Capitulo três: Ódio

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O homem se levantou, fitou Lucia, os olhos dele brilhavam, o desejo era nítido, e tal desejo foi saciado ali mesmo, ele ainda estava sobre o corpo dela quando os outros homens voltaram trazendo a única coisa que encontraram para enforcara, o véu.

- Cara - perguntou um deles ao se deparar com a cena - que merda você ta fazendo? Isso não tava no acordo.

- Cala boca - disse o homem  com rispidez - daqui a pouco ela vai estar morta mesmo.

- Neste caso - disse um  outro com um sorriso cínico - se apresse, também quero me divertir.

Três daqueles homens saciaram suas necessidades doentias sobre o corpo de Lucia, não satisfeitos em  apenas a violentarem a cortaram, bateram, só pararam mesmo quando ouviram a voz de Ana que se aproximava pela estrada.

- Teu desgraçado - gritou ela para o homem que possuía Lucia - isso não faz parte do acordo.

- Relaxa - respondeu ele se levantando e ajeitando a roupa - a gente já acabou aqui.

- Idiotas, um homicídio e diferente de um estupro não sei se vocês sabem - ela se  calou respirou fundo e perguntou - pelo menos ela já esta morta ?

- Ainda não - disse o homem que segurava o véu - mas isso eu resolvo rapidamente.

Lucia agora não passava de uma junção de poucos, um pouco de visão, um pouco de audição, um pouco de vida, e bem pouco de esperança de sair dali viva.

Amarram o véu no pescoço dela, um deles subiu na arvore, passando o véu sobre um galho, e com um momento rápido, o corpo dele desce e o dela sobe.

Nos poucos segundos que ela ainda tinha de vida, viu outro vulto se aproximando chegou por trás abraçou Ana, ela reconheceu o terno, tentou gritar, mas o ar já havia sido roubado de seus pulmões, e com o pouco de audição que ela ainda tinha ouviu a doce voz do homem que um dia ela amara dizer.

- Não se esqueçam, façam parecer real.

Ricardo tomou um soco, dois, essa foi  a ultima coisa que Lucia pode ver, a jovem moça já não estava mais dentre os vivos, ali pendurado sobre um arvore amarrada pelo pescoço com o próprio véu estava o que sobrou de Lucia Albuquerque a mulher mais rica do pais...

Já estava escurecendo quando Lucia abriu os olhos, ela estava sobre a grama, sua cabeça não doía, nem seu corpo, ela nunca se sentiu tão bem em toda sua vida.

- Foi tudo um pesadelo - disse ela a si mesma.

Quando se levantou e olhou para a velha casa, viu que os vidros estavam quebrados, olhou para o chão e viu um dos seus dedos,  viu o sangue que escorria pela suas pernas, os cortes no braço, nos seios.

- O que ta acontecendo comigo - gritou ela.

Virou-se para correr para estrada mais ela ficou paralisada com o que viu.

Amarrado na arvore estava o corpo dela, mutilado, ensangüentado e morto.

- O que ta acontecendo - gritou ela novamente - mãe, pai, alguém me ajuda.

Caiu de joelhos e começou a chorar, ouviu passos atrás dela alguém se aproximava vindo da casa.

- Espíritos não choram sabia - disse uma voz grossa para ela.

- Quem é você - perguntou ela se pondo de pé.

A figura em pé não tinha braços, no lugar correntes de ferro com bolas de espinhos nas pontas  estavam penduradas, com um movimento de cabeça ela figura fez cair o capuz que lhe escondia o rosto.

- Isso é impossível - disse Lucia recuando - quem é você?

A mulher desmembrada tinha olhos azuis, cabelos loiros e um rosto doce, a mesma aparência de Lucia.

- Eu - disse a mulher desmembrada - sou uma parte de você Lucia, sou o lado que você nunca deixou existir até agora, eu sou sua maldade, seu ódio, sua ira.

- Eu to morta - disse Lucia - ou melhor, nos estamos mortas.

- Na verdade eu sempre estive morta, você nunca me deixou criar vida - respondeu a mulher desmembrada - e a partir de hoje tudo que o mundo conhecia sendo Lucia Albuquerque também  esta morto.

Lucia olhou para seu corpo pendurado, deu uma risada de ironia e se voltou para a mulher desmembrada.

- Ele nunca me amou não é? Foi tudo pelo meu dinheiro.

- Não me faça perguntas que já sabe a resposta - disse a mulher desmembrada.

Os olhos de Lucia se encheram de ódio, todo o ódio que ela não sentiu quando viva sentia agora depois de morta, toda pureza e bondade que um dia foram doutrinas para ela agora não passavam de idéias medíocres e inúteis.

- É engraçado não é - disse Lucia para a mulher - foi preciso que eu morresse para você nascer.

- Esta errada - disse a mulher desmembrada pela ultima vez - eu não nasci, eu apenas despertei, dentro de você.

Os olhos delas se encontraram, riram a mulher desmembrada e Lucia agora vagavam juntas em uma forma só. O espírito caminhou ate a arvore, se ajoelhou sobre os respingos de sangue que formavam uma poça, ele mergulhou a cabeça, e quando levantou, o seu rosto estava sem pele, os dentes apodreceram, um dos braços havia sumido, dando lugar a uma corrente de ferro, ela se levantou e caminhou pela estrada, a alma de Lucia precisava de vingança.

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