Capítulo 3

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Jonas

Eu aposto que você sente isso agora, baby
Especialmente porque só nos conhecemos há um dia
Mas, eu tenho que consertar as coisas, baby
Estou exorcizando demônios
SWIM - Chase Atlantic

              Fechei o notebook ao fim de mais uma reunião, estar longe de New York não significava estar longe do meu trabalho ou da Crawford's Company, eu não podia e não queria deixar a empresa da família, fundada a tantas gerações, nas mãos de outra pessoa. Do escritório fui direto para o chuveiro, era sexta-feira e eu sentia que naquela noite eu voltaria a vê-la. Havia se passado uma semana desde a festa no bar, durante esses dias andei por toda a cidade tentando esbarrar com ela por aí, não tive muita sorte. Estava frustrado. Tentei todos os dias me convencer de que a procurava pelas ruas puramente para seguir com meu plano, mas era perda de tempo negar a chama que se acendeu em meu peito ao olhá-la nos olhos, a eletricidade que faiscou em minha pele quando a toquei. Meus pais sempre disseram que quando duas almas gêmeas se encontram algo incendeia dentro delas, as leva ao céu em milésimos e quando voltam, o mundo já não é mais o mesmo. E sabendo que nada poderia mudar isso, meu plano é que deveria mudar. Eu não a usaria, não seria capaz de mentir olhando em seus olhos, não depois de sentir oque havia sentido. Eu teria que repensar, recalcular e encontrar outra forma de recuperar o que era meu. No fundo esperava, posso dizer até que ansiava, que Rose fosse capaz de ver quem seu pai era de verdade e me ajudasse.

De volta ao Wild Rover Pub, o bar a beira do lago, eu vigiava a porta da frente escorado no balcão com um Old Fashioned na mão quando um cara parou ao meu lado, me encarando, como se esperando que eu o reconhecesse. Quando se deu conta de que isso não aconteceria ele começou a falar:
— Qual é cara? Não se lembra mesmo de mim?
— Eu deveria? - respondi dando um gole na minha bebida.
— Joshua Watson! - ele disse como se fosse óbvio, e segundos depois de ouvir seu nome, me dei conta de que era mesmo. - Passávamos todos os verões juntos!
— É claro! Joshua! - sorri, eu gostava da amizade dele. - Foi mal cara, não te reconheci. - estendi a mão para cumprimentá-lo, em vez de aceitá-la, ele me abraçou.
— Relaxa cara, faz muitos anos. - ele virou-se para um barman que estava próximo a nós - Me vê uma cerveja, por favor, amigo! - após receber um sinal de aprovação ele voltou sua atenção para mim. - Mas e aí, vai ficar uns dias na cidade?
— Alguns, sim. Vim visitar os Higgins.
— Sei. Eles eram muito amigos dos seus pais né?! Aliás, sinto muito por eles. Nunca tive a chance de te dizer. - ele passava verdade pelo olhar. Apesar de só nos vermos nas férias, éramos bons amigos.
— Obrigado, cara. - um soco fraco em seu ombro de forma amigável era minha maneira de dizer que estava tudo bem, mas que era hora de mudar de assunto. Acredito que ele tenha entendido pois foi exatamente oque ele fez.
— Joga bilhar? Oque que você acha de perder alguns dólares para mim?

               Algumas partidas mais tarde, eu finalmente a vi entrar no bar, estava acompanhada da mesma garota do outro dia. Correndo os olhos pelo salão, a loira sorriu quando os pousou em Joshua, puxando Rose junto a ela ao nosso encontro.
               — Achei que não viriam - disse meu amigo de infância quando elas pararam na nossa frente. Rose me encarava e eu devolvia o olhar, tentando decifrar o que se passava em seus pensamentos.
— E perder a chance de arrancar dinheiro de você? Claro que não. - a loira falou, um sorriso cínico brincando em seus lábios.
— Você fala muito, mas faz pouco demais. Pegue um taco e me pague uma bebida depois que eu acabar com você. - Joshua rebateu. - Esse é Jonas, um velho amigo. - as cumprimentei com um breve aceno com a cabeça, escorado no taco de bilhar. - Essas são Ivy e Rose. - Ivy, que agora eu sabia o nome, acenou de volta e sorriu enquanto Rose apenas ignorou.
— Bilhar? Outra vez? Não, obrigada. Vamos jogar dardos! Meninas contra meninos. - Ivy passava autoconfiança em cada palavra que saia de sua boca, cada movimento... tudo nela gritava o quanto ela era segura de si mesma. Eu gosto de pessoas assim.
— Que se foda, vocês vão perder de qualquer jeito! - o clima entre eles era tranquilo, as implicâncias jogadas um ao outro acompanhadas de risos deixava claro que eram bons amigos. - A dupla que perder vai fazer o que a outra escolher!
— Ótimo. - caminhando até o alvo livre mais próximo de onde estávamos, Rose arrancou dele os dardos e voltou-se para nós. - Vão deixar meu carro brilhando depois que acabarmos com vocês.

