Prólogo

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Alfonso Herrera

— Poncho! — Escuto me chamarem.

Algo longe. Bem longe.

— Alfonso! — gritam mais alto, fazendo com que eu sentisse uma pontada na cabeça.

Abro os olhos, tentando aos poucos me acostumar com a pouca iluminação e... Droga! Sinto o impacto da claridade quando puxam a cortina da janela de vidro, revelando o sol que faz lá fora.

— Eu não sei mais o que fazer com você, cara! — Liam, meu assessor, reclama. Coloco o braço sobre os olhos e respiro fundo, sentindo um gosto amargo de álcool na boca. Ah. É isso! Talvez esse seja o motivo por estar tão chateado.

— Você tem trinta minutos para se recuperar. Eu te espero lá embaixo.

Ouço seus passos e logo em seguida a porta se fechando. Volto a tentar me acostumar com a claridade, sentando-me aos poucos. Gemo de dor ao sentir o latejar na cabeça. Tudo só piora quando boto as pernas para fora da cama. A náusea me invade com tanta força que preciso respirar fundo e me controlar para conter a bile.

Talvez eu tenha passado um pouquinho da conta ontem.

Continuo puxando a respiração até que me sinto confiante para levantar. Cambaleio para o banheiro, indo direto para a privada, já que sinto minha bexiga prestes a explodir. Mal tenho tempo de terminar de urinar quando sinto outra náusea. O gosto ácido invade minha boca quando me inclino, vomitando.

— Porra! — Boto a mão no estômago e cuspo uma última vez.

Abro a porta do balcão aéreo do banheiro e pego um enxaguante bucal, levando-o comigo para o chuveiro. Abro a ducha, logo me enfiando debaixo dela, sentindo a água cair sobre o meu corpo e aliviar parte da tensão e mal-estar.

Faço um bochecho. Repito o processo três vezes só para garantir que o gosto ruim realmente saia. Tomo um banho demorado, querendo que a água não ajude só a revigorar meu físico, mas também a preparar meu psicológico para tudo que Liam provavelmente tem para me falar.

Quando desligo o chuveiro, sinto-me um pouco melhor. Enxugo meu corpo e vou até a bancada da pia pegar creme dental para fazer escovação, mas paro ao me ver no espelho, realmente assustado com a minha... situação.

Talvez eu realmente tenha passado do ponto ontem, levando em conta minha aparência horrível.

Suspiro, resignado. Então pego a escova, coloco creme dental e começo a escovação sem voltar a me olhar no espelho.


°



Quando chego à cozinha, vejo Liam sentado diante do notebook sobre a mesa, que parece ter sua total atenção. Porém, depois de anos trabalhando juntos, sei que não é bem assim. Mesmo eu estando descalço e não fazendo barulho algum ao entrar no ambiente, sei que ele já está ciente da minha presença.

Em cima da mesa tem um copo de leite e outro de suco, que parece ser de laranja, e ao lado, banana picada e omelete. Sinto meu estômago contrair só por ver a comida e, como se soubesse o que estou pensando, os olhos do meu assessor e amigo encontram os meus.

— Você vai se sentar nessa cadeira e comer tudo, Alfonso.

— Eu não tenho dez anos para você falar nesse tom comigo — ironizo com vontade de mandá-lo ir se foder.

— Não tem, mas parece ter — fala e, sério, indica a cadeira.

Eu me sento e volto a olhar para a comida diante de mim. Pego o copo de suco, identificando ser de laranja pelo cheiro. Eu o tomo de uma vez só, sentindo a garganta seca. Porém, quando olho para o leite e o restante das comidas, eu...

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