Linhagens - Safira e Lucien

Capítulo 6

Por algum motivo que uma sonolenta Safira desconhecia, Lorien segurava um outro linhagem pelo pescoço enquanto puro ódio parecia uma segunda camada de pele ao redor dele. Lucien estava na sala, ao lado de Sun, como se dois linhagens brigando em sua sala de estar fosse uma programação normal para o domingo de manhã.

-Esse é um bom dia estranho. Lorien, por que você está tentando matar o... Não sei quem é esse linhagem, achei que conhecia todos na Land - ela divagou um pouco.

-Ele não é da Land - Lorien quase cuspiu as palavras.

-Como assim ele não é da Land? Todos os linhagens são.

Safira despertou da névoa sonolenta quando seu cérebro começou a processar o que seus olhos viam. O cabelo curto, a postura tensa, mas sem nenhum sinal de que iria revidar o ataque de Lorien, e completamente fardado, com a farda dos militares humanos.

-Mas que porra é essa? - Safira perguntou.

-Ele foi enviado pra nos fazer algumas perguntas sobre o ataque e os atacantes, Sun e Lorien chegaram alguns minutos depois dele e, ao que parece, Sun é sua companheira.

A linhagem olhou para sua irmã, Sun parecia assustada, realmente assustada, e segurava o pulso direito como se tivesse o machucado.

-O que ele fez?

-Tentou levá-la a força ao sair - Lorien respondeu.

-Ela é minha companheira, deve ir comigo para minha casa - o linhagem falou pela primeira vez.

Safira se aproximou dele, ódio correndo por cada centímetro dela, ele havia usado um tom de voz que mostrava a imagem que ele tinha de uma companheira. Sun seria um objeto, seja lá como ele tiver sido criado, não foi para cuidar da sua outra parte, ele a trataria como um objeto, como alguém para servi-lo. Ela não virou o rosto para olhar para seu companheiro quando fez a pergunta, apenas colocou a mão no ombro de Lorien em um pedido silencioso para que ele soltasse o soldado.

-Lucien, ele machucou Sun? - Safira perguntou, vendo Lorien recuar.

-Ele a puxou com força em demasiado, o pulso dela está dolorido e marcado, mas não parece algo sério.

-Por que?

-Ela se recusou a vir comigo, minha companheira precisa ser obediente.

-Você precisa parar de dizer essa merda, ela não é sua...

Lorien se calou quando o primeiro soco de Safira atingiu a mandíbula do linhagem. Um assobio baixo deixou a boca de Lucien quando sua companheira dominou o homem abaixo dela e o socou como se sua vida dependesse disso.

-Não seria melhor pará-la? - Sun perguntou.

-Querida, eu já estive do outro lado do punho da sua irmã uma vez e não pretendo ter uma segunda rodada da experiência.

-Ela vai parar antes de deixá-lo inconsciente - Lucien argumentou.

Depois do quinto ou sexto soco, que Lorien contou, Safira parou, o nariz do linhagem sangrava e ele parecia perdido entre o limbo.

-Ouça, encoste em qualquer fêmea dessa cidade e eu o castro a sangue frio. Minha irmã já tem um companheiro, ela não precisa de um idiota querendo reivindicá-la.

-Lucien, os humanos vão... - Laurent falou, se calando quando viu a sua nora saindo de cima do linhagem.

-Mandar um porco chauvinista nos fazer perguntas? Eu percebi - Safira respondeu.

-O que você fez? - Ravi perguntou incrédulo - Esse não é o comportamento de um representante dos linhagens.

-Eu não sou representante dos linhagens, meu companheiro é, mas não me importo com que tipo de comportamento você acha que eu devo ter. Ele machucou uma fêmea, uma acasalada, uns socos é o mínimo que ele vai receber, você conhece as leis dos linhagens muito bem pra saber que ele devia ser a criatura viva mais feliz do mundo só por poder sair da Land.

-Ele machucou você? - Laurent perguntou surpreso.

-Nem se ele quisesse muito! Sun, ele tentou levar ela a força.

-Para onde, exatamente?

-Ao que parece ela é a companheira dele - Lorien respondeu a contragosto depois de se aproximar de sua companheira e verificar o pulso dela.

-Sun? - Laurent voltou a perguntar - O vínculo é correspondido?

-Não, Lorien é meu único companheiro.

-Bem, é raro, mas acontece, vimos isso com o irmão de Rage a alguns anos atrás. Lara?

A companheira de Lion apareceu na porta, vestida e armada como sempre estava ao fazer as rondas ao redor da Land.

-Estou aqui - ela respondeu.

-Leve o soldado para longe de nossos muros, chame um médico para vê-lo antes disso, um homem, de preferência, não o quero perto das mulheres.

-Algo mais?

-Chame Karoline Luria, diga que quero marcar uma reunião com ela.

Lara bateu continência antes de levar o linhagem muito puto para fora com a ajuda de um outro homem. Lucien observou os punhos machucados de sua companheira, mas resistiu ao impulso de se aproximar dela e cuidar dos ferimentos, ele conhecia os limites de Safira e ela não gostava quando era colocada em uma posição frágil na frente de pessoas em quem não confiava, Ravi se encaixava nesse requisito.

-Foi uma confusão muito grande só por ele ter encontrado sua companheira. Não precisava de todo esse drama, Safira - Ravi a repreendeu.

Lucien a segurou, antes que sua companheira fizesse algo que ele não poderia consertar, mas Safira olhou para a mão ao redor do seu pulso como se ele a tivesse acorrentado, e não era do jeito que ela gostaria de ser.

-Solte-me.

-Princesa...

-Não ouse proteger Ravi!

-Eu não estou, é a você quem estou protegendo.

-Solte-me, agora!

Lucien obedeceu, a muito contragosto, e viu sua companheira se aproximar do humano. O coração dele parecia cavalgar em seu peito, ele não poderia proteger ela da lei dos humanos e Ravi estava assegurado por elas.

-Você é apenas um humano patético que não sabe o quão forte é o vínculo entre dois companheiros, desconhece o que é o amor e decência, então não ouse me dizer que exagerei. Aguentei todos os seus desaforos e repreensões por meu companheiro e sogros, se eu fosse você, teria baixado a cabeça e colocado meus joelhos no chão em agradecimento. Mas, humano Ravi, eu não sou obrigada a ouvi-lo, tornei meu objetivo de vida descobrir cada passo errado que você deu, cada coisa ilegal que fez e por quanto tempo vou poder manter você em uma pequena cela.

-Isso é uma ameaça? - Ravi perguntou.

-Não, é um aviso. Vou derrubá-lo desse trono de ossos que construiu, tenho o nome e data de cada vítima sua, só preciso de mais uma informação antes de conseguir o que eu quero. 

Safira sorriu quando viu o pânico do homem, ninguém na sala ousaria se envolver na discussão, nem mesmo Laurent, mas ele tinha dado sua permissão para que ela investigasse o humano, embora nem mesmo Lucien soubesse disso.

-Quero que você passe cada segundo do seu dia sabendo que Luan me daria essa informação em uma bandeja se eu apenas dormisse com ele, quero que se torne cada vez menos cuidadoso com suas decisões, quero que saiba que eu observo todos os seus movimentos. Agora, saia da minha casa e leve seu filho com você, não os quero perto de ninguém que eu ame.

Laurent olhou para a companheira de seu filho, a linhagem havia sido forjada em fogo e brasa, passado por um inferno antes de finalmente se encontrar, mas ele não poderia escolher uma companheira melhor para Lucien, que tinha o péssimo hábito de ser condescendente em excesso.