Cinco anos ANTES
ABRIL DE 2012
LONDRES, Inglaterra
Era um domingo cinzento, o céu chorava, deixando a temperatura ainda mais gélida. Dexter e eu estávamos voltando da igreja. Enquanto ele dirigia, eu olhava pela janela, observando a chuva caindo. Os respingos deslizavam silenciosamente pelo vidro. Meus pensamentos ainda presos as palavras do padre, Oliver, que citou sobre os princípios do casamento. Fidelidade, companheirismo, amor, felicidade... Tudo tão distante do que eu realmente vivo com o meu marido. "O que Deus uniu o homem não separa". –– disse o Padre, Oliver quando Dexter e eu nos casamos. Logo me veio à mente que não foi Deus que nos uniu. Foi a ganância, aparência, a conveniência, o interesse. Menos Deus.
–– O que você tanto olha por essa janela, Daphne?
–– A chuva.
–– Não fale como se fosse uma sonhadora. –– reprovou ríspido. –– Você não precisa sonhar. Já tem tudo que quer. –– apenas suspirei recostando a cabeça no banco. –– Isso é culpa dos livros do Harry Potter que leu, acha que vive em Hogwarts? Cresça Daphne!
–– Infelizmente Hogwarts não existe, seria muito melhor viver lá! –– cuspi, ele deu-me uma bofetada com as costas da mão.
Meu paladar amargou, entregando que minha boca sangrava por dentro.
–– Eu vou queimar aquela patética coleçãozinha autografada pela J.K. Rowling. Talvez assim você pare de sonhar acordada! –– bradou.
Quais os propósitos de uma jovem de dezoito anos? Baladas, sexo, drogas, diversão sem limites, faculdade, um emprego, um amor que seja verdadeiro. Sei lá! Entre outras coisas que milhões de jovens adultos pensam em relação ao rumo que pretendem seguir na vida. As pessoas são relativamente diferentes, ou talvez, relativamente iguais. E acredito que são as nossas escolhas que fazem com que a nossa relativa semelhança seja diferente.
Tenho a impressão de que a minha vida foi toda planejada, desde o dia que fui apresentada ao mundo através da vagina da minha mãe. Cresci escutando ideologias autocráticas sobre de como deveria me comportar perante a sociedade. "Você fará um bom casamento, Daphne". Palavras da minha mãe. Ela sempre levou-me a crer de que fazer um bom casamento seria a melhor coisa que aconteceria na minha vida. Eu não sonhava em cursar em YALE, eu não sonhava em ser a miss universo, eu sonhava em ser a Srª. Alguma coisa importante.
Então, foi aos dezoito anos de idade que casei-me com um dos milionários mais cobiçado de Londres. Dexter Leveck Heinzenn, vinte anos mais velho que eu, que vem de uma geração de alto renome. Não há sequer uma pessoa em toda a Inglaterra que desconheça o sobrenome Heinzenn.
Imagine que tornar-me a Srª. Heinzenn, só fizera o meu prestígio aumentar. E era exatamente esse, o vislumbre dos meus pais. Owen e Eleanor Becker. A fortuna dos Becker já não existe mais, contudo, o nome precisa ser mantido intacto perante a sociedade. Então, os meus pais fizeram com que eu conhecesse o herdeiro das fábricas de chocolate, HEINZENN. Dexter encantou-se comigo, assim como eu encantei-me com seu porte cordial. Namoramos por um ano, até nos casarmos, o que está fazendo hoje, cinco meses... de puro inferno.
O Dexter que conhecia a cinco meses atrás, não se parece em nada, com o homem que dorme ao meu lado. O rapaz gentil e encantador, simplesmente, desapareceu.
Passeios com as minhas amigas, ou visitas a casa dos meus pais, são canceladas cada vez com mais frequência. Por que? Porque as vezes é impossível conseguir esconder os hematomas do meu rosto com maquiagem.
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VATICAN
FanficEu poderia começar com "Era uma vez", mas essa não é uma história da qual possa ser comparada a um conto de fadas. Tampouco, é algo de que eu possa orgulhar-me. É só... Pecado. Uma palavra de seis letras, que acarreta milhões de culpas, julgamentos...