Nos encontramos novamente

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MIGUEL

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Eu sinto falta de Isadora. Mais do que gostaria de admitir.

Um dia desses eu estava sentado na sala da casa dos meus avós, olhando pra uns desenhos e cartas que eu encontrei em uma caixa empoeirada no quartinho da bagunça. Eles eram todos de Isadora, da época em que a gente era amigo. Da época que ela não me odiava. Isso foi antes daquela briga no último ano do ensino médio.

Quando abri a caixa, quase não acreditei que todas essas coisas não tinham ido pro lixo. Desdobrei os desenhos e admirei os traços de lápis delicados e as cores saturadas que Isadora costumava usar. Ela sempre foi uma artista talentosa. Também li todas as cartas que ela me escreveu, narrando as histórias mais aleatórias e piadas internas que só nós dois entendíamos. Era quase um diário da nossa amizade que ela fazia questão de manter atualizado, pelo menos naquela época.

Percebi que, no final das últimas cartas, haviam anotações quase implorando para que eu ligasse para ela ou passasse mais tempo juntos. Eu sempre dizia que ela estava sendo dramática demais. Mas agora, lendo essas cartas novamente, eu percebi que talvez o insensível da história tenha sido eu.

Eu nunca ligava para ela ou respondia às cartas como deveria ter feito. Confesso que tava preocupado demais em me enturmar com a galera popular e isso acabou me cegando pro que realmente importava.

— O que é isso?

Minha irmã perguntou, olhando para o monte de papéis espalhados na minha frente.

— Nada, só... umas coisas antigas que eu encontrei

Tentei esconder a emoção em minha voz, mas não acho que funcionou. Ela me observou em silêncio por um instante.

— Isso é daquela garota que você brigou no ensino médio, não é?

Eu assenti, sentindo um nó se formando em minha garganta.

— E por que você ainda tem isso?

Eu não tinha uma resposta. Lembro que fiquei bastante magoado com Isadora na época, mas nunca tive coragem de jogar essa caixa fora.

— Eu acho que você deveria devolver essas coisas para ela. Pode ser uma forma de vocês começarem a se reconciliar.

— Eu não sei, Gabi. As vezes que tentei me aproximar dela não deu muito certo. — Comecei a guardar os papéis de volta na caixa.

— Você tem que tentar, Miguel. Às vezes, o perdão é a única forma de seguir em frente. E você bem que tá precisando disso.

Aquelas palavras ressoaram em mim. Eu sabia que Gabi estava certa, eu precisava me reconciliar com Isadora e acertar as coisas.

Essa mágoa já ficou guardada por tempo demais.

Cheguei em casa e abri a caixa novamente pra folhear os papéis com calma, um por um. Os desenhos eram todos de Isadora e eu, do tempo em que vivíamos grudados. Tinha retratos nossos, lugares que gostávamos na escola, nosso gato Tobias... Eu sei o carinho e dedicação que ela colocou em cada um deles.

Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Que saudade desses tempos.

Mas o que mais me chamou a atenção foram as três cartas que Isadora me escreveu depois da nossa briga. Estavam em envelopes branco com margaridas desenhadas à mão, todas lacradas. Na época que recebi, não tive coragem de abrir e depois, com a correria da vida, acabei esquecendo. Então foi o que eu fiz naquele momento.

Mal-te-queroOnde histórias criam vida. Descubra agora