Rose
Lá estava eu novamente esta noite
Forçando o riso, fingindo sorrisos
O mesmo velho lugar cansado e solitário
Paredes de insinceridade, olhos inconstantes e vazio
Desapareceu quando vi seu rosto
Enchanted - Taylor Swift•
— Lembre-se filha, so...
— Sorria, acene e seja gentil. - o interrompi enquanto me segurava ao máximo para não revirar os olhos e ser grosseira, estava a anos de saco cheio de ser controlada, mas me faltava coragem para me libertar. - Eu sei papai!
— Você é uma boa garota, minha Rose. - ele sorriu e fez carinho no meu cabelo como sempre fizera. - A melhor filha que alguém poderia ter. - por um instante me senti a pior pessoa do mundo por odiar minha vida perfeita... levou menos que 20 segundos para o sentimento de culpa desaparecer.
Me despedi com um abraço torto e desci do carro indo direto para o bar, onde havia marcado de me encontrar com Ivy.— Posso te pagar uma bebida, loirinha?
— Não fode Rose. - encostei-me no balcão ao lado da minha melhor amiga sorrindo. - Você demorou. Como sempre. - ela estava com uma cara emburrada, mas eu sabia que ela não estava com raiva, não de verdade, ainda sim me senti culpada.
— Eu sei. Sinto muito. Você sabe que não posso sair de casa antes de ouvir um longo discurso sobre como a filha do prefeito deve se portar. - longe da presença de meu pai eu podia revirar os olhos o quanto quisesse, podia até mesmo perdê-los no meu crânio, desde que conseguisse trazê-los de volta antes de chegar em casa. - Discurso esse, que eu sei de cor desde os meus 6 anos.
— Eu sei amiga, deve ser muito difícil... uma vida inteira tendo tudo que quis na mão. Um "papai" dito com a voz bem doce e bum, seu desejo é uma ordem. Guerreira! - zombou ela. Um barman nos entregou duas taças de Aperol Spritz, Ivy realmente me conhecia como ninguém.
— Vai se foder! - sua gargalhada me fez rir junto à ela. - Eu queimaria todo o patrimônio da família se assim eu pudesse tomar minhas próprias decisões.
— E eu queimaria a cidade toda por uma noite com aquele cara.
Meu mundo parou quando me virei na direção em que ela olhava, a música alta e as risadas cessaram, tudo pareceu ganhar cor, como se até aquele segundo eu enxergasse apenas em preto e branco. Caminhando em direção as mesas de jogos, possivelmente o cara mais bonito que eu veria na vida me encarava de volta com seus olhos verdes e o semblante sério. Me perguntei se ele sentirá o mesmo que eu, se seus pulmões se esqueceram de como se puxa o ar, se seu coração desaprenderá a bombear o sangue de suas veias, se ele se sentirá zonzo e a força de suas pernas se esvaíram por alguns segundos, se...
— Você sabe quem é ele? Nunca o vi por aqui, nem nas cidades vizinhas. - Ivy arrancou-me de meus devaneios, me puxando com tudo de volta para a realidade.
— Não faço ideia de quem ele seja. - disse em um sopro de voz.
Tão rápido quanto me invadiram, todas aquelas sensações desapareceram por um instante quando o vi pousar o braço sobre os ombros de Greta Higgins, raiva tomando conta do meu corpo.
— Se ele é amigo, conhecido ou seja lá o que for de Greta, não quero sequer saber seu nome. - eu queria acreditar em minhas próprias palavras mas sentia que aquela seria a maior mentira que eu contaria em toda minha vida.A cada drink ficava mais e mais difícil não olhar para ele a todo minuto, sentir meu corpo ardendo incessantemente quando nessas espiadelas eu o flagrava com os olhos em mim não ajudava em nada. O ver rindo e se divertindo enquanto jogava bilhar com Greta enchia cada poro do meu corpo de ódio. Eu estava fora de mim, podia sentir minha alma flutuando e se afogando ao mesmo tempo, uma mistura de sentimentos, paixão, fúria, ciúmes e tantos outros que eu mal conseguia acompanhar, e pra completar, o álcool já dava seus sinais em meu organismo. Irritada com toda aquela bagunça dentro de mim por alguém que eu acabará de ver pela primeira vez e não sabia sequer seu nome, me coloquei em direção a saída em passos pesados após avisar a Ivy que precisava de alguns segundos ao ar livre.
Respirei fundo quando a brisa fresca tocou minha pele. No deck sobre o grande lago que deu origem ao nome da cidade, longe da música alta e de tantos corpos ao meu redor, consegui finalmente me acalmar um pouco. Ainda podia sentir toda a confusão de antes correndo por minhas veias, mas ali eu podia reivindicar o controle de meus pensamentos. Foi o que eu pensei, mas tudo caiu por terra quando meu corpo esquentou e meus pelos se eriçaram, eu sabia que era ele.
— Posso te ajudar? - perguntei tentado não deixar transparecer o furacão que ele causará dentro de mim.
— Eu ia te perguntar a mesma coisa. - ele parou ao meu lado, não olhou para mim, concentrado na imensidão de água pouco iluminada pelas luzes fracas da lua e das estrelas.
— Por que acha que eu preciso de ajuda? - virei-me para ele, olhar no fundo de seus olhos com ele tão perto que eu podia sentir o calor saindo de seu corpo, foi como levar um soco no meio do estômago, mas inesperadamente, de uma forma boa. - Ou melhor, por que acha que eu iria precisar da sua ajuda? - eu não sei porque estava sendo tão grossa com ele, talvez porque sua presença me deixasse nervosa, fora de órbita e eu não sabia como lidar com esse turbilhão de emoções.
— Porque, princesinha, você está aqui nesse breu sozinha com uma careta que me faz pensar que ou você está com muita dor ou é muito esquisita. - ele desdenhou.
— A única coisa que eu preciso de você, é que fique longe de mim. Babaca! - e era verdade, pelo menos naquele momento, por isso, me afastei com intenção de voltar para o bar, fui impedida por sua mão que me puxava pelo pulso de volta para ele. O choque de ser tocada por ele pela primeira vez me fez esquecer de onde estávamos, os míseros centímetros que nos afastavam pareciam quilômetros inteiros. Ele dividia seu olhar entre minha boca e meus olhos. Minha respiração estava pesada. Não falávamos nada, não éramos capazes.
O silêncio foi quebrado junto ao que quer que fosse que estivesse acontecendo ali por uma buzina que eu conhecia muito bem. Me soltei do seu toque e corri.— O que estava fazendo? - mal tive tempo de me sentar e meu pai já começará seu interrogatório.
— Nada papai. - disse colocando o cinto, minhas mãos estavam trêmulas, só queria ir para casa.
— Rose...
— Eu sai para respirar ar fresco, ele chegou depois, não aconteceu nada. O lago é público papai, não posso impedir ninguém de ficar no deck. - disse impaciente, nunca havia usado esse tom com ele, precisava me acalmar. - Vamos embora, por favor. - pedi, dessa vez com a voz tranquila.— Escute Rô, - ele disse ao desligar o motor do carro após estacionar na garagem de casa. - Não quero você andando com aquele cara. Você entendeu? - a voz séria que ele quase nunca usava, pelo menos comigo, me deixou intrigada.
— Não se preocupe, papai. Eu não tenho a menor intenção de ficar no mesmo lugar que ele outra vez.
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The Rose
RomanceMais de 20 anos após deixar a casa de seu tio em Coldlake, onde costumava passar suas férias, Jonas retorna a pequena cidade em busca de algo que pertenceu a sua família por muitas gerações, mas que um dia foi roubado.