- Você ronca muito alto! Parecia que tinham três dragões brigando aqui dentro! - Anllye acordou com essas doces palavras de Zac. Ele começou a berrar assim que a viu se mexendo. - Eu tenho pena de quem mora com você no palácio... E que sono pesado é esse? Se tudo estivesse desabando, ainda assim, você não mexeria nem um músculo!
- Cala a boca, você fala demais. Eu ainda nem acordei direito... Ai! Ai, meu pescoço! Ai!
- Ah, aí está o torcicolo. É o chão duro, você se acostuma depois de uns duzentos anos. - Explicou Zac, compadecido. Anllye resmungou um pouco mais quando sentiu a dor no da queimadura no rosto.
- Isso é um pesadelo! Ninguém merece passar por isso, o sono é algo sagrado! - Choramingou Anllye. Zac, então, teve uma ideia, e a princesa caiu em si. - Ei, espere um pouco, você está aqui há duzentos anos?
- Eu estou aqui há quinhentos anos, quase minha vida toda desde que fui amaldiçoado.
- E quantos anos você tem? - Perguntou Anllye, sentando-se sobre o casaco, tentando massagear o pescoço.
- Quinhentos e treze.
- Há! Você é velho, pensei que fosse um adolescente.
- Eu sou um adolescente, sua idiota, nós dragões só nos tornamos adultos com mil anos de idade. - O jovem humano-dragão revirou os olhos. Anllye estava com tanta dor que nem tinha vontade de implicar de volta.
- Vocês são estranhos, as fadas se tornam adultas com seiscentos anos. Eu tenho cento e dezessete. - Bocejou a jovem fadinha. Anllye coçou os olhos e gemeu de dor.
- Espécies diferentes, tempos diferentes. - Concluiu Zartaxes. Ele encarou Anllye em silêncio por alguns segundos. Por que ela é tão estúpida? E fica com essa expressão boba na cara? Pensou. Ah, que raiva. O pior é que eu não sei dizer se ela é idiota ou corajosa. Talvez as duas coisas.
- Eu não enxergo tão bem no escuro, mas sei que você está me encarando. Posso saber o porquê? - A princesa olhou para o rapaz, sem conseguir enxergá-lo direito naquele breu, as flores luminosas não estavam fazendo muito bem seu trabalho.
- Ahem! - Pigarreou Zac, encabulado. - Ainda estou esperando você falar suas condições para me soltar.
- Se me lembro bem, já disse que não vou mais te soltar, e eu não tenho amnésia, não sou minha irmã. - Anllye cruzou os braços, mas logo se arrependeu, tudo parecia doer. A princesa das fadas podia se curar, mas só depois de um tempo. Não podia usar esse poder quando quisesse, e já havia curado Zac.
- Não é como se eu soubesse do que você está falando, você sabe, certo? - O menino dragão revirou olhos, mas ficou chateado. - Eu só estou pedindo isso a você porque tem dedo da sua família no selo que me prende aqui. Eu não posso quebrá-lo pois sou o prisioneiro, uma pessoa qualquer também não pode, mas você pode, pois é uma Gerurk.
Anllye olhou para o garoto, surpresa com essa nova informação. Por que a família real estaria envolvida com isso? Devia ser algo muito importante, não é? Para manter uma criança dragão prisioneira por quinhentos anos?
- E eu não sei se você sabe, mas essas dores que você está sentindo agora, eu sinto todos os dias, desde que eu vim pra cá. - Zac revelou, fazendo drama. A expressão em seu rosto era a de um pobre coitado. - Eu nunca tive uma noite de sono decente...
- Oh meu Deus, isso é sério? - Anllye, chocada, aproximou-se de Zac. - Que crueldade absurda!
- Sim, sim! - Zartaxes segurou um sorriso, sua fuga estava garantida ali. Continuou a contar suas péssimas experiências. - Eu nem sequer vi um travesseiro em toda a minha vida. Também nunca toquei um cobertor quentinho ou deitei numa cama confortável...
Zac fungou e enxugou suas lágrimas falsas, e Anllye, horrorizada, estava com lágrimas emocionadas nos olhos. Aquele era o relato mais triste que já ouvira na vida.
- Tudo por causa dessas malditas correntes! E todos os dias da minha forma de humano eu durmo todo torto, assim ó: - Zac se contorceu de forma exagerada para ilustrar sua situação. Anllye parecia que desmoronaria a qualquer momento.
