Plano Imperfeito

02

Anahi Puente

— Acho que vocês já se conhecem — Liam diz. — Anahi, temos uma proposta para você.

Alfonso se encosta ao sofá, parecendo totalmente confortável com a situação. É claro que está. Essa é a casa dele, sou eu quem está em um lugar totalmente diferente dos que costumo frequentar, de frente para um homem que exala poder e dinheiro. Empino o nariz, negando-me a mostrar vulnerabilidade.

— Você disse que resolveria essa... — Perco-me, sem saber como nomear o momento. — Isso.

O moreno petulante dá um risinho e abaixa a cabeça, acariciando o focinho do cachorro. Olhei para ele disposta a perguntar qual o motivo da graça, mas seu assessor volta a falar:

— Anahi, como você deve saber, Alfonso é quarterback profissional e a NFL proibe qualquer tipo de envolvimento com líderes de torcida.

— Opa! — Dessa vez quem ri sou eu. — Desculpe aí, engomadinho, mas eu não estou pedindo seu protegido em namoro.

— Na verdade... — Liam tenta falar, mas é interrompido.

— Protegido? — questiona o moreno.

— Sim. Todos que acompanham o mínimo sobre futebol americano sabem que, quando não está em campo, está fora fazendo merda. Seu assessor, inclusive, é chamado de babá em grande parte das vezes.

— Você é algum tipo de stalker? — ele rebate.

— Não. Mas eu gosto do esporte e torço pelo seu time, então fica difícil não saber sobre sua vida... agitada.

Ele arqueia as sobrancelhas.

— Como eu estava dizendo...

— Engraçado, você não pensou duas vezes antes de enfiar a língua na minha boca e tirar uma casquinha da minha vida agitada — ironiza e eu posso sentir minhas bochechas vermelhas.

Mas não de vergonha, de raiva.

— Foi você que me beijou. Mas é claro que não deve se lembrar, já que estava tão bêbado e chapado que mal conseguia parar em pé.

— Cuidado com o que fala, menina! Eu não uso drogas!

— Menina? — Dou uma risada amarga.

— Por quê? Você é menino? Dessa vez quem arqueia as sobrancelhas sou eu.

— Você me chamou de menina, tentando me infantilizar.

— Bem, adulta é que você não é, não é?

— Você está brincando comigo? — indago, sentindo minha voz aumentar.

Ele sorri e isso me deixa ainda mais puta.

— Isso é você que está dizendo.

— É sério, isso? — Levanto-me, nervosa demais para ficar sentada. — Eu tive um dia de merda por sua causa. — Aponto em sua direção. — Demorei um ano para conseguir entrar para a equipe de cheerleaders e quando, enfim, eu consigo, sou expulsa porque uma foto minha me agarrando com um jogador de futebol idiota está em todos os veículos da mídia! E a foto está horrível! Você parece prestes a me engolir e o pior de tudo é que o beijo foi péssimo! Seu beijo é babado demais e...

— O quê? — Ele se empertiga no sofá. — Eu beijo muito bem! Você deve ter algum problema, garota. Nunca ninguém reclamou.

— Eu acabei de dizer que eu fui demitida. Demitida!  — repito em alto e bom som para ser ouvida. — E você só absorve a parte do beijo ruim?