animados sobre sei la oque até notarem minha presença.
— Aí está ele, - disse John. Um sorrisinho que eu conhecia muito bem estava pendurado em seus lábios. - o grande assunto do momento. Não me pergunte como, mas a cidade toda já sabe sobre sua chegada pela madrugada e só se fala sobre isso. - avisou com o sorriso crescendo mais e mais a cada palavra, ele sabia que eu odiava a rapidez com que notícias se espalham em cidades pequenas. Ainda que tivesse apenas 7 anos na minha última visita, eu me lembrava bem das diferenças entre quem mora ali e quem mora em um prédio no meio de New York, onde na maioria das vezes, as pessoas sequer sabem os nomes de seus vizinhos. - Sente-se filho, tome café com a gente. - antes de responder olhei para o relógio no meu pulso, se eu não saísse agora me atrasaria.
— Obrigado, mas eu estou com pressa. Tenho horário marcado com Alex para olhar algumas casas.
               Alex Davis era o corretor de imóveis da família. Eu não sabia por quanto tempo ficaria em Coldlake, então precisava de um lugar para ficar, de preferência sozinho. Não é que eu não gostasse da companhia deles, não me entenda mal, mas ter meu próprio espaço era algo que eu não abria mão.
— Você sabe que não precisa comprar uma casa, Jonas. Somos uma família, pode ficar aqui o tempo que quiser.
— Sei disso tia. Mas prefiro assim. Volto mais tarde para pegar minhas coisas. Não me esperem para o almoço, não sei quanto tempo vou demorar. - me despedi com um breve aceno de cabeça e virei-me em direção a porta que havia entrado a pouco, antes de alcançá-la Greta me parou.
— Vai ter uma festa no bar em frente ao lago hoje. Vai ser legal, se quiser, aparece por lá.

               Depois de passar toda a manhã e parte da tarde olhando imóveis, eu finalmente tinha encontrado um lugar para ficar; uma casa de construção antiga porém reformada a poucos meses, mobiliada e afastada da cidade o suficiente para não ter vizinhos por perto, mas não muito para não perder tempo demais indo e voltando. Às 20:00 horas eu já estava instalado e me sentindo em casa, é realmente incrível o quanto trâmites legais são acelerados quando se pode pagar uma taxa extra bem grande.
Decidido a colocar meu plano em ação o mais rápido possível, joguei minha jaqueta de couro preta por cima da camiseta branca que vestia e olhei meu reflexo no amplo espelho da sala, agarrei minhas chaves sobre o aparador e logo o ronco do motor invadia meus ouvidos, meu corpo vibrava junto a moto enquanto eu a acelerava pelo caminho.

Bastou tocar os pés no chão do estacionamento e eu o vi, sentado atrás do volante em um carro grande e preto. Ao seu lado, uma jovem de cabelos escuros se despediu com um abraço torto e desceu do veículo, deu as costas para onde eu estava e caminhou em passos firmes e rápidos até a entrada do bar. De onde eu estava e com a pressa que ela parecia ter em sair dali, mal pude ver seu rosto, mas sabia que era ela; a única filha do prefeito da cidade, o caminho mais rápido e fácil que eu tinha para chegar ao que eu queria.
               Um olhar pesado queimou sobre minha pele me fazendo voltar a realidade, Hunter Donovan me encarava de dentro de seu carro. Um sorriso pesado e cruel se instalou em meu rosto quando, ao tirar meu capacete, vi seu olhar se escurecer e sua boca se abrir como se visse um fantasma, afinal não é todo dia que se vê alguém idêntico a um ex amigo morto a tantos anos, no entanto, não demorou para que compreensão tomasse o lugar de susto em sua cara. Ele sabia quem eu era, sabia que eu era o filho de Christopher e Liz Crawford e em breve ele saberia o porque eu estava ali.
É bom se preparar Hunter Donovan, porque eu vim pegar o que é meu!

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