- Já chega, já chega! - Anllye soluçou, tirou um lenço do bolso de seu vestido amarelo e assoou o nariz de forma barulhenta, Zac fez uma careta, enojado. - Eu não desejaria isso nem ao meu pior inimigo, menino dragão.
- É Zartaxes.
- Tanto faz. Você me convenceu. Eu vou soltar você, ok? Em troca, eu só quero que me leve para casa.
- Você se perdeu? Você é uma princesa das fadas e se perdeu em um dos lugares mais importantes do seu reino? - Riu Zac, sem acreditar. Anllye virou o rosto, vermelha de vergonha e pigarreou.
- Isso não vem ao caso, quer que eu te solte ou não? - Bufou a princesa, cruzando os braços.
- Sim, claro, foi mal. - Respondeu o garoto, sem conter o sorriso torto que se formava em seus lábios. - Então temos um acordo, certo?
Anllye concordou com um aceno. E então, esquecendo todos os pensamentos sobre o motivo importante de Zartaxes Renéet estar preso ali, Anllye se aproximou do humano-dragão sujo, irritante e arrogante, segurou as correntes mágicas de ambos os lados e tentou quebrar o selo com sua magia. Nada aconteceu.
- Ah, ótimo, você veio defeituosa de fábrica...
- O quê? Cala a boca, dragão idiota! O problema aqui é claramente você! Por que você está preso, afinal de contas?
- Ora, porque eu sou o filho favorito da minha família, eles me amam tanto que não queriam que eu fosse embora... - Ironizou Zac.
- Ah, entendi, os dragões te acham insuportável e te largaram aqui.
- Insuportável é você, sua princesa cabeça oca! Você é da família real mesmo? Aquele tal de Crolse deve ter mentido pra você.
- Para com isso! O que você sabe? Seu lagartinho idiota, não ouse pronunciar o nome do meu irmão!
- Você é uma uma fadinha estúpida e eu falo o que eu quiser! O seu "irmão" CROLSE é um O-T-Á-R-I-O que deve estar mentindo pra você!
Anllye, num impulso de raiva, gritou e bateu o pé no chão, soltando uma onda muito poderosa de magia, que jogou Zac para trás, fez tremer toda a área de alguns quilômetros e quebrou as correntes mágicas.
- Au, minhas costas, eu devo ter quebrado alguma coisa! - Choramingou Zac, levantando-se do chão. Anllye chorava de raiva e tristeza, parada no mesmo lugar onde estava antes. - Ei! Você conseguiu! Acho que no fim das contas você só precisava de uma magia mais forte...
Anllye não parava de chorar. Já nem se importava se Zac estava vendo ou não, ele realmente a chateou. Ela só queria ir embora o mais rápido possível... De repente, algo toca em sua cabeça e Anllye levanta os olhos.
- Ei, er... Desculpe, princesa. Eu fui longe demais nas minhas palavras e magoei você. - Zac parecia encabulado, percebendo a besteira que tinha feito. - Eu vou tentar me redimir, ok? Vem, obrigado por me soltar. Vou te levar para casa agora.
Zac acariciou os cabelos de Anllye da mesma forma que Crolse fazia toda vez que ela estava chateada. A fada ficou paralisada, encarando-o por alguns segundos, sem entender o que estava acontecendo, mas seu coração ficou aquecido. Anllye era o tipo de pessoa que perdoava facilmente.
- Mas anda logo, eu não tenho o dia todo, dragões não morrem de fome, mas eu comeria fácil umas dez mil ovelhas inteiras agora mesmo! - Ele andou em direção a saída da caverna. Quando notou que Anllye não estava o seguindo, Zac parou e olhou para ela. - O quê...
- Eu me chamo Anllye. - A princesa fada o interrompeu. Zac a olhou surpreso. - Mas pode me chamar de An.
Zac sorriu levemente e acenou com a cabeça.
- Certo, An, e você pode me chamar de Zac.
- Ah, ok, Zac. - Anllye enxugou as lágrimas e andou até ele, para que pudessem sair juntos da caverna. - Mas eu prefiro te chamar de dragão estúpido, combina mais com você.
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O Curioso Relacionamento Entre A Princesa das Fadas e o Dragão Amaldiçoado #1
FantasyLivro I Uma princesa fada adolescente preguiçosa está entediada com a vida pacata no palácio. Seu pai está cansado e seus irmãos ocupados. O que fazer agora? Tomar uma atitude? Procurar um novo hobby? Claro que não! Reclamar da vida com seu irmão ma...