Pega no flagra

19 1 4
                                    


MIGUEL

.

Entro no barzinho e logo me animo ao perceber que está lotado. Confesso que planejava recusar o convite de Lívia hoje, mas faz tanto tempo que não a vejo, que acabei decidindo vir de última hora.

Só não consegui avisar a ela ainda porque Isadora roubou meu celular.

Hoje mais cedo, acho que ele caiu do meu bolso na sala dos professores, por causa da pressa que eu saí assim que a reunião acabou (o pastel que comi no lanche não me fez muito bem).

Quando saí do banheiro foi que percebi sua falta, então voltei pra sala dos professores pra pegá-lo — ele não poderia estar em outro lugar.

Chegando lá, vi Isadora agindo de forma um tanto suspeita. Ela ficou bem surpresa quando eu abri a porta da sala e escondeu a bolsa atrás do corpo. Perguntei se ela tinha visto meu celular e ela negou de imediato.

Eu queria confrontá-la, mas não queria parecer louco. Então continuei procurando como se nada estivesse acontecendo. Mas ela agiu de forma estranha o tempo todo.

No final, acabei saindo da sala sem meu celular, e Isadora foi embora logo em seguida. Então decidi ver nas câmeras. Seu Expedito me ajudou com muita simpatia, quando disse que o havia perdido na escola.

— Começasse a trabalhar aqui esses dias, não foi?

— Isso. Tô substituindo Eliza enquanto ela tira a licença maternidade. Comecei semana passada.

— Sim, Eliza! Gente boa demais, ela.

— Verdade.

— Mas rapaz, e tu mal chegasse e já perdesse o celular?

— Foi. — Ri com a forma que ele falou. — Perco ele com mais frequência do que deveria.

— Pois eu vou pegar um cafezinho ali na cozinha. Você pode ficar aí procurando por enquanto, que eu já volto.

Busquei as imagens da sala dos professores trinta minutos antes. Vi o momento que a reunião encerrou, Isadora pegando alguns papéis no armário, sozinha na sala, e quando estava prestes a sair, se dirigiu à cadeira na qual eu estava sentado.

Eu sabia.

Vi Isadora pegando meu celular, olhando a tela e eu chegando na sala. Ela ficou toda nervosa e jogou o celular na própria bolsa nessa hora. Quando eu saí, ela fez uma cara de desespero engraçada e depois saiu correndo da sala.

Revi o vídeo algumas vezes e ri em todas elas. Então selecionei o arquivo e enviei pro meu e-mail antes de seu Expedito chegar.

Eu PRECISAVA guardar aquele vídeo.

— Achou?

— Achei sim, uma amiga pegou. Vou falar com ela. Muito obrigado.

— Que bom, rapaz! Trouxe um cafezinho pra você também.

Seu Expedito me entregou uma das xícaras que segurava.

— Obrigado!

Quando cheguei na casa dos meus avós, usei meu celular reserva (um daqueles Nokia que não quebram por nada, sabe?) pra ligar pro que estava com Isadora.

Me pegou demais quando ela afinou a voz e fingiu ser Eliza no telefone, quase comecei a rir na hora, mas ela estava se esforçando tanto na atuação que eu entrei na onda. Quero só ver até onde isso vai.

Encerrei a ligação quando ouvi meu irmão tocar a campainha. O sol mal havia se posto e ele já estava bêbado. Me despedi dos meus avós e fui embora pela porta da cozinha antes que ele percebesse que eu estava lá.

Mal-te-queroOnde histórias criam vida. Descubra agora