Não precisei de muitas rodadas para entender o porque Ivy quis apostar nos dardos, Joshua era horrível e ela também, mas Rose não havia errado nenhum até o momento e a infeliz sabia que a amiga era boa. Ela só não contava que eu fosse tão bom quanto. O jogo estava empatado e íamos para a última rodada. Rose mirava confiante em direção ao círculo pendurado na parede a quatro metros de distância, o pequeno dardo voou e fincou-se no anel central do alvo, dando a elas 25 pontos. Elas comemoraram enquanto Joshua resmungava.
— Vai ser incrível beber às custas de vocês o mês inteiro. - Ivy debochou, as duas mantinham um sorriso de orelha a orelha, certas da vitória.
— Cala a boca, ainda temos uma chance. - Joshua deu três tapinhas nas minhas costas, me encorajando. - Ganha essa amigo ou vamos ouvir sobre isso o resto da vida. - rindo, empurrei meu amigo pelo ombro, precisava de espaço e ele não parecia disposto a sair de cima de mim sozinho. Com calma, me preparei e arremessei. - É ASSIM QUE SE FAZ CARALHO! - Joshua gritou quando o dardo acertou bem no centro do alvo, marcando 50. Tive certeza que ele tava meio bêbado quando me abraçou para comemorar. - Oque você tinha dito Ivy? Assim, vai ser incrível beber às custas de vocês! - as duas garotas reviraram os olhos com cara de poucos amigos.
— Vai se ferrar, Joshua. - Rose disse, mas em seguida sorriu.
— Bora para o bar que meu prêmio começa hoje. - ele fazia uma dancinha ridícula, me dei conta nesse momento da grande falta que ele fez na minha vida.
— Você vai ter seu mês de bebidas grátis, mas abaixa a bola otário, você não acertou um dardo! - a loira também sorria quando nos deu as costas, indo em direção ao bar.
               Já acomodados em frente ao balcão, cada um com uma bebida em mãos, Ivy perguntou:
               — E você Jonas? Oque vai querer? Afinal só ganharam graças a você. - pensei por alguns segundos, só havia uma coisa que eu queria naquele momento.
               — Quero um beijo. - disse olhando no fundo dos olhos de Rose. - Seu. - ouvi Joshua soltar um palavrão e em seguida rir acompanhado de Ivy.
               — Pode esperar enquanto vai se foder, idiota! - bufando, ela nos deu as costas e saiu do bar, engoli o resto da minha bebida e fui atrás dela.

               A encontrei na lateral do pub, ao lado de um enorme carvalho que devia estar ali a muitos e muitos anos. Ela estava de costas para mim, mas eu sabia que ela havia sentido minha presença, do mesmo jeito que eu sentia a dela sempre que ela se aproximava.
                — Fizemos uma aposta, quem ganhar escolhe o prêmio. Eu escolhi. Você me deve um beijo. - a falta de expressão em seu rosto quando ela se virou quase me fez voltar para dentro do bar, mas como eu já disse, sempre gostei do caos.
               — E oque você vai fazer? Me processar por não cumprir uma aposta idiota de um jogo idiota? - ironia escorria de sua boca, e que boca bonita a desgraçada tinha. Esquecendo o mundo a nossa volta me perdi observando seus lábios cheios e bem desenhados, diferente da semana anterior, eles não estavam vermelhos e o gloss que havia neles quando ela chegou já tinha ido embora a muito tempo, perdido em bordas de copos, malditos copos de sorte. Quando me movi em sua direção, ela voltou a falar. - Pare! - seu tom deixando claro que falava sério. - Não vou te beijar por uma aposta.
               E então ela saiu em direção ao bar outra vez, me deixando sozinho e confuso, a sensação de levar um fora nunca experimentada antes se apossando do meu corpo. Só então me dei conta de como fui um grande imbecil. Eu no lugar dela, teria me dado um soco no nariz por colocá-la como um prêmio de jogo. Babaca.

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