Sorte do dia

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ISADORA

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Eu nunca roubei nada na minha vida, mas agora me sinto uma criminosa.

Tá. Já roubei antes sim, mas foi só uma vez! Eu juro! E até hoje eu carrego a culpa do chocolate da Americanas que eu coloquei escondido na minha bolsa. Mas pelo menos ainda tenho o meu réu primário intacto.

Depois que Miguel saiu da sala, eu me apressei em direção ao meu carro no estacionamento, torcendo pra não esbarrar com ele. Acho que dirigi o caminho inteiro da escola pra casa rindo de nervoso e, antes que eu percebesse, já estava subindo as escadas pro meu apartamento. Completamente consciente da presença de um celular furtado na minha bolsa.

Meu coração acelera por causa da adrenalina da situação.

— Nicolas?

Chamo pelo meu irmão para verificar se está em casa, não obtenho resposta, tranco a porta e jogo as chaves no balcão da cozinha. Respiro fundo e procuro o celular de Miguel em meio aos trabalhos dos alunos na minha bolsa.

Quatro dígitos. Só preciso de quatro dígitos pra desbloquear a tela.

Certo, vamos lá.

Vamos começar pela tentativa mais óbvia — a data do aniversário. Narcisista como ele é, não duvido que tenha colocado o dia que nasceu como senha do próprio celular.

Por sorte (azar, na verdade) eu lembro bem a data do seu aniversário: primeiro de julho. Um canceriano cuja personalidade não tem nada a ver com a descrição do seu signo — "um exemplo de lealdade e companheirismo"? Até parece!

Digito 0107 na tela do celular.

Senha incorreta.

Tento novamente, mas em outra ordem: 0701.

Senha incorreta.

Respiro fundo e tento pensar em outras datas que poderiam ser importantes para ele. Não me vem nada à mente. Então começo a tentar sequências aleatórias.

7878

Senha incorreta.

3245

Senha incorreta.

8481

Senha incorreta.

Certo, sem pânico.

Coloco o celular em cima do balcão com a tela virada para baixo e me afasto, como se isso fosse fazer o celular se desbloquear sozinho. Começo a rir da situação ridícula que me encontro. Que decisão bosta, hein, Isadora?

Mas assim... em minha defesa, acho que qualquer pessoa minimamente curiosa faria o mesmo no meu lugar.

Imagina só: você tá de boa vivendo sua vida, aí seu arqui-inimigo ressurge do quinto dos infernos, agindo de forma suspeita e você, por um acaso, lê AQUELAS mensagens no celular dele. Tenho certeza de que você ia ficar se coçando pra saber o resto da conversa. Ou vai me dizer que não?

O celular começa a vibrar e volto a ficar nervosa. Merda. Mas é CLARO que ele ia tentar ligar para o próprio celular em algum momento. Eu devia ter desligado assim que cheguei em casa.

Pego o celular para colocar no modo avião, mas acabo deslizando o dedo pela tela sem querer e percebo que atendi a ligação. Merda. Merda.

— Alô?

Mal-te-queroOnde histórias criam vida. Descubra agora