Cap 03 - O cabideiro junino

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A vizinhança se preparava para mais uma festividade de São João. Todos os anos eles promoviam uma grande festa sempre no mês de junho. 

Barracas de bebidas e quitutes típicos eram improvisados nas garagens de uma rua simples, periférica, mas com um povo festeiro e acolhedor. 

Durante todo o mês as crianças da vizinhança se preparavam para a grande quadrilha que se apresentaria na grande festa. 

Naquele ano, 1995, uma criança de 09 anos se preparava para mais uma festa com seus familiares e colegas. Seu par já estava definido, o traje caipira também, e como sempre ocorria, a ansiedade de um mês frenético de preparações para que a grande festa ocorresse como planejada.

Em uma noite, após o terceiro dia de ensaios, a criança retornou para sua casa, estava se preparando para adormecer quando se viu diante de um aparato intrigante:
O cabideiro de toalhas no banheiro e pensou: - Se eu me pendurar aí, será que ele aguenta?

Com esse pensamento e cheia de coragem, a criança não perdeu tempo, enlaçou a perna direita no cabideiro e tomou impulso para trazer a perna esquerda.
Porém, o pobre cabideiro não pode com tanto, e aquela criança despencou batendo fortemente o pé esquerdo no chão.  

Onde caiu, ela ficou. 
Uma dor intensa se instalou. 
A criança se levantou sem poder apoiar o pé no chão e sem saber explicar como aquilo havia acontecido.
(Ela tinha vergonha de expor sua traquinagem)

Mas a dor não passou 
O pé não podia fincar o chão 
E ali naquele cabideiro quebrado
Descobriu-se um tornozelo fraturado.

A partir daquele dia a criança sofreu
Sofreu de dor pelo pé.
Sofreu de dor pela vergonha
E sofreu pela sua amada festa. 

Ela perdeu seu par,
Não podia mais dançar 
E do alto de sua varanda viu os ensaios acontecendo.
Mas o tempo
Ah o tempo 
O tempo que cura também curou aquele pé 
Também esperou pela criança 
E naquele grande dia
Ela também entrou na dança. 

Dentinhos da Ansiedade Onde histórias criam vida. Descubra agora