MOVING DAY

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As luzes da cidade se acendiam diante de nós
E seu braço ao redor do meu ombro me dava uma sensação boa
E eu, eu tive a sensação de que pertencia
Eu, eu tive a sensação que poderia ser alguém
Ser alguém, ser alguém

(Fast Car- Tracy Chapman)

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-LO'AK!!! ONDE VOCÊ ENFIOU MEU FONE DE OUVIDO??? -E foi com os berros de Tuk que a manhã da família Sully começou a manhã. Na verdade, mais ou menos. Era um dia incomum no cotidiano deles, afinal não é todo dia que se muda de cidade, certo? Caixotes cheios de tralhas, sacolas de lixo empoleiradas pelos corredores e cabeças cheias de pensamentos incertos dominavam todo o ambiente, isso sem contar com Neytiri, a matriarca da família, que estava com o estresse e o nervosismo em seu pico, já que quase sempre as tarefas de organização sobravam para ela. Bom, quase sempre.

-Deixe que eu te ajudo com isso, mãe. -Neteyam, que estava descendo as escadas da grande casa com sua mochila para guardá-la no carro, viu a mulher mais velha tentar erguer uma grande caixa que parecia ter vários álbuns de fotos antigas, e prontamente se propôs a lhe auxiliar, largando os próprios pertences e indo de encontro à ela.

-Obrigada, Neteyamur. Pode colocar lá no caminhão, por favor? Preciso me certificar que não nos esqueceremos de nada. -A mulher de forte sotaque apontou para onde o filho mais velho deveria ir e esticou as costas, fazendo uma leve expressão de alívio ao conseguir fazer um barulho entre as vértebras. Coitada, realmente parecia estar cansada de todo aquele esforço, mas ainda era só o começo.

Com um aceno de cabeça e um leve sorriso compadecido, Neteyam sai se desviando da mobília parcialmente empacotada até o lado de fora da casa, onde pôde ver seu tio Norm tentar, de forma ridícula, empurrar o sofá inteiro para dentro do caminhão de mudança. Caminhando apressadamente até o mais velho, Neteyam deixou a caixa que carregava no gramado da calçada e foi até a ponta do sofá que estava para fora do compartimento de carga, arregaçando as mangas de sua camisa azul e fazendo força para tirar o objeto do chão. Após algum tempo, finalmente sentiu o pé do sofá ceder e, com a ajuda de Norm, conseguiu colocá-lo para dentro até o fim. Depois de ajustar da forma certa, o primogênito sully deu alguns tapinhas no braço da mobília e se sentou sem muito cuidado na ponta do compartimento de carga, sendo acompanhado do tio, que lhe estendeu uma garrafa de água já meio quente, que provavelmente estava lá há algum tempo considerável. O homem mais velho reparou o quanto seu sobrinho parecia aéreo a si, olhando para a linha do horizonte com uma expressão enigmática.

-Ei, pra que essa cara?- Resolveu quebrar o silêncio, pousando uma de suas mãos no ombro do garoto, que apenas suspirou em resposta. -Aposto que Lo'ak já deve estar ansioso pra ver como vai ser a nova escola.

-Claro, estou pulando de emoção. -A atenção foi roubada pelo assunto, que apareceu carregando diversos outros caixotes, empilhados de forma desengonçada um em cima do outro. As pernas do garoto pareciam tremer para se equilibrar e não deixar nada cair, mas seu rosto estava raivoso como sempre, típico de um adolescente em meio à puberdade. -Será que dá pra me ajudar, ou a princesinha vai ficar ai sentada?

-A princesinha vai ficar sentada, obrigado. -Neteyam deu um sorriso ácido na direção do irmão e esticou a coluna, suspirando aliviado com a sensação prazerosa que lhe percorreu a espinha. -Agora que lembrei, Tuk estava te procurando, disse que você pegou o fone dela.

-Deve estar é jogado entre as tralhas da Kiri, só Deus sabe o quanto o quarto delas é entulhado, cheio de plantas e pedras. -O mais novo revirou os olhos e caminhou até o carro da família, depositando os itens que carregava no porta-malas- Juro que chego a ficar com dor de cabeça com os incensos que aquela maconheira acende.

Um novo começo (Ao'nung x Neteyam)Onde histórias criam vida. Descubra agora