Um ano após a guerra, Clarisse se vê injustiçada em meio a mentiras. Quando o Olimpo se reergue, ninguém parece lembrar da participação de todos os semideuses na guerra, mas apenas de Percy Jackson e seus amigos. Com uma mudança inesperada, ela é ob...
Respira. Respira. Respira. Eu ainda estava com as mãos coladas na porta que eu havia acabado de fechar. Do lado de fora, o único que homem que já gostou de mim em toda minha vida. Do lado de dentro, a última pessoa que eu queria que estivesse ali enquanto eu tentava lidar com o fato de que terminei meu namoro com Chris e provavelmente vou ficar sozinha pelo resto da minha vida.
— Droga, Clarisse! - ouvi meu então ex namorado gritar, chutando algo do lado de fora do meu chalé.
Desencostei meu corpo da porta, me virando e vendo a figura de Percy Jackson, que tentava não esboçar nenhuma reação, provavelmente com medo de como eu reagiria se ele falasse alguma coisa.
Passei em frente a ele, seguindo em direção a pequena cozinha que tínhamos ali dentro do chalé, pegando um copo de água, bebendo rápido e batendo com força no balcão enquanto me virava para ele.
- O que é Jackson? - ele piscou algumas vezes, tentando pensar no que ia dizer. Quando dizem que os filhos do mar são lentos, não estão mentindo.
— Você está bem? - bufei.
— Estou ótima, Jackson. As mil maravilhas. Foi isso que veio ver, como eu estava? - disse, irônica - Estou esplêndida. Se é só isso, pode ir. - apontei para a porta por onde ele entrou, pensando se Chris ainda estava do lado de fora me esperando.
— Não, não foi pra isso que eu... - ele parecia ter esquecido o que ia falar, me olhando confuso. - Clarisse, você tem certeza que está bem? Se quiser eu posso falar com você ou chamar alguém para vir te ajudar...
— Ah, é claro, Percy. Eu esqueci que nós dois somos melhores amigos e que você se importa muito com o que acontece na minha vida. - tentei parecer forte, por mais que suas palavras tenham me pego de surpresa.
Quem ele iria chamar? Silena não estava mais entre nós. Meus irmãos odiavam tanto a ideia de eu namorar um traidor da guerra que provavelmente fariam uma festa quando descobrissem que eu estava solteira novamente. Meu sátiro é um homem amargo de 150 anos que está fora do acampamento procurando outros campistas.
Era isso. Eu tinha a mim e a Chris.
Ou seja, eu só podia contar comigo mesma agora.
— Pelos deuses, você é impossível Clarisse. - ele disse, começando a se irritar.
— Jackson, desembucha logo o que você veio fazer aqui e me deixa em paz! - gritei, já começando a ficar exaltada. Ainda bem que nenhum dos meus irmãos estava aqui no chalé. - Eu fui te infernizar quando a Chase terminou com você? Não! Então me deixa em paz!
Eu atingi um nervo. Ele me olhou, dos pés a cabeça. Analisando cada parte do meu corpo, Percy me olhou por cima, e soltou um riso de escárnio que eu nunca tinha visto sair de sua boca antes.
— Sabe Clarisse, eu vim aqui porque sei que você não tem quase ninguém no acampamento e percebi que seus irmãos não estão nem aí para você participar ou não do Caça a Bandeira. - disse, balançando a cabeça negativamente - Vim para tentar te convencer a participar de algo que eu sei que você gosta de fazer. Mas sabe o que eu aprendi vindo até aqui? Que você não merece nem a minha pena.
Ergui meu rosto, o encarando nos olhos. Se ele achava que conseguiria me abalar falando coisas assim, ele estava enganado. Eu sou filha de Ares, o deus grego mais cruel que existe. Eu já ouvi coisas bem piores do que "eu não gosto de você".
— Algo mais? - tentei segurar as lágrimas que provavelmente cairiam assim que ele saísse do chalé. Droga, eu me recuso a deixar qualquer um me ver chorar.
— Só para sua informação, eu e Annabeth terminamos mas continuamos amigos. E eu tenho outros amigos no acampamento, quem não quer ser amigo de uma das pessoas que ajudou a salvar o Olimpo? Já você parece ter o dom de expulsar todas as pessoas que são boas contigo da sua vida!
— Ótimo, Jackson. Obrigado pela palestra de autoajuda, vou fazer questão de esquecer tudo o que você falou nos próximos minutos. - falei, sem expressar emoção. - Boa sorte no caça bandeira, sem mim, você vai precisar.
Ele bufou mais uma vez, ainda balançando a cabeça negativamente, seguindo em direção a porta. Quando já estava de costas para mim, parou e olhou para trás.
Eu sabia o que viria. Eu fiz a mesma coisa com ele há menos de 24 horas.
— Você enche a boca para falar mal de mim, para falar mal de Frank e dos nossos amigos. Mas aqui está você, Clarisse, sozinha e sem ninguém para te ajudar. Frank seria um ótimo irmão se você tivesse dado a chance dele provar que é tão filho de Ares quanto vocês. Agora, onde estão seus irmãos de sangue? Na arena, lutando e sem nem saber que você está aqui, vazia e sozinha? - ele me encarou, com pena nos olhos. A bola que se formou em minha garganta não deixava que eu pensasse em nada para falar em resposta. - Nem mesmo Rodriguez, o traidor da guerra, escolheu você como primeira opção. Eu lembro muito bem dele gritando por Mary, e não por Clarisse. - ele se aproximou novamente de mim, eu conseguia sentir sua respiração pesada enquanto aquelas palavras amargas saíram de sua boca. - Quem é Mary, Clarisse?
— Fora. - rosnei, mais baixo do que queria ter falado.
— O que é?
— Fora! Saí daqui, Jackson. Saia do meu chalé. - gritei, empurrando seu peito com força e deixando algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
Droga, eu era fraca e simplesmente estava chorando porque Percy Jackson resolveu falar o que todos pensavam sobre mim. Quantos anos eu tenho, 15?
Percy pareceu perceber a gravidade do que havia dito quando viu que eu chorava. Seus olhos, verdes como o mar, pareciam agitados enquanto ele percebia que eu estava o empurrando para fora.
— Clarisse eu...
— FORA!
O empurrei, batendo a porta com força e saindo o mais rápido possível de perto dela.
Jackson conseguiu o que ninguém além de mim mesma tinha feito nos últimos anos.
Conseguiu fazer com que eu me odiasse mais ainda.
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