sorvetes e inscritos!

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A pior coisa para quem mora em prédio é, sem duvidas, a reunião de moradores. Que consiste em metade do prédio se reunir para falar de coisas totalmente desinteressantes, como reclamações de barulho no sétimo andar ou uma nova piscina.

Também achava que uma nova piscina seria legal, mas ficar falando por mais de uma hora sobre o preço dela e os tipos diferentes, que eu nem sabia que existiam, não era nenhum pouco divertido.

Como minha mãe era médica, ela sempre estava no hospital quando marcavam essas reuniões, e eu acabava indo no seu lugar. Não por vontade própria, claro. Mas daquela vez, tive esperanças de não ser a única pessoa com menos de quarenta anos naquele lugar. Talvez Alex também fosse, o que me animou um pouco.

Poucos segundos depois de chegar, essa animação desapareceu. Eram os mesmo adultos de sempre, nada de vizinho novo. Me sentei em uma das cadeiras de plástico e mandei uma mensagem para a minha mãe, avisando que eu já estava lá.

A síndica do prédio começou a falar sobre as reclamações de barulho daquele mês e depois de meia hora ouvindo, estava quase pegando no sono ali mesmo. Fechei meus olhos por um instante, mas os abri rapidamente quando alguém se sentou do meu lado.

— Acorda, bela adormecida! — disse Alex, fazendo com que eu sorrisse.

— Juro que não tava dormindo, só estava descansando os olhos. — falei e ele começou a dar risada, o que fez com que mulher do meu lado mandasse a gente ficar quieto.

— Também foi obrigado a vir? — perguntei, dessa vez em um tom de voz mais baixo.

— Claro. E acho que foi melhor, minha tia me contou da vez que ela brigou com a síndica no meio da reunião.

— Eu estava nesse dia! — falei, lembrando perfeitamente da dona Luzia se levantando e começando uma discussão. — Pelo menos ela fez isso aqui ficar interessante.

Continuamos a conversar baixinho e felizmente, não havia muito o que discutir naquele dia. Então a reunião acabou e todos começaram a sair da sala.

— Quer ir dar uma volta? — perguntou. — Ainda não conheço muitos lugares daqui.

— Pode ser. — respondi, já um pouco nervosa. — Tem uma sorveteria umas duas ruas pra baixo, posso te levar lá.

Ele concordou e saímos do prédio, conforme andávamos aconteceu exatamente o que eu não queria. Silêncio. Sempre odiei silêncios constrangedores, em que as pessoas querem conversar, mas ninguém sabe o que dizer. Então resolvi ser corajosa, uma vez na vida, e tentar puxar assunto.

— Então... — comecei e quando ele se virou para mim, continuei. — Você está morando com sua tia, certo?

— Isso. Eu sou do Rio de Janeiro, mas meus pais me mandaram pra São Paulo para estudar aqui por um tempo.

— Deve ser legal morar no Rio, queria muito que aqui tivesse praia.

— Lá é bem legal, mas aqui também é. Apesar de não ter praias. — falou, com uma risada. — Agora me conta alguma coisa sobre você.

— Hum deixa eu ver... — disse, pensando sobre o que falaria. — Eu já morei nos Estados Unidos durante um ano, em uma cidade perto de Nova Iorque. Mas isso já faz um tempo. Agora minha vida não é muito interessante não.

Contar que tenho um canal no YouTube passou pela minha cabeça, mas sabia que a pergunta que viria em seguida seria quantos inscritos eu tinha. E assim que eu respondesse mil, ele iria dar risada. Então achei melhor nem comentar.

Ele me fez algumas perguntas sobre meu intercâmbio e rapidamente chegamos na sorveteria, que como sempre estava com fila gigante. Não sou exatamente uma pessoa atlética, então já estava cansada de ficar de pé.

— Alex eu pego uma mesa e você os sorvetes, depois eu te pago. Pode ser? — sugeri, torcendo para ele dizer sim para eu poder ir sentar.

— Ok. Quer de que sabor?

— Pistache!

Vi uma mulher com duas crianças sair de uma mesa, e corri sentar antes que alguém chegasse primeiro. Enquanto esperava peguei meu celular e entrei no canal, torcendo para que tivessem comentado no meu último vídeo. Estava respondendo o único que recebi quando de repente vejo que o número de inscritos começou a aumentar rapidamente. Quando fui ver quem tinha sido o primeiro, quase cai daquela cadeira de plástico, DylanSs tinha começado a me seguir!

Ele foi uma das primeiras pessoas que eu comecei a assistir, e seus vídeos sempre me faziam dar risada. Não era aquele tipo de pessoa que força para ser engraçado, era natural e por causa disso muitas pessoas também gostavam de assistir ele. O que fez com que em dois anos de canal ele já tivesse mais de um milhão de inscritos e a cada dia esse número crescia.

Vi Alex vindo em minha direção, com os sorvetes na mão e fiquei sem saber o que fazer. Não sabia se voltava para casa ver o canal ou se ficava aqui com ele. Por mais que quisesse muito a primeira opção, também não queria ser grossa, então decidi ficar.

— Alex obrigada pelo sorvete, aqui o dinheiro. — falei, entregando uma nota de cinco reais para ele.

Continuamos a conversar, mas eu estava ansiosa para ver meu canal então sugeri que voltássemos andando enquanto tomávamos o sorvete. Ele pareceu meio desanimado, mas acabou concordando.

Assim que chegamos no prédio nos despedimos e eu corri para o meu apartamento, indo direto para meu quarto. Ao ligar meu notebook, chequei o canal e abri um sorriso enorme. Era mesmo verdade, eu tinha DylanSs como inscrito!

Belle, youtuber!Onde histórias criam vida. Descubra agora