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Viver a vida é engraçado, e nós apenas começamos
A conseguir nossa parte dos prazeres do mundo
(Altas!) altas expectativas nós temos para o futuro
E nossa meta está à vista

(We Are Family-Sister Sledge)

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-Por que não admite que estamos perdidos, querida?-Pelos cálculos de Jake, já era a quinta vez que passavam pelo mesmo posto de gasolina. E, em cada uma destas vezes, o homem tinha a certeza de que todos os frentistas estavam caçoando de si, apontando em direção ao carro da família. -Podemos pedir informações para alguém.

-Não estamos perdidos, Jake! -Neytiri estava zangada. Zangada e cansada. Cansada de toda essa história. Haviam saído a menos de trinta minutos de casa e já estavam com problemas com localização, tudo por que o GPS que estavam utilizando simplesmente decidiu mudar o próprio idioma para coreano, e ninguém sabia mudar. Sinceramente, a mulher estava considerando dar meia volta e ir pra casa, pelo menos sabia o caminho. -Não precisamos pedir informação, temos um mapa!

-Um mapa que claramente não servirá para nada. -O ex-militar tentava ao máximo manter a calma e racionalidade, afinal não queria estressar a esposa ainda mais, sabia o quão difícil estava sendo para ela arrastar toda a família para outra cidade sem mais nem menos, fazendo os filhos largarem os amigos e escola para se tornarem estranhos entre outros jovens. -Não seja teimosa, tiri.

-Não estou sendo teimosa, estou apenas chateada por termos gastado um dinheiro ridículo com uma MERDA DE GPS QUE NÃO FUNCIONA! -Sentindo o misto de exaustão e frustração se exaltarem, a matriarca Sully deixou seus impulsos agirem, pegando o pequeno aparelho que se encontrava preso ao retrovisor frontal do carro e o atirando pela janela, por sorte não atingindo nenhum pedestre, apenas o meio fio. Os filhos, que se encontravam esparramados de qualquer jeito pelos bancos da minivan, ficaram em choque com a cena, trocando olhares entre si com expressões apreensivas e preocupadas. Queriam dizer alguma coisa para talvez acalmar o coração da mãe, mas decidiram não intervir, pois poderiam piorar a situação. Já Jake sentiu o resto de sua abençoada paciência se evaporar, fechando a cara para a mulher a seu lado, esta que encarava o volante com o olhar nublado e uma expressão de pura fúria, não parando de dirigir sabe-se-lá para onde.

-Encosta o carro. -Foi a ordem do patriarca. A contragosto a mulher o obedeceu, pois sabia que quando Jake falava assim, o carro pararia, de um jeito ou de outro. Em alguns movimentos de seta e desvios de faixa, Neytiri parou a minivan vermelha em um meio-fio qualquer. -Posso saber o que foi isso?

-Isso o que? -Com seu forte sotaque, a matriarca deu de ombros, se recusando a encarar seu esposo. Em partes por que estava envergonhada de ter deixado seus nervos tomarem conta de si e ter feito um show na frente dos filhos, mas em outras partes por que estava com medo. Medo de fracassar em seu novo emprego e ter que voltar com as mãos abanando. Medo de ter feito a familia cruzar o país por um futuro incerto. Eram muitos os motivos pelos quais Neytiri atirou o GPS pela janela, mas talvez nenhum seria plausível o suficiente para oferecer de explicação à seu marido e filhos. Sentindo a garganta se fechar e os olhos marejarem, ela apenas desviou o olhar para a janela do motorista que estava, tentando segurar grossas lágrimas que começavam a escorrer pelo rosto pardo. -M-me perdoem....

-Tá tudo bem, sa'nok. -Kiri chamou a mãe pelo apelido preferido da mais velha, esticando uma de suas mãos para alcançar os cabelos negros da mulher pelo vão da cabeceira do banco do motorista, depositando um carinho tranquilizador. A única reação de Neytiri foi fechar os olhos para apreciar o gesto de afeto, se permitindo desabar com um choro esganiçado de quem estava segurando os sentimentos por semanas.

Um novo começo (Ao'nung x Neteyam)Onde histórias criam vida. Descubra agora