Cap. 04 - A Bela e o Cemitério

0 0 0
                                    

Não há quem possa negar, nada aproxima mais as pessoas como as adversidades, sejam as adversidades próprias da vida, ou das peripécias do destino agindo em nós. 

Bela era assim, feita das adversidades e tinha em comum com o mundo o apreço pelas proximidades. 
Ela estava em busca do sol.
Um sol além daquele que nasce toda manhã
A Bela estava em processo de rasgar e cicatrizar. 
Um processo duro e doloroso mas necessário para as mais belas cicatrizes. 

E assim ia ela, caminhando na rota do sol. Sua mente sempre em atividade, alternava pensamentos e sentimentos, e como todo ser sanguíneo e ansioso por vezes ela não via coisas a sua frente. 

Cenários podiam lhe passar despercebidos.
Já a interação de passarinhos podia cativar toda sua atenção.  
Pessoas passavam por ela sem que ela notasse, porém nunca poderia deixar um sorriso de um bebê. 

E assim, caminhando na rota, ela passou em frente ao local onde o sol se põe. Se põe pra não mais se levantar e ali atravessando a fachada daquele lugar pensou nas pessoas que ali estavam, nas vivas e nas outras também.
Cemitérios nos despertam esse pensar,
A gente esquece que está vivo. Vivemos sem saber que estamos vivos, mas basta nos deparar com a morte que tomamos noção da vida e da ausência dela.

Ali, em muitos pensamentos a Bela caminhava seguindo sua rota, quando um barulho lhe chamou a atenção para o outro lado do caminho e ali ela viu, dentro de um veículo um Belo,
eles não estavam na mesma rota,
eles não estavam nem no mesmo lado do caminho,
mas seus olhos se encontraram e no segundo que se prenderam
a Bela o perdeu de vista.

Na imensidão daquele olhar,
a Bela não viu um buraco no asfalto, não viu seu pé afundar sem chão,
não viu seus joelhos acompanhando o efeito,
e assim a Bela

Foi ao Chão!

Caiu de joelhos!

Na frente do Cemitério!

Olhando o Belo!

O Belo se compadeceu da Bela
Parou sua rota e voltou 
Na esperança de amparo a Bela
Mas a Bela
Pobre Bela
Na imensidão daquele momento
Não ousou levantar o olhar.
E ao não saber cair.
Não soube também levantar.

Dentinhos da Ansiedade Onde histórias criam vida. Descubra agora