2. A Porta Vermelha

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Como as aulas só começavam de noite, o garoto não tinha mais muita coisa para fazer, então voltou andando pela rua, tentando fugir do sol forte

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Como as aulas só começavam de noite, o garoto não tinha mais muita coisa para fazer, então voltou andando pela rua, tentando fugir do sol forte. Não planejava contar para a mãe que faltaria à faculdade que ela estava se virando para pagar, o que serviu para deixá-lo ainda mais culpado. Tinha prometido que dessa vez levaria as aulas à sério e que terminaria o curso de Ciência da Computação, diferente do que havia acontecido com o de Educação Física, que ele sequer terminou um semestre.

Estava se esforçando para cumprir essa promessa, mas era difícil. A área era quente e tinha muitas oportunidades, só que ele achava as aulas longas e desinteressantes. O lado bom é que tinha o estágio. Não que Danilo o achasse divertido — muito pelo contrário —, mas pelo menos conseguia arrancar alguns cascalhos dali e, se tivesse um bom desempenho, talvez fosse efetivado na empresa. Até que isso acontecesse, entretanto, sabia que teria muitos uai-fais para ajeitar.

Assim que terminou de comer, pagou a conta do self-service e voltou para a rua, um pouco cansado. O calor não ajudava, fazendo a mochila parecer mais pesada, grudada às costas com o suor. Até ele, mestiço de pele morena, precisara passar protetor solar no rosto e nos braços para não ficar queimado. Não pensou duas vezes antes de se enfiar por debaixo de uma marquise e aproveitar um pouco a sombra — como era bom o ar condicionado vazando das fachadas das farmácias e lojas de roupa. Caminhou alguns minutos pelo trajeto conhecido, planejando passar em casa para dar uma descansada. Um banho bem gelado ia cair muito bem.

Estava distraído imaginando o que faria com o tempo ocioso quando tropeçou nos próprios pés e foi parar no chão.

Foi como se tivesse passado por um chacoalhão.

Os demais transeuntes o encararam meio cômicos, provavelmente achando graça do otário que tropeçara no meio da rua, mas não demoraram a voltar a atenção para as próprias vidas. Danilo se pôs de pé e limpou o pó das roupas, irritado. Hoje não era mesmo o seu dia. Então, algo chamou sua atenção entre uma farmácia e outra, fazendo-o piscar os olhos. Podia jurar que aquela porta vermelha não estava ali um segundo antes.

Ele se aproximou sem se importar com as pessoas no meio do caminho, franzindo o cenho. A farmácia à esquerda tinha o lote número 45 e a farmácia à direita o lote número 46. Na porta, o único número que aparecia era um 665 dourado e cintilante. Como era possível?

Antes que Danilo pudesse dar fruição à sua curiosidade e puxar a maçaneta, as dobradiças rangeram, a passagem se abriu e uma mulher saiu com ar de frustrada, resmungando alguma coisa entredentes. O menino piscou os olhos, afoito, e pensou por um instante se devia perguntar se ela estava bem. Entretanto, logo a mulher já desaparecia na multidão, quase como se não o tivesse visto. Danilo mordeu o lábio, encasquetado. Certo, taí uma coisa que não estava esperando.

Não conseguiu impedir os próprios pés de levarem-no até a abertura da porta e entrou, como se alguém o estivesse chamando. Da última vez que entrara na casa dos outros sem ser chamado — a bola de futebol tinha caído no quintal do vizinho —, ganhara um sermão e um puxão de orelha. Agora, não sabia exatamente o que o levava para aquele endereço, mas parecia que seu estômago não ia se aquietar até que entrasse.

A Bruxa Turmalina e a Agência de Expurgos DemoníacosOnde histórias criam vida. Descubra agora